sábado, 7 de março de 2009

A tangerina roxa...continuação

 9.
Não foi na mesma sala da recepção, foi numa espécie de sala de consulta médica e laboratório.

Hoje teremos uma extensa tarde de trabalho ela me disse, com sua voz agradavelmente rouca. E apanhou uma caixinha parecendo um pequeno rádio portátil, que tinha ligado a ele, por um fio, uma espécie de pequeno microfone, algo parecido com um leitor de código de barras. Rowena pegou aquele artefato e o deslizou numa parte do meu braço. Naquela caixinha, numa pequena tela, apareceram coisas grafadas, que ela ia lendo, atenta e silenciosa, escritas nos mesmos caracteres que eu vira na placa, na entrada da propriedade.

Perguntei à ela que informações eram aquelas, ao que ela me respondeu que eram meus códigos genéticos, e que por ali ela podia saber de toda a minha vida biológica, e também de meus antepassados.

Então Rowena falou comigo longamente, sobre as heranças geneticas que recebi. Descobri que muitas das minhas características consideradas por mim como defeitos de caráter eram na verdade distorções genéticas, coisas que não poderiam ser modificadas tão facilmente assim como eu pensara até então.

- Mas você veio ao lugar certo, ela disse. Você irá receber a chave para trabalhar todas essas distorções.Quando perguntei que técnicas seriam, já imaginando algum sofisticado exercício de mentalização, ela me disse que seria através do trabalho braçal.



 A consulta se estendeu pela tarde à dentro, e teve várias etapas: ela analisou meus cabelos, minha pele, minha lingua, minhas unhas. Longa e demoradamente. E ia me esclarecendo, me fornecendo informações ao longo da análise. Pediu que eu me deitasse, colocou cristais em várias partes do meu corpo, analisou depois aquelas pedras, lentamente, sem pressa. E sempre me reportando informações sobre minha saúde. Até hoje me utilizo das informações sobre o funcionamento do meu organismo obtidas ali. Também me ensinou ténicas de respiração que exercito até hoje.

Já era quase noite. Finalizando aquela sessão, ela me deu um invólucro plástico, lacrado, contendo uma sonda. Disse que me dirigisse a um reservado que havia ali, e que fizesse uso do sanitário com ajuda da sonda. Era um banheiro igual a todos os outros, exceto pelo vaso sanitário que era de metal, e continha também uns mecanismos sobre os quais ela me ensinara. Seguindo suas instruções, eu coloquei uma das extremidades da sonda num orifício apropriado, numa caixinha de vidro afixada na parede, contendo um líquido esverdeado. A outra extremidade introduzi onde devido, e baixei uma alavanca que havia na caixinha. Não havia papel higiênico, eu pressionei um botão no vaso, à minha direita, liberando do seu interior jatos de água morna, e na sequência, ar quente.

À saída, vi Rowena lendo informações numa folha de papel que saía de uma pequena impressora. Eram informações obtidas à partir do material que tinha sido coletado no vaso. Naqueles mesmos caracteres que eu já tinha visto.

Então ela me levou a uma sala anexa, toda recoberta por armários envidraçados, cheios de vidros com tinturas. Retirou dali alguns vidros, e me ensinou como usar aqueles remédios. Disse que eles iriam regularizar minhas funções vitais, principalmente do coração, rins e fígado, que estavam em desarmonia. Deu um vidro para que eu trouxesse para o meu filho. Recomendou que não deixasse de fazer os exercicios respiratórios.

Recomendou tambem que eu tomasse muito da água daquele lugar, pois era parte essencial do meu tratamento. E finalmente disse que o meu tratamento central seria trabalhar nos campos, na colheita nos campos de girassóis.




Continua...