quinta-feira, 30 de abril de 2009

Meu Deus, como é belo...

 Doces amiguinhas e amiguinhos.

Eu tenho, pela graça de Deus, um estoque tão bom de coisas legais para contar que às vezes acabo me esquecendo, e eu já ia deixando passar esta historinha aqui.

A protagonista junto a mim foi Sandra Petri. Uma garota muito dez.

Eu vivia endividada, e sempre que ela vinha me convidar para alguma programa maneiro como um show ou um teatro eu me saia com o clássico – estou a nenhum Sandrinha...olha aqui a minha carteira, só couro de rato...

Ela foi se enchendo, e resolveu tomar uma atitude drástica. A partir de um certo dia, ela passou a me abordar sem-cerimoniosamente: - Bete, me empresta um trocado?

Ela veio pegando de pouco em pouco. Um dia era um trocado para buscar cigarros. Noutro para pagar um táxi. Ou para comprar uma revista. E eu distraída ia dando o dinheiro a ela sem nem perceber.

No final de um certo tempo, ela veio com um ultimato – quero você em casa no próximo sábado a tal hora. E sabendo da minha monumental preguiça me atirou o indicador no rosto:

- Nem pense em dar uma de louca!

Então eu fui. Sandra morava na charmosa Vila Madalena. Chegando, notei um sorrisinho no canto dos lábios de todos da casa. O carro já estava na rua, estavam todos prontos e me aguardando, ela, sua irmã Claudia, seu pai e sua mãe.

- Onde vamos, Sandra?

- Não interessa. E pode ir me dando os seus óculos.

- Como?

Pois é, ela me tirou os óculos, isso me transforma automaticamente numa inválida. Chegamos. Era um salão elegante, com mesas e cadeiras, um restaurante ou um bar, e sem os óculos não me situei, não vi o nome do estabelecimento, não sabia onde estava.

Mas havia um palco. Os instrumentos já estavam ali, a postos, ao lado dos microfones, foi o que mais ou menos eu pude ver, curiosíssima. E os Petri, sorrindo enigmaticamente para mim. E de mim.

As luzes se apagaram, Sandra me devolveu os óculos.

E ele entrou.

Ai Jesus...Ai meus sais...

Era ele.

Era o Chico.

Um detalhe: o lugar escolhido pela minha amiga foi na primeira fila, na mesa de centro. Eu estava então cara a cara com o ídolo da minha infância, das primeiras canções que aprendi a decorar, com o primeiro grande amor da minha vida, o poeta das mulheres, o sonho de qualquer uma de nós, ele, o doce, meigo, lindo e talentoso Chico Buarque de Hollanda.

O mais engraçado é que eu queria chorar, mas não podia. Não podia porque se eu chorasse incomodaria os demais, que estavam lá para ouvir o Chico, não para me ouvir chorar.

Então as lágrimas me deslizavam mansas e quietinhas, e a Sandra e a sua irmã, divertidas, iam limpando meu rosto com os papeizinhos de guardanapos.

Não é demais uma coisa dessas, ganhar um Chico Buarque de presente?

“Eu te vejo sumir por aí
te avisei que a cidade era um vão
dá tua mão...”


Gente, como eu chorei.

Onde estará minha amiga Sandra? Eu sei que ela trabalha num setor público bacana, parece que ela segura pepinos altíssimos por lá.

Deus a abençoe. Arrancou dinheiro de mim por um belo motivo.

Belíssimo, eu diria.
Meu Deus, como é belo...


quarta-feira, 29 de abril de 2009

Tipo um toque



Coisa boa, mas coisa boa mesmo, é quando você responde aquela pergunta que eu nem tinha pensado em fazer. Você às vezes fala baixinho com você mesmo, pensa que eu não vejo? Fingindo que é tipo um toque pra você, mas que no fundo (no fundo?) é um toque mesmo mas é pra mim?

É como se você tipo colocasse uma mensagem numa garrafa ao mar, aquela coisa louca de, imagina, a garrafa dar justo na minha praia? quem disse que na real isso acontece? mas você aposta, e manda uma garrafa boiando e não é que ela me encontra?

Curto demais cara, quando você tipo meio que lê meu pensamento, e meio que retira, bruxamente, como aquelas benzedeiras que já eram, as folhinhas certas dos potinhos que contém as bobagens que eu às vezes distraída vou deixando cair?

E assim devolve minhas bobaginhas pra mim reinventadas, como aquela professora de bordado, que pegava meus paninhos de prato pra arrematar com delicadeza e estilo?

Pô cara, tem hora que eu acho que tu tem parte mesmo é com o demônio. Se tu tivesse parte só com os anjos tu era muito do chato. Chato, insosso, vazio e sem surpresa nenhuma.

E sem surpresa cara, positivamente tu não é.

segunda-feira, 27 de abril de 2009

Céu de Santa Catarina

Neste sábado a Inês e o Antonio completaram uma semana vivendo felizes para sempre, imagino até que nem vai ter muita graça a vida deles daqui para frente, porque eles só terão de administrar o felizes para sempre. Mas estou contando a história de trás para frente, é que fiquei empolgada com o telefonema da Noemi.

Conheci Noemi e seu marido Bertold numa época de vacas gordas. Bem gordas. Que me permitiam frequentar sua pousada no litoral de Santa Catarina, um lugar muito bonito, visitado em sua maioria por estrangeiros. Eles faziam uns descontos para metodistas e luteranos, por conta disso pude conhecer o belo lugar. Sem os descontos não conseguiria, é coisa fina e cara.

Lá conheci o Antonio, um inglês filho de mãe portuguesa. O resultado dessa combinação era um belíssimo sotaque misto dos dois idiomas. Finíssimo ele. E também riquíssimo e solteiríssimo.

Soube pela Noemi que o Antonio trazia profundas tristezas no coração, a maior delas foi ter perdido a mãe que adorava, do que ele nunca se recuperou. Por conta disso se dizia que o coração dele nunca bateu por mulher alguma, e não ia ser pela Bete que iria bater, vou logo adiantando, antes que vocês aí fiquem suspirando.

Quem casou com ele foi a Inês, lembrem-se.

E então vou introduzir a Inês na história. Inês trabalhava na pousada, como serviçal. Ela é uma linda representante da raça negra, com corpo de brasileira no que a brasileira tem de melhor, ou seja, tudo no lugar certinho e com as curvas certinhas. Uma boneca de rosto, e de uma delicadeza extrema. E viúva. E devota de Fátima, como Antonio. Tudo isso serviu para colocar idéias na cabeça da Noemi, amiga do Antonio de longa data: Por que não? ela pensou...

Ele passa todos os nossos verões na pousada deles.

Então ela tratou de dar uma de Noemi da bíblia. Se você não conhece a história, vou super resumir: A Noemi da bíblia colocou sua nora, já viúva, no quarto de um sujeito à noite, para apressar uma situação de casamento e herança. É... isso tem na bíblia sim, veja só o que você está perdendo em não ler.

Mas continuemos. Para isso a minha amiga esperou uma bela noite de lua cheia, a altas horas. – Inês, vá por favor levar este lanchinho para o Antonio. Ela nem precisou pedir para que a Inês se perfumasse como fez a Noemi da bíblia, porque a Inês já estava bastante perfumada, coisa de brasileiras.

E ela e o Bert ficaram torcendo para que a lua cheia e a natureza fizessem o resto.

Pela demora da Inês em voltar, deduziram que sim.

O Antonio, que é um homem de bem, já foi logo pedindo a Inês em casamento, e a Inês quase caiu para trás de susto. Esqueci de dizer, digo agora, o Antonio é lindo.

Inês aceitou rapidinho, ela já vinha suspirando ao olhar para ele, só que, coitada, nem sonhava, aquilo era areia demais para o seu caminhãozinho, ela, uma empregada doméstica?

Quando o Antonio perguntou de que cor ela queria o vestido de casamento para que ele pudesse mandar buscar em Londres ela respondeu sem pestanejar: rosa chá. Aprendeu isso em alguma revista de modas, não é lindo?

As sobrinhas do Antonio, de tão encantadas que ficaram de ver o tio desencalhar, e com tão bela e delicada moça, fizeram para a cerimônia vestidos iguais, longos, vaporosos, na cor verde erva doce, como aquelas damas de filme americano. Foram buscá-la na porta do quarto vestidas assim, e levando flores, Inês ficou encantada. O casamento foi ali mesmo na pousada, a Noemi enfeitou o corrimão da escadaria principal com flores e jogou pétalas de rosa nos degraus.

Quando Inês descia as escadas precedida pelas damas, o Luti, que é filho do primeiro casamento do Bert com a Virgínia irmã do Antonio, tocou ao piano e cantou Céu de Santo Amaro, e eu aconselho a você que ouça a canção
aqui, para entrar no clima da emoção toda que rolou na cerimônia.

As alianças vieram da
Tiffany...

Se você não está acreditando em nada dessa história, não perde por esperar, porque a Noemi ficou de me mandar as fotos. O Bert e a Noemi fizeram questão de oferecer para eles uma linda festa. Dali eles foram para Fátima, abençoar as alianças, e seguiram em lua-de-mel sem data para voltar.

 Bonita esta história, não? Eu sabia que você iria gostar.

sábado, 25 de abril de 2009

Conversa fora



Nunca tive dúvida sobre isso, mas sou meio masculina em muitas atitudes. Sei lá, tipo, não sou nada detalhista...não demoro pra me arrumar...sou cuidadosa com grana...o que mais?...ah, não tenho medo de bicho não, nem de inseto. Aranha? Não, tenho medo não...Ah, e minhas amizades são mais masculinas, não tenho paciência pra papo de mulher... Futebol? gosto.

Não tenho nada disso de prato predileto, sério, não tenho mesmo, não tenho muito interesse em comida não, como para passar a fome, e só...tenho mais sede que fome, gozado, nunca tinha pensado nisso, mas é verdade...um copo colorido de suco gelado algo assim, até que me atrai mas não tenho o mesmo olhar pra tipo uma lasanha...

Sonho é complicado, sonho muito que estou fazendo faculdade de novo, o mesmo curso, aí penso assim, que bobeira, o que estou fazendo aqui, eu já me formei...mas eu só descubro isso no último ano, aí penso...já que cheguei até aqui porque não concluir, mas aí eu digo: o que eu vou fazer com dois diplomas do mesmo curso? aí eu acordo...

Não. É péssimo. Minha mãe e eu nos toleramos, ela não gosta de mim e eu não gosto dela, a gente se esforça para conviver em paz, mas tem hora que escorrega...Não, não gosto, acho uma pena, mas...

- Como? Ah, sim, entendi. Normal. Sério, normal, isso aí está bem resolvido na minha cabeça...

Possessiva? Nem um pouco, nada, nada, fica comigo se quiser ficar...

Ciumenta também não.

sexta-feira, 24 de abril de 2009

Meu amigo Zé Brandão e o cano de metal

 Essa veio de meu amigo Zé Brandão. Ele voltava do trabalho para casa trazendo um enorme cano metálico, do tamanho dele. Não me perguntem o que ele queria com um enorme cano metálico do tamanho dele, isso ele não me contou. Mas ele me contou que tomou um ônibus, e que ficou em pé no corredor. Segurando o enorme cano metálico do tamanho dele, no sentido vertical.

Ocorre que os passageiros se agarraram ao enorme cano metálico, achando que o cano fazia parte da composição do ônibus. Meu amigo que é tímido, não teve coragem de falar para as pessoas largarem o cano dele. Esperou. Esperou e veio a viagem inteira equilibrando o cano, para aquela gente toda não cair.

Chegava o término da viagem, o quê fazer? Já lhes disse que meu amigo Zé Brandão é tímido, portanto ele encontrou a solução dos tímidos. Retirou a sua mão e saiu de mansinho.

quinta-feira, 23 de abril de 2009

O escondidinho

 Precisei de pouco tempo pra entender que não era mais. Foi quando ele falou que o problema não era o escondidinho que demorava pra chegar.

E olhando pro relógio no pulso sem relógio o relógio ficou na pia, lembra, que cê tirou pra fazer a barba? - tem crédito no seu? - cê sabe que não, ja falei. Quando começamos a brigar assim por bobeira é que tamos no limite, devia ter pedido a marguerita, sempre sai na hora, ô mania feminina da conciliação, queria o escondidinho pô.

Acabou, será, o crédito da nossa paciência? a gente tinha combinado de entender qual era o nosso limite, era o momento de dar um tempo pro saco cheio um do outro, deixar pra lá essa coisa de reclamar da demora de um, tipo, escondidinho de carne seca.

Amanhã vou pra São Paulo ele disse olhando de novo o pulso atrasado, tentar de novo o negocio do estúdio ele já tinha falado isso, esqueceu. Começamos a repetir assunto repetido feito filme da tevê.

- Cê se vira como der, tá? Isso mais ou menos significando que ele não fazia a mínima idéia de quando voltaria, se é que voltaria.

terça-feira, 21 de abril de 2009

Pão sovado ou a falta de compaixão


Foi na década de oitenta, minha primeira experiência de demissão, por aí vocês podem ver como minha incompetência é antiga. Era um cargo importante e charmoso, e eu contraíra pesadas dívidas, fiquei tão atordoada que perdi literalmente o rumo de casa, acabei recorrendo a uma cabine telefônica, lembram das cabines telefônicas? Liguei para minha amiga Elisa, já lhes falei dela aqui.

- Elisa do céu, você não imagina o que aconteceu, estou desesperada, eu fui demit...

- Bete! Me aguarde que a noite irei até sua casa. Foi sua única resposta.

Oito da noite. Num fusquinha com o marido, a filhinha bebê, outro a caminho, carrinho, bercinho, sacola com tralhas, brinquedinhos, fraldas e mamadeiras, lá estava ela. Depois de ajeitar toda aquela parafernália, amamentar e sossegar o bebê, minha boa amiga sentou-se no sofá de frente para mim e disse: - agora me conta essa história. E ouviu em silêncio todo o desespero da minha explicação.

Vamos agora avançar no tempo. Década de noventa, outra experiência de demissão. O cenário é a reunião de oração da igreja metodista. Fala a Bete:

- Irmãos, quero compartilhar meu profundo desespero. Ocorre que fui demit...

- Ih, irmã, não se preocupa não: "Maior é o que está em nós do que o que está no mundo", disse uma velhota citando um versículo bíblico.

- "Em todas essas coisas somos mais que vencedores", arrancou do seu repertório de versículos decorados uma outra irmã.

- É verdade, disse o dirigente do culto. Não se preocupe não, Bete, a gente vai orar, lembre-se que "tudo posso naquele que me fortalece".

E foi assim que aquele bando de imbecis ficou na doce ilusão de que tinham me consolado, eles que nem quiseram me ouvir. Foi assim que nas bocas daqueles idiotas, aqueles belos trechos bíblicos soaram como frases ocas, vazias, meros conselhos de auto ajuda, desses que vemos nesses livretos vendidos em lojinhas de rodoviárias. Pudera, não vinham com amor. Até um papagaio aprende versículos bíblicos.

Tão diferente de minha amiga Elisa que atravessou o pesado trânsito noturno, com sua pesada barriga, com sua pesada tralha, só para me ouvir. E se envolveu comigo, ela que não sabia nenhum versículo para citar...

Há momentos em que tudo o que uma pessoa deseja é poder falar. E tudo que ela quer ouvir de volta é: que pena! que triste! você não merecia isso! que chato, estou tão triste por você...

Avancemos mais um pouco. O ano é 2008, mais uma experiência de demissão. Vocês estão anotando, não estão? Fala a Bete no Messenger com alguém: - perdi meu emprego, estou tão desorient...

- É porque você não se colocou na posição, não se colocou na frente da brecha!

Aos afortunados leitores que não conhecem as imbecilidades do jargão evangeliquês, vou explicar: defender a posição, se colocar na brecha é algo como ficar o tempo todo em oração para com isso convencer Deus a enviar seus anjos para defender você. Algo como ensinar o serviço de Deus. Pela lógica dessas antas, num exemplo, a mãe que esquece de orar por um filho, pode vir a perdê-lo num acidente, isso porque o deus deles pode se descuidar, ou então num acesso de ódio, pode se vingar dessa forma cruel. Algo muito parecido com os deuses dos povos antigos.

Entenderam? Seja na forma da tola indiferença, da descompromissada repetição de versículos bíblicos, ou na forma de acusação - o culpado é sempre você - esses novos evangélicos praticam qualquer coisa menos a religião do amor.

Pão massudo, eu sei. Fazer pão é assim, tem hora que a gente pesa a mão na massa. Mas eu lhes ofereço um cafezinho para ajudar a descer.

O maior susto que já passei

 Eu trabalhava em uma agência bancária, e estava no oitavo mês de gravidez. Parecia ser um dia como outro qualquer, mas aqueles homens entrando num grupo de seis não me pareceu nada normal, e de fato não era.

O mais velho deles anunciou o assalto, e os demais tomaram posição. Coisa aparentemente estudada, bem organizada. Um deles, um mocinho de uns vinte anos, veio até mim, colocou um revólver em minha cabeça, e me fazendo de refém foi até o vigilante, para que ele saísse da guarita e entregasse a arma. Naquele tempo o vigilante da agência ficava numa espécie de casinha redonda fechada. Era ponto fundamental conseguir a rendição desse homem, pois ele detinha uma arma e os botões de alarme, e também porque os bandidos sempre querem conseguir mais armas.

O vigilante, claro, não queria sair, ele estava seguro onde estava. Corria contra ele também o fato de que, se saísse, poderia ser punido pelos seus superiores, fora o risco de perder a vida.

Formou-se um impasse. Os que já estavam posicionados, vendo que a coisa não estava dando certo, vieram todos para cima de mim, ameaçando que se o vigilante não saísse, iriam me matar. Estavam muito nervosos.

Aquela gritaria e ameaças só faziam o vigilante, que não passava de um rapazinho manter ainda mais sua posição de não sair. A coisa ameaçava entrar num perigoso descontrole. Assumi o comando da situação. – posso falar com ele? Os bandidos concordaram.

Com voz calma, chamei o moço pelo nome e pedi que saísse. Disse que nada aconteceria com ele. Não sei de onde tirei aquela certeza.

O moço saiu, entregou a arma, e o assalto continuou “normalmente”, mas o que quero lhes contar vem agora:

O rapazinho que me rendeu, que me sacudiu, que gritou para mim, uma grávida, com a arma apontada para a minha cabeça, ao ver o impasse resolvido sorriu e me disse:

- Fique calma, dona, a senhora está grávida, vai sentar. Olha, não vai acontecer nada com a dona não... e me conduziu até uma cadeira. Era um lindo rapazinho mulato de olhos cor de mel.

Sorri para ele e fui sentar. Realmente não aconteceu nada comigo.

Esta história é para mim a prova autêntica de que pessoas erradas também fazem coisas certas. Um perigoso bandido saiu da sua posição de alta periculosidade e se tornou um confortador. Gosto desta história, e concluo também pelo reverso da coisa: pessoas certas também fazem coisas erradas.

Contei isso num contraponto, ou explicação, à postagem “O trem tá feio e é bem por aqui”, que a meu ver não foi bem compreendida pelos meus queridos. Eu lá não me queixava da criminalidade, isso já são favas contadas. Eu me queixava de ações cruéis praticadas por pessoas aparentemente normais. Leia novamente que entenderá, claro, se estiver interessado.

Mas a bem da verdade, foi uma queixa desnecessária. Pessoas certas fazem coisas erradas, pessoas erradas fazem coisas certas, pessoas certas fazem coisas certas e pessoas erradas fazem coisas erradas. Tudo muito normal, tudo muito inerente à nossa condição humana, e todos nós somos alternadamente certos e errados. Não sei em vocês, mas eu posso afirmar com total segurança que moram um anjo e um demônio aqui.

Pois.



 

domingo, 19 de abril de 2009

O maior mico que já paguei

Aos lusos: pagar o mico = vivenciar uma situação ridícula, passar vexame.

Eu voltava de Belzonte com minha mãe e meu filho pequeno. Naqueles bons tempos, eu tinha mania de viajar de avião vestida inteiramente em traje social. Bons tempos mesmo. Hoje eu não tenho nem traje social, quanto mais dinheiro para viajar de avião.

No hotel em que estivéramos hospedados, meu filhote se encantou com o frigobar e as latinhas de refrigerantes, não, ele não se encantou com os refrigerantes, ele se encantou foi com as latinhas mesmo. Eu era mãe natureba, meu filho só tomava suquinho disso, suquinho daquilo, refrigerante era algo que ele desconhecia, e muito menos as tais latinhas.

Tive de tomar todo o conteúdo das latinhas, para que ele pudesse trazê-las para casa, encantado. Coloquei todas numa enorme sacola de plástico, pois ele não permitiu que elas viessem na mala, ele as queria junto dele.

Chegamos no saguão do aeroporto. Um detalhe, se é que isso é detalhe: minha mãe tinha comprado para ele, numa feira de artesanato genial que havia por lá, um enorme balão, ultra colorido, em formato de dedão, sabem aquele sinal de positivo? Um enorme dedão colorido do tamanho dele, era lindo o desgraçado do balão.

Mas na chegada ele não quis segurar nem o balão e nem as latinhas, e teve uma crise de manha. Eu fui uma mãe muito paciente, nunca em hipótese alguma perdi a calma com ele, sou assim até hoje. Tudo bem, segurei aquela tralha toda, e o peguei no colo pra ver se a manha dele passava. Mas eu derrubei todas as latinhas no chão, umas cinquenta.

Pim-pim-pim-pim-pimmmmmm no enorme saguão de cerâmica nobre do Aeroporto de Confins, um barulho e um evento que eu gostaria de poder reproduzir para vocês agora, em câmera lenta. Eu mesma gostaria de ver hoje a cara que eu fiz. O choro dele aumentou. Lá fui eu pegar as latinhas, então vamos desenhar a cena para vocês:

Uma mulher em saia de linho justa, blusa de seda, saltos altíssimos, bolsa de grife, penteada, perfumada e maquilada, catando latinhas no chão, e novamente o detalhe: segurando um enorme dedão colorido.

Vocês pensam que acabou? Nãããão! Eu usava um enorme colar de três voltas feito de pedras mineiras, lindíssimo. Que rebentou. Todas as pedrinhas também se espalharam pelo saguão.

E todos os passageiros passaram a me ajudar, até as crianças. Olha aqui moça (naquele tempo eu ainda era moça), olha uma pedrinha! Olha, mais uma! Olha moça, peguei uma latinha! Olha aqui, outra!

E eu desejando que o chão do aeroporto se abrisse aos meus pés, reunindo latinhas, pedrinhas, segurando bagagem, balão e filho ao colo, embarquei asinha, sem olhar para trás.

sábado, 18 de abril de 2009

O trem tá feio e é bem por aqui

Quando o noticiário dá conta de horrores praticados pelo baixo mundo, embora eu fique chocada como a maioria dos cidadãos, ainda assim sei que isso é de se esperar. Perpetrar horrores é da natureza do bandido. Se um bandido entrar em minha casa, é uma situação de horror que devo esperar.

Mas o terrível, o difícil mesmo, é ver situações de insensibilidade e crueldade onde elas não deveriam estar.

O trem está feio, e é bem por aqui.

Procurei debalde a música para mostrar a vocês, não encontrei. Se você encontrar, por favor mande para cá. Fique com a canção de Tavinho Moura e Murilo Antunes.

O trem tá feio

Disse que aqui mais nada é de graça
Nada é de coração
Vamos num tal de toma-de-lá dá-cá
Minha nega eu pago pra ver
Ver por debaixo o osso do angu
Disse que aqui mais nada tem troco
Tudo o que vai não vem
Perdem bodoque, facão corneta
Quebra a defesa nega fulô
Que o trem tá feio e é bem por aqui

Meu facão guarani quebrou na ponta
Quebrou no meio
Eu falei pra morena que o trem tá feio
Iá, iê, iá, oiá
Meu facão guarani quebrou na ponta
Quebrou no meio
Eu falei pra morena que o trem tá feio
Iá, iê, iá, oiá

E a cana-caiana eu disse a raiva
A carne de sol
Palha, forró e fumo de rolo
Tudo é motivo pra meu facão
Arma de pobre é fome, é facão
Abre semente, aperta inimigo
Espeta até gavião
Corta sabugo e lança um desafio
Não conta nem até três
Que o trem tá feio e é bem por aqui

Meu facão guarani quebrou na ponta
Quebrou no meio
Eu falei pra morena que o trem tá feio
Iá, iê, iá, oiá
Meu facão guarani quebrou na ponta
Quebrou no meio
Eu falei pra morena que o trem tá feio
Iá, iê, iá, oiá

sexta-feira, 17 de abril de 2009

O professor, a japonesa e os abacates

 Esta história você irá gostar. Um certo amigo meu estava no Japão, num museu cujo nome não me lembro, e lá ele queria fotografar uma fórmula matemática cujo nome também não me lembro, e também não vem ao caso. Ele é professor.

Era proibido fotografar. Claro que brasileiro não leva a sério essa palavra, então ele tentou fotografar escondido. Mas uma terrível japonesa, verdadeira guardiã do templo, passou um pito nele cuspindo uma série de palavras cheias de iti iti iti.

Isso não o fez desistir. Todos os dias ele voltava lá, com a câmera escondida, e a japonesa como que surgia do nada:

- Iti, iti, iti, iti! Nervosíssima.

Meu amigo, vendo desesperado que sua viagem chegava ao fim pensou: será que eu vou ter de matar essa japonesa? Porque ele estava decidido a voltar para o Brasil com a fotografia da fórmula.

A viagem chegava ao fim. Desespero. Uma última tentativa. Em vão, lá estava a terrível japonesa. Mas ela estava com um vago sorriso nos lábios, veio na direção dele e pronunciou em bom português:

- Abacate?

Sim, meus queridos, abacate. A japonesa como todo mundo tinha o seu preço, e o preço eram abacates, que ela queria não para comer, mas para passar no rosto, conforme explicou um intérprete. Se bem que, segundo o meu amigo, no caso dela o abacate no rosto não resolveria muito.

O meu amigo não perdeu a oportunidade de se vingar. Através do intérprete disse:

- Olha, diga o seguinte a ela: que abacate no Brasil é uma fruta muitíssimo rara. Que fica em local de difícil acesso na floresta amazônica. Que somente os índios uca-uca-uca conseguem chegar até lá, e que portanto é caríssimo. Mas diga a ela que eu vou tentar...Ele conta que a moça sorriu numa expressão de gosto...

E ele saiu correndo atrás de um telefone, naquele tempo não existia telefone celular. E passou a missão para sua secretária. Em quarenta e oito horas lá estavam os difíceis abacates, conseguidos certamente com risco de vida pela boa secretária...

E ele voltou com a fórmula, e no avião enquanto lembrava, pensou:

- Sua besta!...

Estou contando isso porque os abacates estão lindos e “de dar com o pé”, hoje vi na feira uma bacia cheia de abacates por dois reais. Felizmente não precisamos de índios uca-uca-uca, e você pode fazer um creminho: bata a polpa de um abacate com 2/3 de copo de leite e açúcar no liquidificador, não muito açúcar, para não perder o delicioso sabor do abacate. Vá colocando aos poucos o abacate, porque senão obstrui as pás. Bata até obter um creme. Coloque em tacinhas e leve ao congelador por trinta minutos antes de servir. Tem gente que coloca limão, mas eu detesto uma coisa com gosto de outra coisa, como dizia Mário Quintana. O único problema de não colocar limão é que você precisa consumir tudo de uma vez, porque abacate ao contato com o ar oxida.

“Pretéja...”
Este blogue está virando espaço culinário não? É a crise.

segunda-feira, 13 de abril de 2009

Receita de nhoque

 A situação da despensa aqui em casa é a seguinte: zero de azeite, zero de farinha. Gastei o finalzinho que tinha nos nhoques que fiz no sábado, você sabe fazer nhoques? É fácil, para seis batatas bem cozidas amassadas, um copo americano de farinha. Uma colher de sopa de manteiga. Sal. Eu coloco um fio de azeite, fica cheiroso.

E coloque a mão na massa. Existe batata mais seca e batata mais aguada, voce precisa sentir isso com a mão, para saber se deve colocar mais farinha. Quando a batata é aguada a massa fica grudenta, coloque mais farinha.

Numa superfície enfarinhada você vai montando os rolinhos de massa e cortando os travesseirinhos, não tenho paciência para maquininha de fazer nhoque não, é uma coisa a mais para lavar, prefiro lavar as mãos.

Para cada seis travesseirinhos que faço eu como um.

Aí voce os joga numa panela com agua fervente. Eu uso a mesma agua em que cozinhei as batatas, eu cozinho as batatas descascadas para economia de tempo e gás. Quando os travesseirinho sobem estão prontos, tire rapidamente com a escumadeira. Vá colocando num escorredor de macarrão.

Para cada seis travesserinhos que tiro da panela eu como um, eu tenho o péssimo hábito de comer enquanto cozinho.

Depois de cozidos eu os lavo rapidamente na torneira mesmo, isso é para separar os que estiverem grudados.

Aí é só colocar numa travessa e jogar por cima o molho de sua preferência e polvilhar com queijo ralado que deve ser de boa qualidade para não comprometer o processo todo. Dá para duas pessoa com fome ou três comportadas.

Agora atenção: quer me irritar é vir com comentários do tipo "eu sou uma negação na cozinha rsrs...", já foi o tempo em que era considerado originalzinho e engraçadinho não saber cozinhar, se liga, creio que todos devem saber minimamente se defender frente às panelas, isso é básico.

Enfarinhe-se. Depois venha me contar como foi.

sábado, 11 de abril de 2009

Ressuscita-me!


O endereço daquele lugar não se encontra em nenhum site de buscas, e nem o seu telefone em nenhum catálogo. Também não adiantaria telefonar: informações, só pessoalmente.

Ali não se aceita cheque e nenhum tipo de cartão de plástico: dinheiro, apenas.

Ali não se vê homens. As mulheres que ali chegam estão por vezes sós, ou acompanhadas de uma discreta amiga, essa praticando a milenar e sofrida solidariedade feminina.

Na sala de espera daquele lugar as mulheres não se falam, aguardam de olhos baixos, silenciosas. Falar o quê?...

Ali pode-se ter a opção de declinar um nome falso, causando muitas vezes confusão:

- Teresa, a próxima! Teresa!

- Ah, sim, Teresa sou eu, levanta-se Maria, o coração num salto.

Lá, anjos de morte de frias mãos enluvadas rapidamente amaldiçoam a vida, que se esvai pelos ralos sem nem mesmo a desumana piedade de uma rápida prece. É esgoto, foi.

Ali o que outrora fora um abençoado casulo de vida, rapidamente se transforma em oca presença da morte. E é o fim.

Mas é dali também que renasce a centelha de esperança. O arrependimento, que chega tarde mas não tarde demais, instila a pequeníssima fé de que as coisas poderão mudar.

E ela acaricia o ventre murcho, mas sabe que a vida voltará, há esperança, sim, há! seu ventre ainda é vivo, a vida há de reencontrar o seu curso.

E renascerá.

quarta-feira, 8 de abril de 2009

O Velho Chico e eu


Puxe uma cadeira que eu vou lhe servir café com um pão quentinho que acabo de fazer e que certamente irá lhe agradar muito. É uma história bacaninha que eu estava guardando para um momento de crise, e acredite, este blogue está num sério momento de crise.

Foi quando eu ganhei um rio de presente, sim, isso mesmo que você ouviu, eu ganhei um rio de presente, você já está começando a se interessar não é?

Eu tinha dezoito anos, e a protagonista comigo nessa história se chamava Arlete Pedrosa Lima, uma colega de ginásio, ela era mais velha que eu. Ela era mais velha, porém estudávamos juntas, o que significava que ela tinha repetido de ano. Mas isso estava longe de ser um motivo de vergonha, as moças repetentes tinham status, e nós, as novatas sentíamos por elas um misto de admiração e respeito. É que elas já sabiam o jeito de pegar na coisa, sabiam de detalhes do ano letivo que nós as novatas não sabíamos. A Arlete era extremamente inteligente, nem entendo como ela repetira de ano. Era dessas moças com papo cabeça, respostas cultas, tudo o que eu queria ser e não era. Fiquei sua amiga.

Mas ela se casou e foi embora para uma cidade chamada Januária, e de lá passou a me escrever. Numa dessas cartas ela me disse: Betinha, venha me visitar. Eu aos dezoito anos era uma jovem muito independente, simplesmente comuniquei a família, fiz a mala e fui, e aqui o detalhe:

Dormi nas aulas de geografia. E nas de história. E de português, e de inglês e matemática, dormi, enfim. Naquele tempo eu já era bipolar, só que não diagnosticada. Não conseguia prestar atenção em nada, e só passava de ano porque tinha uma incrível velocidade de leitura. Às vésperas da prova pegava o caderno de alguém, e aprendia o suficiente para fazer a prova, para logo em seguida esquecer.

Estou contando isso, porque ao fazer a mala e partir para Januária, eu não cheguei a cogitar das distâncias, não olhei em nenhum mapa, não sabia onde a cidade ficava e nem perdi meu tempo com isso. Achava que era logo ali. Fui.

E dá-lhe estrada. Uma noite. Um dia. Outra noite. E eu tranqüila como só poderia ser tranqüila uma jovem completamente sem juízo.

No meio da última noite, todos os passageiros desceram para o que me pareceu ser uma parada, mas eu resolvi ficar no ônibus. Foi quando uma senhora me chamou:

- Ei, paulista! Você não vai descer para ver o rio?

- Rio?! Pois é. Quem dorme nas aulas de geografia não fica sabendo que no caminho para Januária existe nada mais nada menos do que o rio São Francisco. Vagamente me lembrei de algo como “rio da unidade nacional, aquele que nasce e deságua totalmente em solo brasileiro, com 2830 metros de extensão”, fui me lembrando de ter estudado algo assim...

Mas uma coisa é aprender nos bancos de escola, outra coisa é ver. E lá estava eu, em cima de uma balsa, de frente com o Velho Chico, e não podia acreditar que aquela imensidão de águas existisse. Eu que de rio só conhecia as tristezas paulistas chamadas Tietê e Tamanduateí, olhava para a minha direita, olhava para a minha esquerda e dizia: geeeeente....

Se eu tivesse consultado um mapa antes de viajar, teria saído sem dúvida mais instruída, mas não teria o impacto daquela emoção inesperada, caindo do céu, surgindo na minha frente sem nenhum aviso, um rio! O rio mar! Ali, inteirinho na minha frente, sem me avisar.

Hoje me recordo daquele presente inesperado e sinto saudades, e não só do Velho Chico, não só da graciosa Januária e minha querida amiga de infância. Sinto saudades, também, e muitas, da meninota que não pensou, não fez contas, não mediu distâncias, não olhou no mapa, não procurou dificuldades, fez a mala e foi.

Hoje quando a Alice me chama para ir a Ubatuba, a Danilinha insiste para que eu vá ficar com ela em Rio Preto, ou meu amigo João Batista lá de Araraquara me fala, Betinha, vem, passa o dia aqui com a gente, eu fico: mas....mas, e a passagem, e a ida, e a hospedagem, e a volta, e...e....e....?

Os muitos "mas" que me impedem de simplesmente fazer a mala e ir.

Os muitos “mas” que me impedem de ganhar novas paisagens de presente, novas montanhas, novas praias, novas cachoeiras e novos rios...

Ah, mas isso vai mudar, ora se vai. Sinto que aquela meninota está se agitando aqui dentro pedindo de novo para viajar, com vontade de novas atitudes irresponsáveis, com vontade de se surpreender com novas estradas e inesperados rios...

- "Moçô, me dá uma passagem pra Januária?..."

Velho Chico, vens de Minas
Onde o oculto do mistério
se escondeu
Sei que o levas todo em ti
Não me ensinas
E eu sou só,
eu só,
eu só,
eu.
(Caetano Veloso)

domingo, 5 de abril de 2009

Se essa rua fosse minha


Que atire a primeira pedra:

Quem já não instalou o Google Earth, e na seqüência saiu procurando, primeiro a casa em que mora.

Depois, os lugares conhecidos.

Por último – porque será que a gente sempre deixa por último – a casa de quem se ama?...

O que será que a gente espera ver? A pessoa lá dando xauzinho?

- Olha eu aqui...

Mas a gente quando ama, ama também a casa onde mora a pessoa que a gente ama. A rua...

Não havia um musical onde um personagem cantava uma música que falava da ”rua onde você mora?”
Amor...esse sentimento bobo que a faz a gente cometer esse tipo de bobice...

Primeira carta de Bete a São Paulo

Quando eu era menina, agia como menina. Ficava horas frente ao espelho, aquilo me fascinava.

Mas não confio em espelhos, nunca confiei.

Minha mão direita é minha mão esquerda no espelho, e isso me desconcerta, sempre.


Por isso me busco tanto em Deus. Não para que me prolongue a vida, não para que me dê facilidades, não para que me livre das encrencas onde sem sua ajuda me meti.

Mas para que me revele onde está minha face sem avesso, aquela que ninguém vê.

Se eu estender as mãos a alguém como os noivos fazem no altar, minha mão direita tocará a sua mão esquerda, e essa pessoa então é o avesso de mim.


Não, não quero oferecer minhas mãos nesse altar, mesmo que o espelho seja tão belo a ponto de refletir o melhor de mim. Não quero meu avesso, quero minha plenitude.

Deus não tem mão direita, eis aqui sua mão direita. Deus não tem mão esquerda, eis aqui sua mão esquerda.


 Minha vida somente encontrará sentido quando os espelhos deixarem de existir.

Infelizmente hoje nos vemos como num espelho, Paulo. Um dia veremos face a face. Meus olhos direito e esquerdo serão os olhos direito e esquerdo seus.