segunda-feira, 9 de março de 2009

A tangerina roxa...continuação

10.

Na manhã seguinte, bem cedo, lá fui eu para os campos de girassóis, que já estavam no ponto exato da colheita, e era muito bonito de se ver. Olhar para aquele amarelo me fazia bem, lembrei que Rowena recomendara que eu deveria ingerir alimentos amarelos, pois eu sofria de disfunções que me prejudicavam seriamente o intelecto. Segundo ela, a cor amarela me recuperaria. Também disse que curaria o meu olhar, não entendi na hora o que ela quis dizer.

Conheci minha equipe de trabalho: uma mulher de quarenta anos, seu marido e sua filha jovem, que como eu tinham vindo de fora e três rapazes da região. O marido daquela mulher era o chefe da nossa equipe, e ele me passou o material de trabalho, e me pediu que apenas os seguisse e observasse como eles trabalhavam. Eles faziam aquele trabalho com total economia de tempo e movimento, porém ordenada e suavemente. Tratava-se apenas de cortar cuidadosamente as flores e deixá-las no chão . Atrás de nós vinha outra equipe dando continuidade ao processo. Depois de algum tempo observando, o chefe que se chamava Hermes me disse que eu poderia começar. Era um trabalho muito agradável, os jovens brincavam muito, faziam todo tipo de piadas, todos ríamos muito. E as flores amarelas iam ficando, como um bonito rastro, no chão. Avançávamos no mesmo sentido do sol. Imaginei como aquela cena deveria ser linda vista de cima, era como se nós estivéssemos desenhando uma linha amarela sob o sol...Deus devia estar gostando muito de nos contemplar, pensei.

Hermes usava um equipamento de fone de ouvido, e se comunicava com pessoas que operavam em carrinhos, veículos de apoio. Atrás de nós vinham as equipes que recolhiam as flores, as folhas e os restos, indo tudo para estocagem. Era uma linha de montagem doméstica mas bem ordenada. Então, deslocando-se entre aquelas posições, trafegando em faixas largas de terra entre certas distâncias, ficavam os carrinhos de apoio. Bem mais adiante eu conseguia ver outras equipes de colheita, o campo era grande, e existiam outras culturas: beterrabas, cenouras, tomates e vários tipos de legumes e verduras.

Sabem o que havia, em pequenos reservatórios com torneirinhas, afixados em suportes, entre certas distâncias? Filtro solar.

Na hora do almoço um daqueles carros trouxe o alimento, e os ajudantes montaram uma tenda restaurante com uma facilidade de espantar, e nos unimos às outras equipes e comemos ali mesmo no campo, às mesas e cadeiras especialmente montadas. A comida era farta e deliciosa. Trouxeram grandes quantidades de frutas, e pipas contendo água e vinho. Aqueles carrinhos podiam ser chamados a qualquer momento pelo chefe da equipe para trazerem, além de água e frutas, uma tenda banheiro, que era montada com enorme rapidez e facilidade. Aquela tenda banheiro era funcionalíssima, aquilo sim era coisa de outro planeta.

No momento exato em que o sol desapareceu no horizonte, Hermes deu por encerrados os trabalhos. Fora um dia de trabalho tão agradável, que eu não vira o tempo passar. Senti uma incrivel vontade de ajoelhar e fazer uma prece, e o fiz. Todos meus colegas de equipe me imitaram.

Rowena me alertara de que o objetivo da plantação em si não era tão somente a produção do alimento, nesse caso eles teriam utilizado eficientes meios mecânicos de plantio e colheita. O trabalho visava muito mais a interatividade da pessoa com a terra e o alimento. Um trabalho de doação, de amor, e portanto terapêutico.

Continua...