domingo, 31 de agosto de 2008

Eu não me emociono com o hino nacional

 O Brasil é lindo? Não sei, não conheço. O Brasil que vejo da janelinha do ônibus seguido do metrô que tomo todos os dias, ida e volta, é um horror: feio, cinza, sujo e triste. A praia de Copacabana com sua magnífica orla em formato de C? O Cristo Redentor, braços abertos, cansado de esperar por mim? Os índios da Amazônia, dançando tu-tu-tu, pintadinhos e enfeitadinhos para a globo filmar? Não, não conheço não, nunca vi, só na telinha da globo mesmo. O meu dinheiro não dá nem para chegar ao aeroporto, quanto mais a esse tal de Brasil aí.

O povo brasileiro é maravilhoso? Sei não...tenho levado cotoveladas nada maravilhosas desferidas a mim por brasileiros mal humorados e mal educados, todas os dias, nos metrôs da vida. E tenho sido vítima também, de uma nova brincadeira, ou melhor, um ato de sadismo praticado por motoristas brasileiros de várias idades e classes sociais, que é o de jogar o carro deliberadamente em cima do pedestre, mesmo quando estão a longas distâncias de nós, só para nos assustar, nos humilhar talvez, porque nesta pátria, pedestre é cidadão de segunda categoria.

O hino nacional brasileiro é lindo? Para ô! A música do nó suíno é muito parecida com a Marselhesa para o meu gosto, essa sim uma música de rara beleza. Não é preciso nem conhecer música para se chegar a essa conclusão. Ouça uma, depois ouça outra, você verá que o tum tum turum turum do nosso virundum é cópia mal feita, barata, vulgar, macaqueação, do belíssimo hino francês. E não vou nem perder tempo em falar da letra que ninguém entende, pergunte para o primeiro brasileiro que encontrar pela frente quem ouviu o quê e onde...

Ah, mas a bandeira brasileira é linda...O quê? Tem certeza? Eu posso estar errada, mas sempre achei que verde não combina de forma alguma com amarelo, só fica bem mesmo em passarinho, e um losango amarelo em fundo verde é coisa ginasial demais não é não? e ginasial dos tempos de antanho, que fique claro, porque se mandarmos hoje um garotinho ou garotinha de oito anos desenhar uma nova bandeira, eles o farão bem melhor, e no computador! E falando em bandeira, nosso povo só lembra dela em época de copa do mundo, e falando em copa do mundo...deixa pra lá, eu nem vou perder tempo falando da nossa seleção de riquinhos comandada pelo técnico Dengoso...

E já que o povo ama tanto a bandeira, experimente perguntar a qualquer brasileiro amante da bandeira se ele conhece o Hino à Bandeira, essa sim uma bela canção, com letra de ninguém menos que Olavo Bilac?...

Bom, vocês já repararam que hoje estou com a macaca, não repararam? Então vamos lá, traga mais um ícone nacional pra mim.

Com o mau humor que estou hoje, eu quebro nos dentes.




 

terça-feira, 26 de agosto de 2008

Casabranca





Adoro ver certos finais de filme, quando já estão aparecendo os letreiros com os créditos, e um narrador vai contando como cada personagem da história acabou. Sempre há um azarão simpático que se dá bem, ou ele casa com a mais bela da rua, ou ele vai morar num lugar fenomenal, algo assim bem especial. Eu queria ser esse azarão simpático.

Por conta disso sempre quis viver uma cena final de filme, estou cansada do dia-a-dia do meu roteiro, queria um dia de final feliz!

Minha vidinha não podia acabar assim, desse jeito besta...

Então vamos lá. O bom de um blogue é que a gente pode escrever todas essas maluquices, e o que é mais fantástico ainda, é que vocês lêem e dão palpites simpáticos, já falei isso aqui.

Meu filme então acabaria assim:

A Bete? A Bete está morando numa casinha lá na Marambaia, fica na beira da praia, só vendo que beleza. Na entrada dessa casa tem uma trepadeira, que na primavera fica toda florescida de brincos de princesa. Quando chega o verão, a Bete senta na varanda, pega o violão e começa a tocar. E o moreno dela que está sempre bem disposto (essa é melhor parte, o moreno bem disposto) senta ao lado dela e começa a cantar.

Vocês pensam que é só isso? Não, tem mais. Quando chega a tarde, um bando de andorinhas voa em revoada fazendo verão. Ela mora perto da mata e lá na mata um sabiá gorjeia uma linda melodia pra alegrar seu coração. Todo dia, às seis horas, o sino da capela toca as badaladas da Ave Maria. E para completar esse lindo quadro, a lua nasce por detrás da serra, (tem serra!) anunciando que acabou o dia!

E The End, 20th Century Fox, Dolby Digital, Kodak, aquela coisa toda.


Escrita livremente sobre a canção “Marambaia”, de Henricão e Rubem Campos.

domingo, 24 de agosto de 2008

Elias expresso

 Elias passou por aqui. Disse que estava a fim de uma rapidinha.

Ca-ca-ca-calma! Não é nada do que vocês estão pensando, ô povo malicioso!...

Acontece que Elias andou visitando outras viúvas, e voltou escolado.

- Filha, é verdade que vocês agora cozinham numa caixinha branca? O pobre nunca tinha ouvido falar em forno de microondas.

Na verdade eu estava mesmo pensando em ensinar algumas coisas para ele, só que andava meio sem jeito. Já faz algum tempo que estava tentando criar coragem para dizer que a gente não usa mais azeite para fazer pão. Mas como eu esbarrei num probleminha, que foi o de não saber explicar o que é margarina – porquê eu mesma não sei o que é isso – desisti de seguir adiante. Dizem que realmente é bom mesmo não saber o que é margarina.

- Sim, seu Elias, a gente coloca a o alimento aqui, aperta essas teclinhas aqui, e tudo fica pronto num instante. Ele me olhava maravilhado. Tive que provar, então preparei para ele uma refeição ligeira.

Elias adorou.

- Quer dizer então, filha, que todos os alimentos agora vocês cozinham aqui, nessa caixinha?

- Bom, seu profeta, veja bem: cozinhar, cozinhar, a gente não cozinha não. Essa caixinha branca a gente usa para esquentar um leitinho com café, derreter um queijinho para colocar no pão, aquecer um prato de comida, coisas rápidas assim.

- Admirável mundo novo! bradou o profeta.

De tão admirado que ficou, Elias me tascou uma profecia:

- Eis que o leitinho com café, o queijinho e o prato de comida do seu microondas não acabararão. Falou assim mesmo, não acabararão.

Após limpar com pão o restinho do prato, Elias se levantou, ajeitou as pregas de sua túnica (ainda não tive coragem de explicar pra ele o que é um jens) e se despediu. Disse que tinha muitas viúvas a visitar.

Quando ele voltar talvez eu conte para ele o que é pão Wickbold.


 À Neli Araújo

segunda-feira, 18 de agosto de 2008

O banco central

 Há algum tempo atrás eu prestei concurso para ingresso no Banco Central do Brasil. Tomei fôlego, juntei umas economias para a inscrição e o material de estudos, uma amiga me arranjou uns livros de Direito, e eu tratei de levar aquilo a sério. Chegava em casa por volta das oito da noite, tomava um banho, jantava, assistia ao Jornal Nacional como parte do preparo – de caderno em punho anotando as notícias de destaque, e em seguida abria os livros e ia até meia noite. Isso todos os dias. Nos finais de semana, após terminar todas as tarefas da casa, ia para os livros também.

Comecei até a gostar. Fiquei craque em Direito Administrativo. Gostei muito de Direito Civil. Também passei a entender melhor a máquina administrativa brasileira, as atribuições do presidente da república, do executivo, legislativo, judiciário, coisas que eu ouvia na televisão mas que não sabia muito bem como funcionava. Entendi os meandros das aprovações das leis. Entendi dos direitos e deveres dos funcionários públicos. Aprendi sobre normas de segurança, e gostei até mesmo daquelas questões de pega bobo, as tais questões de raciocínio lógico.

O salário seria bom, algo na casa dos três mil dólares. Meu filho poderia freqüentar uma boa faculdade. Eu voltaria a usar terninhos e echarpes, que adoro. Almoçaríamos em bons restaurantes vez ou outra. Poderíamos ir a teatros, cinemas. Eu voltaria a comprar discos e livros. Uma tevê de boa definição também viria a calhar. Viajar. E como sou econômica, poderia fazer uma poupança com vistas a uma possível viagem ao estrangeiro, ou talvez para comprar um carro.

Como sou meticulosa, fui ao local do concurso um dia antes, até porque seria no bairro Santa Cecília, que não conheço bem. Uma vez por lá, aproveitei para conhecer inclusive a classe onde seria a prova.

Então para o serviço ficar completo, fiz ali uma contudente oração. Creio que foi a oração mais emocionada que fiz nos últimos tempos. Não pedi nenhum milagre, afinal eu tinha estudado. Pedi apenas que o Pai desse uma aclarada nas minhas lembranças, enviasse talvez um anjo ou dois para ajudar a ordenar minhas idéias...alguma coisa básica assim.

Falei das dificuldades dos últimos tempos. Não falei nada do terninho. Falei da faculdade do meu filho.

Minha classificação não foi das piores. De um total de vinte e dois mil inscritos, a minha foi a de número 2722. Boa, mas insuficiente para classificar.

Não foi dessa vez que voltei a usar
terninhos. Creio que continuarei comprando minhas roupinhas aqui. E meus livrinhos aqui. E almoçando aqui.

quarta-feira, 13 de agosto de 2008

Eu venho como estou

Délia Ferraz Fávero foi uma das primeiras mulheres brasileiras a se formar em medicina. Ela morava na Rua São Carlos do Pinhal, atrás da Avenida Paulista, e quem apertava sem-cerimoniosamente a campainha do apartamento dela era eu, aos quinze anos. Trazia um recado de minha mãe, que a conhecia da igreja presbiteriana.

A porta se abriu, fui atendida pela distinta senhora. E antes de dar a ela tempo de falar, já fui entrando no assunto:

- Doutora Délia, minha mãe me mandou aqui e... A boa senhora me atalhou, franqueou a porta e disse:

- Entre, Elizabeth. É bom você sentar, e descansar.

Eu me assentei, e voltei à carga:

- Então, doutora Délia, minha mãe quer saber se....

- Você aceita um copo de água, Elizabeth?... está calor, não está?...

Embora desengonçada nos meus quinze anos, eu tinha recebido alguma noção de boas maneiras de minha professora de escola dominical e tia Amélia. Rapidamente vi que estava no mundo dos adultos, e entendi que devia me comportar melhor. Aprumei-me na poltrona, estiquei a barra da saia, assentei-me com mais elegância e respondi que aceitava o copo de água sim, e obrigada.

Então a distinta dama passou a me fazer várias perguntas. Na verdade ela tratava de me sossegar. Como estavam todos lá em casa, como andavam meus estudos, se eu não estava me descuidando na leitura da bíblia, quis saber que texto bíblico eu estava a ler. Indagou se eu estava freqüentando a escola dominical e os cultos regularmente, e se eu estava atenta às normas de bons costumes e boa educação para as moças. A tudo respondi direitinho, felizmente naqueles tempos eu ainda era uma jovem comportada.

Em seguida ela pegou um recorte de revista de sobre uma mesinha, que insistiu para que eu lesse, e passou a falar dele. Era um texto que falava da preocupação de muitos crentes sobre as apostasias e heresias que viriam nos últimos tempos. A doutora Délia era conhecida pelas suas práticas de devoção, piedade cristã e zelo pela palavra de Deus, e ela estava muito preocupada com os rumos de alguns pensamentos mais liberais. Depois passou a falar sobre a provável perseguição aos verdadeiros crentes, que haveria de vir também nos últimos dias.

- Leia muito a bíblia minha filha, ela disse, decore versículos e se possível até textos o mais que puder, pois dias virão em que a bíblia será proibida a nós, dias de perseguição, terríveis.

Foi então que ela me indicou o lavabo, e disse que eu me preparasse, pois o almoço seria servido. Desconhecedora de certas regrinhas básicas da boa educação, eu tinha chegado exatamente na hora do almoço.

Eu me preparei, e fui introduzida na sala de jantar, onde já nos aguardava o seu esposo e uma empregada idosa pronta para servir. O almoço foi simples, porém excelente ao meu gosto adolescente. As aulas de etiqueta de titia me valeram, eu me saí bem.

À mesa, após darmos graças, a conversa seguiu no mesmo tema de minha recepção: as apostasias, as contendas bíblicas sobre temas desnecessários; o esposo dela disse que certas pessoas andavam a ler a bíblia, não mais para aprender com a Palavra, mas para procurar erros e discordâncias, o que fez doutora Délia exprimir um oh! de consternação.

O esposo dela era o doutor Flamínio Fávero, ele era, ou melhor, é ainda, mesmo tendo falecido, uma autoridade em medicina legal no Brasil e quiçá no mundo. Na época acumulava cargos de direção no Hospital das Clínicas e na Casa de Detenção, mais popularmente conhecida como Penitenciária do Carandiru.

Hoje eu consigo ver o quão ilustre foi aquele almoço...

Veio a sobremesa, veio o cafezinho, e eu me sentia orgulhosa de estar tomando café entre adultos pela primeira vez.

Foi segurando delicadamente a xícara, que doutora Délia deu uma discretíssima olhada ao relógio de parede, o que me fez entender que acabava ali aquela reunião.

Foi então, e só então, que ela perguntou qual o recado que eu trazia. Tomei muito boa nota dessa postura da elegante dama.

- Sim, doutora Délia, a mamãe quer saber se...e dei o recado. Ela me escutou atentamente, fez uma ou duas perguntas, e disse que sim, que iria providenciar, e minha mãe que aguardasse notícias suas.

Então o casal me acompanhou até a porta, não sem antes recomendarem muitíssimo que eu prestasse atenção ao atravessar a avenida Paulista, e que tomasse cuidado com minha bolsa, sabe filha, disse o doutor Flamínio, ouvi dizer que hoje já praticam assaltos à luz do dia!

E isso era na década de setenta...

Os dois ficaram aguardando até que as portas do meu elevador se fechassem. A mocinha que pisava na São Carlos do Pinhal e dobrava a Bela Cintra era outra bem diferente daquela que por ali passara pouco antes. Eu caminhava orgulhosa de mim.

Naquele ano, seria minha formatura ginasial. Minha mãe, ao contrário de outras, tão pobres quanto nós, não se interessou por me fazer o necessário vestido longo cor de rosa para a solenidade, e aquilo me entristeceu demais. Fui a única de minha turma que não participou da festa.

Mas hoje eu entendo que o meu debut foi ali...

Tenho um metro e sessenta e sete de altura, e poderia jurar que o meu derradeiro centímetro eu alcancei naquele dia.

terça-feira, 12 de agosto de 2008

Saudades

 O meu amigo e colega de trabalho Alexandre faleceu há uns dois anos. Ele foi embora numa sexta feira e não voltou mais. Entre essa sexta feira e o falecimento dele passaram meses, mas ele vinha se restabelecendo, e todos acreditávamos que ele voltaria.

Fui visitá-lo, li a bíblia e orei para ele, ele estava se recuperando, estava indo bem.

Quando veio a notícia da morte dele, ficamos todos parados, sem ação...- mas ele não estava melhorando? Estava, mas veio uma parada cardíaca a que ele não resistiu.

Não tivemos nem o triste consolo do enterro, pois a morte o surpreendeu numa cidade longe de todos nós. Foi uma sensação de vazio total que nos assolou.

Quando a mãe dele veio para receber o saldo dos seus vencimentos, ela na saída perguntou se ele tinha deixado coisas pessoais.

Então eu saí procurando, e encontrei apenas um par de óculos.

Achei que seria muito...sei lá...achei chato dizer que ele deixara apenas um par de óculos...

Então peguei uns dois livros que eram meus, umas revistas, um disco e um radinho que não era de ninguém, coloquei numa sacolinha, disse que era tudo o que eu tinha encontrado nas gavetas dele.

Foi comovente vê-la sair levando aqueles pertences, ainda aumentados pela minha desnecessária mentira de piedade...

Saudades Alê... pena que você não pôde ficar mais com a gente.


 

sábado, 9 de agosto de 2008

A espiriteira


A Alice do país do pensamento me lembrou dos tempos em que faltava gás, na minha infância. Minha mãe não se apertava: ela pegava uma tabuinha, fixava três ou quatro pregos, e ali encaixava uma latinha com querosene. E assim preparava as nossas refeições.

Ela chamava a isso de espiriteira.

Então o pão de hoje será de espiriteira. Vocês estão sentindo a queda do nível? forno – forno microondas – espiriteira... Só falta eu vir de garrafa térmica, e é só uma questão de tempo...

Mas vamos à historinha: Há alguns anos atrás houve uma crise no abastecimento de gás engarrafado, faltou gás por toda parte. Eu trabalhava num Banco, e junto com muitos funcionários, levava refeições de casa, as tais marmitas.

Com a falta do gás, nenhum dos funcionários se abalou, era uma moçada muito animada e extrovertida, e cada um se virou a seu modo. Os rapazes passaram a levar as marmitas para aquecer nos bares das redondezas. As moças passaram a trazer de casa refeições que pudessem ser comidas frias: batatas, cenouras, ovos cozidos, saladas enfim. Os mais tranqüilos se viraram com sanduíches.

Eu fiz a minha espiriteira, e com ela fritei deliciosos ovos com presunto e queijo.

Houve um sujeito, porém, que se abalou. Um moço que fazia serviços de segurança, alto, forte, bonito. Ele pediu para usar o meu telefone, eu permiti, e ele começou uma conversa assim com seu superior:

- Vocês precisam me transferir daqui! Aqui não existe gás para esquentar minha marmita, e eu estou sofrendo muito. Um detalhe: chorava. Um marmanjão, forte, bonito, chorando porque não tinha onde esquentar sua comida.

Todos paramos e ficamos olhando para ele. Ninguém disse nada, mas creio que todos pensamos a mesma coisa: que babaca!

Ele conseguiu sua transferência. E dali a poucos dias, o abastecimento de gás foi normalizado. E o babaca foi esquecido, que era o que ele merecia mesmo.

Então é isso. A minha sopinha instantânea está pronta. Enquanto eu coloco queijo ralado e pedacinhos de presunto picado, você fica com a letra de Guilherme Arantes:

Somos tão fatalmente cativos
De dinheiro, padrões e medidas
Que esquecemos de ser criativos
Quando estão em jogo nossas vidas

quarta-feira, 6 de agosto de 2008

Pão em falta





Agora vamos falar de fome, ou melhor, de recursos para enganar a fome. Você está sentindo, não está, como anda o nível das coisas por aqui?...

Você já comeu pão frito? Em casa a gente chamava de miga, se bem que os portugueses chamam desse nome pratos finos preparados à base de pão. Lá em casa era só pão picadinho frito mesmo, já enganei muito a fome com eles...

Achocolatado com água e açúcar já tomei também. Reaproveitamento de pó de café, muitas vezes. De chá mate, de chá de camomila... Pensei que só eu fazia isso, quando vi a Jamie do seriado Mad about You fazendo, tranquilizei-me.

Uma ótima coisa para enganar o estômago é comer pasta de dentes, fazia isso muito nos meus tempos de faculdade. Uma colher de sopa de pasta de dentes dá mais ou menos uma hora de saciedade, não entendo bem o porquê, mas funciona.

Água quente com açúcar é um recurso ótimo para enganar a fome e ajudar num regime. Faça uma garrafa térmica com água, não fervente, quente mais para o morno, e vá tomando com adoçante, ajuda muito. Água morna com um pouco de leite e adoçante também. Tudo o que é quente engana mais do que o que é frio. Se você estiver com fome, e tiver apenas um pão e alguns frios, aqueça-os. A sensação de saciedade será maior.

Jamais coma uma maçã para espantar a fome. Dou risadas quando ouço moçoilas dizendo: não quero engordar, vou comer só uma maçazinha...coitadinhas delas. Dentro de uma hora mais ou menos estarão com uma fome de matar, isso porque a maçã abre o apetite ao invés de satisfazê-lo. Pelo menos comigo é assim.

Se você tiver um único ovo, bata-o bem, acrescente leite, fermento e farinha de milho se tiver, e frite numa frigideira pequena. Cresce que é uma beleza, dá uma refeição razoável.

Um cubinho de caldo de carne, uma cebola e um maço de coentro, dá um caldinho santo para matar a fome. Quando a cebola estiver bem molinha, passe-a na peneira, engrosse o caldo, jogue fora o coentro. Coloque em um prato com pão picado, azeite – em casa de viúvas pobres nunca há – e queijo ralado se tiver. E cama. Aconselho você a dormir em seguida, porque esse caldinho não engana por muito tempo não...

Então com isso chegamos ao último recurso para matar a fome: sono. É por isso que vemos tantos mendigos e até animais dormindo em plena luz do dia pela cidade. É fome, coitados.

Um dia desses vi um morador de rua recebendo um pão quentinho escorrendo manteiga das mãos de um bondoso padeiro. Ele saiu para a rua, ergueu o pãozinho para o céu e o beijou. Bonito não?

Então é isso, meus amiguinhos. Vivendo numa fase (ou temporada?) de absoluta falta de recursos, resolvi falar sobre isso mesmo - a falta. Mas voltem, prometo que o nível irá melhorar. Estou pensando em celebrar contrato com um novo profeta, talvez Eliseu. Ou Sathya Sai Baba, ainda não sei bem, estou analisando propostas.

domingo, 3 de agosto de 2008

Dor de mickey

Mus é rato em latim. Vem daí a palavra músculo, será que os cientistas compararam os músculos a ratos, porque ratos são rápidos, ágeis? Não sei não...

Vem daí também a palavra inglesa mouse, curiosamente muito mais próxima da raiz latina do que nós, com a palavra rato. Qual será a etimologia da palavra rato? Isso é pergunta para o Fábio responder. Será onomatopaico, porque o rato faz rrrrat, rrrrat, rrrrat? O certo é que essas curiosidades todas começaram lá na Torre de Babel.

Todo esse preâmbulo aí de cima teve duas intenções. A primeira, mais pedante, é enganar algum desavisado que entrar aqui, fazer o povo me achar culta. Ohhh, que mulher inteligente, conhece latim...Um desavisado mesmo, porque vocês, que já estão comigo há mais tempo, sabem que minha cultura é de almanaque. Devo ter lido essa aí do mus em algum rodapé de R
evista Seleções.

A segunda intenção é me queixar. Claro. Estava demorando. Estou pensando seriamente em mudar o nome do blogue. Jeremiadas de Bete. Lamentações de uma viúva chata. Que vai continuar viúva, porque quem vai querer uma mulher que só reclama?

A queixa é por conta de uma terrível dor nos músculos. Algia, para continuar esnobando que conheço algo também de grego. Vem daí a palavra analgésico, que poderíamos traduzir mais ou menos como não dor. Falando em analgésicos, já tomei caixas e caixas deles, sem solução. O caso é que eu tussi tanto, mas tanto, que segundo um médico que consultei, os meus músculos do peito ficaram inflamados. Ratinhos assanhados. Ratinho é mus ridiculus.

Ai que dor nos meus ratos peitorais!!!

O segundo disse que estou com nevralgia nos nervos da coluna, do osso esterno, não me lembro bem. Traduzindo do grego nevralgia deve significar uma inflamação dolorosa nos nervos. Algo assim, sei lá.

Só que entender de latim e grego não ajuda nada, ai que dor nos mus ridiculos, ai que dor nos mus ridiculus. Muito ridículo.