sábado, 7 de dezembro de 2013

O exílio de Theo



Uma beleza inesperada, de Luciano José de Lima



Numa prateleira, no fundo de um sebo das imediações da Sé, em São Paulo, encontrei um livro em capa de couro flexível, parecia uma velha agenda. Ao abrir a primeira página li: “Diário de Theo”, com um endereço para devolução em caso de perda.

Antes de seguir para o balcão, abri uma página a esmo e comecei a leitura:
“Lembrei-me de um sábio que disse ser o exílio uma situação na qual o corpo não pode acompanhar o desejo. Então reconheci o nome da saudosa sensação que me habita(va). Por isso tomei o diário e, sobre a velha escrivaninha, comecei a pintar com palavras um quadro de meus sentimentos, de meu exílio.

A tarde se acinzenta e no vazio vespertino você emerge em minha memória, sempre bela. Penso em procurar uma fotografia sua, como um religioso em busca de imagens que dê pictórica face à sua devoção. Mas precisava de algo que sinalizasse que um dia você voltou-se para mim, sentir que em algum momento fui alvo de sua atenção. Foi aí que me percebi lendo velhas mensagens trocadas em tempos há muito distantes. Era bom recordar (trazer ao coração, como versa a etimologia) que você já dissera meu nome. Assim me consolava a escrita, como um eco da sua voz, que, tomando conta desse silêncio que mora em mim, me levava a alma num passeio.

Minha última esperança era um bilhetinho no qual você prometia me encontrar naquele café no qual te esperei naquele dia. Voltei lá depois, tantas vezes. Na prática de um ritual, tão pontual quanto o canto gregoriano rezado nas vésperas no mosteiro, em cujo relógio meus olhos pousavam tristes, acreditando que em algum momento seria surpreendido pelo seu sorriso. O mesmo bilhete ainda marca páginas de seus poemas preferidos, grifados com minha caneta preta, no livro que havia comprado e que nunca te entreguei...”

Fechei o diário com o olhar marejado e vi que estava datado dos anos oitenta. Imaginava como podia a dor por alguém desconhecido me atravessar como uma espada. Perguntei à dona do sebo se ela sabia do que se tratava. Ela contou-me que pertencera a um rapaz e que ficou no guarda volumes de achados e perdidos da antiga linha de trens Sorocabana, sediada na Estação Júlio Prestes. E que no endereço citado, já não morava ninguém conhecido.

Senti aquela ausência como minha. Logo eu, tão carrancudo, descobri um senso de solidariedade. Chorei por Theo, chorei por Sophia, chorei por mim mesmo...

Luciano José de Lima


domingo, 1 de dezembro de 2013

As estrelas vão me guiar...




Se eu não te amasse tanto assim

Meu coração, sem direção
Voando só por voar
Sem saber onde chegar
Sonhando em te encontrar

E as estrelas
Que hoje eu descobri
No teu olhar
As estrelas vão me guiar

Se eu não te amasse tanto assim
Talvez perdesse os sonhos
Dentro de mim
E vivesse na escuridão

Se eu não te amasse tanto assim
Talvez não visse flores
Por onde eu vim
Dentro do meu coração

Hoje eu sei, eu te amei
No vento de um vendaval
Mas fui mais, muito além
Do tempo de um temporal

Nos desejos
Num beijo
Que eu jamais provei igual
E as estrelas
Dão um sinal

Se eu não te amasse tanto assim
Talvez perdesse os sonhos
Dentro de mim
E vivesse na escuridão

Se eu não te amasse tanto assim
Talvez não visse flores
Por onde eu vim
Dentro do meu coração

(Paulo Sérgio Valle / Herbert Vianna)