quarta-feira, 30 de julho de 2008

A sopa de pedra





 
Chega de comida em forno microondas, já que Elias sumiu, precisamos apelar. Vou dar uma receita para vocês, de sopa de pedra.

Chame os amigos. Leve todos para a cozinha. Lá você já terá preparado um enorme panelão fervente de água e sal, com uma pedra bem bonita no fundo. Você precisa garantir para eles que dará certo, que você já fez, que a pedra amolece.

Das duas uma: ou seus amigos vão achar que você não está bem da cabeça, ou vão aderir à brincadeira. Ou ambos. Uma coisa, porém é certa: começarão a chover palpites.

- Esta sopa não está pedindo um macarrãozinho do tipo ave-maria? Você tem?

Sim, macarrãozinho você tem. Você tem também umas cebolas e uns tomates...

- Ia bem umas cenouras, você tem, deixa que eu corto... - já diz alguém colocando mãos à obra. Você dá as cenouras e também uns chuchus.

- Eu descasco as batatas!

- Batatas não tem, você diz.

- Não tem importância, lá em casa tem bastante. Benhê! Dá um pulinho lá em casa e traz umas batatas? Lá se vai o Benhê.

- Eu vou aqui do lado em casa buscar umas mandioquinhas, adoro mandioquinhas na sopa....- desaparece alguém.

- Ei, porquê você está tirando a casca do chuchu? A casca tem vitaminas. Pessoal, o que vocês acham, chuchu com casca ou sem casca? Eleição entre a mulherada, chuchu sem casca vence. É mais elegante.

- Gente, essa sopa está pedindo calquinor, você tem calquinor? Calquinor é caldo de carne Knorr, devo essa a Adélia Prado. Sim, “calquinor” você tem.

- Puxa, porque eu não lembrei – diz a esposa do Benhê. Lá em casa tem mais de um quilo de asinhas de frango...

- Deixa, que eu queria mesmo ir lá em casa buscar uma linguicinha, passo lá a tempo de pegar o Benhê saindo, essa fala é do Txutxuko, a esposa dele na verdade já tinha dado umas cutucadas nele pra ele ir buscá-las.

Nesse meio tempo alguém achou que a sopa estava a pedir uns bons pedaços de carne de músculo, para dar reforço e sabor, e já ia saindo comprar, quando você diz: carne de músculo eu tenho!

Chegam as mandioquinhas, a Txutxuka já ia colocando todas de uma vez no panelão. Não! diz uma casada mais experiente, a mandioquinha cozinha rápido, ela irá desaparecer na sopa. Ah, mas fica gostoso, diz a Txutxuka. Início de discussão. Discussão saudável, mas você precisa moderar:

- Vamos fazer assim: metade entra agora, para incorporar o caldo, e a outra metade entra no final, para quem gostar de comer a mandioquinha. Todos concordam.

Alguém sugere que a sopa está pedindo ervas: coentro, salsa, cebolinha, e você já vai logo falando que ervas você não tem.

Mas o que não falta na sua reunião é esposa para escalar marido. Momô! diz uma esposa com voz melosa, dá um pulinho lá ...

- Já sei, já sei, já entendi, pega a chave do carro e dirige-se para a porta o Momô.

Enquanto isso a esposa do Benhê está ao celular, tentando saber se ele foi alcançado pelo Txutxuko a tempo de ficar sabendo que era para trazer as asinhas de frango. Só caixa postal, irrita-se ela. Ai esse Benhê viu!

Mas os dois chegam, trouxeram tudo, Benhê ainda ganha um beijinho por ter visto lá uma latinha de milho cozido e uns pedacinhos de bacon e trazido também.

Entram as batatas – atrasadas. E o Txutxuko e o Benhê já iam colocando as asinhas de frango e a lingüiça direto na panela: - Nãããããããão! – gritaria da mulherada.

- Primeiro precisa fritar um pouquinho para pegar cor e gostinho Benhê! fala dando um beijinho nele a esposinha. Uai, pra quê? Porque sim, dêeer! responde a esposinha. Mas ele concorda, e já está fritando as carnes trazidas no bacon que ELE lembrou de trazer, o que faz questão de deixar bem claro.

A esposa do Momô se irrita ao celular. Não, Momô, a caixinha cor de rosa tem sopinha do nenê, é a caixinha azul, embaixo, embaixo, você não está vendo uma caixinha azul? Matinhos? Não, Momô, não é matinho, é o coentro, traz a também a salsinha e a cebolinha! Momô! como não sabe a diferença, traz tudo junto, não importa, traz tudo!

A essa altura você já terá aberto uma garrafa de vinho, e estará distribuindo fatias de pão italiano, e todos estão molhando seus bocados na sopa, em volta do fogão, aquela bagunça. Chegam as ervas. A sopa está quase pronta.


- Gente, essa sopa está pedindo folhas, você tem couve? Nãããão, couve não, essa fala foi dos homens. Mas como as mulheres sempre vencem, alguém já está saindo atrás de repolho. Por conta de uma pequena discussão chegaram no consenso do repolho ao invés da couve, que ia mesmo amargar o gosto.

Enfim, após todo abre e fecha de portas, entra e sai de maridos, campainha que toca, celular que apita, cachorro que escapa, ufa! parece que entraram todos os ingredientes.

Algum detalhista, provavelmente um homem, dirá que a sopa está pedindo um fio de azeite. Outro detalhista, seguramente uma mulher, dirá que “sopa sem queijinho ralado e pão torradinho picadinho não é sopa”. Ela já ia escalando o Kuti Kuti pra ir buscar, mas você intervém, e diz afinando a voz:

- Queijinho raladinho e pãozinho torradinho eu tenho! Aplausos e vaias ao mesmo tempo.

Então você joga a pedra fora e serve a sopa. Viu, como a pedra amoleceu?

Nada de sopeiras, é panelão no centro da mesa mesmo. E cada um se serve.

- CADA UM SE SERVE!!! São os homens, implicando com o Kuti Kuti, que está sendo servido pela gentil esposinha.

- Ah, gente, é carinho, vocês precisam entender, explica a esposinha dando um beijo de biquinho em Kuti Kuti. Esqueci de dizer que eles são recém casados.

- A gente veio aqui pra comer ou pra conversar?!?

- Hummmmmmm.......Booooommmmm.....

São nesses momentos que a gente entende o porquê de a celebração máxima da fé cristã ser justamente uma ceia...

terça-feira, 29 de julho de 2008

Conversa de ônibus ou a cura rápida

Eu tinha dezenove anos quando contraí uma terrível infecção urinária. Acredito que naquele tempo, os medicamentos não eram tão poderosos como hoje, pois hoje um sintoma dessa natureza se resolve com no máximo três dias de medicação. Mas o caso se arrastava por semanas, passando de um medicamento a outro sem solução, e eu já estava exasperada.

Então eu estava num ônibus a caminho da faculdade. Atrás de mim, dois sujeitos, numa conversa tremendamente obscena. Falavam de prostíbulos, mulheres, façanhas sexuais de todo tipo, em alto e bom som, aquilo já começava a me irritar. Foi então que um deles contou ao outro que numa dessas “aventuras”, contraíra uma infecção, com sintomas muito parecidos com os meus, com a diferença que eu era casta. Fiquei atenta.

- Como você resolveu, perguntou o colega interessado?

- Rapaz, eu tomei de uma só vez, seis comprimidos de nome tal.

- De uma só vez? Sim, confirmou o outro.

Desci do ônibus. Entrei na primeira farmácia. Comprei uma caixa do tal medicamento. Tomei ali mesmo, seis comprimidos. Tomei outro ônibus e rumei para a escola.

Fiquei curada no mesmo dia.

Não aconselharia ninguém a fazer aquilo. Mas aquele tinha sido um recado com endereço certo, tinha sido um recado de Deus para mim.

Lembram da historinha do lixo de ontem? Pois é! Dois sujeitos safados e uma conversa obscena. E uma boa notícia de Deus de presente para mim.

segunda-feira, 28 de julho de 2008

Brincando no lixo

 Minha tia Alice que há muito está na glória, tinha uma mania que nós crianças achávamos genial. Ela nos levava a fuçar no lixo das pessoas ricas, nos bairros elegantes da cidade.

Achávamos coisas muito interessantes: roupas novas, sapatos, bolsas de adulto e de criança, brinquedos em perfeito estado, eu cheguei a achar uma coleção de livrinhos linda, cinco livrinhos.

Minha mãe ficava brava: eu não crio meus filhos para eles fuçarem lixo! Mas bem que ela gostava quando voltávamos cheios de novidades interessantes; eu trouxe certa vez para ela um bibelô lindinho, um cachorrinho com uma cestinha de flores na boca, que ela adorou.

Forno microondas apitando, creio que vocês perceberam que acaba de sair uma parábola instantânea: até no lixo encontramos coisas interessantes.

Apure o seu olhar, afine os seus ouvidos. A manifestação divina está em toda parte, em toda parte mesmo, onde você nem imagina. Eu já cheguei a encontrar uma resposta em um anúncio de sabonetes, um dia ainda conto essa história.





domingo, 27 de julho de 2008

No microondas

Aviso aos meus (6) leitores que a coisa aqui continua na mesma: zero de farinha, zero de azeite. Elias passou por aqui e mandou eu ir me coçar, me virar, chega de moleza.

Então vamos de forno microondas e comida instantânea.

Então esperem que estou programando o aparelho.

O caso é o seguinte: Eu acredito que toda boa notícia que recebo vem diretamente de Deus. Desde o sermão do púlpito, passando pela indicação de um livro, um filme, um supermercado que pratica bons preços, até a marca de um xampu, tudo é informação divina para tornar minha vida melhor, mais agradável. Então eu sempre tomo boa nota, e na medida do possível, sempre me esforço por segui-las. Mas noto que muitos não pensam assim, e vou dar um exemplo:

Eu fui curada de uma sinusite crônica fazendo inalações com uma reles plantinha que me foi indicada por alguém. A cura se deu tão rápido, fiquei tão encantada, que saí passando a informação para todos os sinusitados que encontrei pela frente.

Ninguém deu a mínima.

Conheço uma moça que padece terrivelmente desse mal, eu já falei da tal planta para ela umas três vezes. Ela não demonstrou nenhum interesse. Deve estar à espera de uma solução complicada, ou deve gostar de sua sinusite.

Hoje não falo mais.

Hoje só passo adiante alguma informação se notar que a pessoa está realmente interessada. Caso contrário, eu me calo.

O forno está apitando, e eu concluo o seguinte:

Eu não passo mais informações a esmo, porque acredito que o mesmo Espírito Santo, que tem informado coisas tão geniais a mim, também pode passá-las a todo aquele que quiser. Que estiver atento. Desejoso. Receptivo. A quem acredita, como eu acredito, que a manifestação divina está em toda parte.

É preciso apurar o olhar, apurar os ouvidos. Uma pessoa ora, clama a Deus pedindo respostas, aí vem alguém e indica um simples livro, ou uma outra simples informação qualquer e...isso é ignorado? Ah, então está bom...Sinusite pra ela...

E agora vou comer meu macarrão instantâneo. E não é que está bom?







quinta-feira, 24 de julho de 2008

Procurando um trevo no meu jardim

 Foi só eu colocar a frase acima no perfil do meu MSN, que recebi alertas dos patrulheiros de plantão:

- Uma pessoa cristã, acreditando em trevo de quatro folhas?!?! Que horror!!!

Porque será que esses crentes levam a vida tão na base da intolerância? Do mau humor? Da cara amarrada? E porque eles não gastam suas energias patrulhando cada um a si próprio?

O jardim é meu e eu procuro nele o que eu quiser, ora, pois!

Fico imaginando Jesus em suas andanças, acompanhado dos seus discípulos, aquela mulherada toda, a maioria delas oriunda do baixo meretrício. Quantas gostosas risadas eles não deveriam dar... Até concurso de arroto eu acho que rolava. Se não fosse assim, eu não seria apaixonada pelo meu amado Mestre. Nunca que eu ia querer um mestre chato, implicante, intolerante e mal humorado.

Pois se ele fosse assim ele não seria o meu, o seu, o nosso amado Mestre. Seria mais um crentão chatão!

Pronto, falei. E agora vou voltar a procurar um trevo no meu jardim, ainda que seja no jardim da minha própria imaginação, na falta de outro melhor.

E você fique com a letra da musiquinha de João Gilberto, que é uma graça.

Vivo esperando e procurando
Um trevo no meu jardim
Quatro folhinhas nascidas ao léu
Me levariam pertinho do céu
Feliz eu seria e o trevo faria
Que ela voltasse pra mim
Vivo esperando e procurando
Um trevo no meu jardim







terça-feira, 15 de julho de 2008

Tudo por uma recordação

 Vou declinar aqui a relação dos meus bens, e na seqüência você entenderá o porquê:

Uma escova de dentes e mais uns três ou quatro objetos de higiene e toucador
Meia dúzia de livros incluindo “O homem da mão seca”
Um gatinho de porcelana mais uns bichinhos de enfeite
Uma caixinha de madeira contendo cinco moedas velhas sem valor algum
Meia dúzia de discos incluindo “Grande circo místico”
Uma calça jeans, umas três ou quatro blusas, uma jaqueta, (eu tinha uma roupa para usar no meu enterro, mas como estava demorando muito para morrer, acabei doando, não iriam servir)
Mais um restinho de roupas velhas
Dois pares de sapatos e um par de sandálias
Uma bolsa roxa, até que é bonita
Um relógio paraguaio com o mostrador roxo, combina com a bolsa, foi coincidência
Um camafeu italiano – não serve para nada, mas sempre achei que seria romântico ter um camafeu italiano, já que não consegui segurar o marido italiano, aquele que se foi. E que também não servia pra nada.

Estou dando todos esses bens, talvez fique apenas com a calça jeans e umas coisinhas, para quem conseguir para mim uma música, cujo nome eu não sei dizer. É o seguinte: quando eu era criança, tocava nas emissoras de rádio uma música, era cantada por rapazes, música americana. Quando acabava, o locutor dizia: esse foi o tema dos Guerrilheiros Pilantras. Eu achava a música linda, e morria de vontade de assistir o filme, pensava, a julgar pela música, o filme deve ser muito bacana. Nunca consegui assistir esse filme, e nunca mais ouvi a música, até porque eu não sei quem canta. Daria tudo para ouvi-la novamente. Porquê? Não sei, ora bolas, saudosismo, desde quando um bipolar tem uma explicação convincente para dar?

Quem se habilita? Não vale a indicação, eu quero o arquivo, em MP3. Talvez eu mande junto um anelzinho que quase engana que é prata...

Pensando bem o gatinho e a caixinha não dou não, foram presentes do meu filho...mas as moedinhas estão valendo. A escova de dentes também não mando por motivos óbvios.








sábado, 12 de julho de 2008

A lenda do Pégaso

 Era uma vez, vejam vocês, um passarinho feio
Que não sabia o que era, nem de onde veio
Então vivia, vivia a sonhar em ser o que não era
Voando, voando com as asas, asas da quimera

Sonhava ser uma gaivota porque ela é linda e todo mundo nota
E naquela de pretensão queria ser um gavião
E quando estava feliz, feliz, ser a misteriosa perdiz
E vejam, então, que vergonha quando quis ser a sagrada cegonha

E com a vontade esparsa sonhava ser uma linda garça
E num instante de desengano queria apenas ser um tucano
E foi aquele, aquele ti-ti-ti quando quis ser um colibri
Por isso lhe pisaram o calo e aí então cantou de galo

Sonhava com a casa de barro, a do joão-de-barro, e ficava triste
Tão triste assim como tu, querendo ser o sinistro urubu
E quando queria causar estorvo então imitava o sombrio corvo
E até hoje ainda se discute se é mesmo verdade que virou abutre

E quando já estava querendo aquela paz dos sabiás
Cansado de viver na sombra, voar, revoar feito a linda pomba
E ao sentir a falta de um grande carinho então cantava feito um canarinho
E assim o passarinho feio quis ser até pombo-correio

Aí então Deus chegou e disse: Pegue as mágoas
Pegue as mágoas e apague-as, tenha o orgulho das águias
Deus disse ainda: é tudo azul, e o passarinho feio
Virou o cavalo voador, esse tal de Pégaso.

Pégaso, Pégaso, Pégaso... (muitas vezes)
Pega o azul, pega o azul!

(Moraes Moreira)




À Deus seja a glória.

quarta-feira, 9 de julho de 2008

Bolo toalha felpuda

Agora eu vou passar aqui a receita de um bolo que eu faço sempre, já fiz tanto, mas tanto, que o faço com o pé nas costas. Eu aprendi a receita com a Joana, minha discreta e educada cabeleireira japonesa, e não parei de fazer nunca mais.

Antes preciso passar alguns macetes, que fui aprendendo ao longo da vida, faço bolos desde menininha. Aquilo que as apresentadoras de TV fazem ao já deixar todos os ingredientes separadinhos de antemão, é uma grande verdade. Antes de começar um bolo, é preciso arrumar todos os ingredientes em tigelinhas e pires, deixar tudo pronto e à mão. Não há nada mais irritante do que ter de interromper um preparo e sair à cata de um abridor de latas, por exemplo. Eu sempre uso também uma toalhinha jogada nos ombros, para o caso de tocar o telefone, por exemplo, ir limpando as mãos, mania minha.

Depois de tudo separado, unte a forma e ligue o forno. Quando vou bater bolo, sempre bato em primeiro lugar as claras em neve, porque assim não é preciso lavar as pás novamente. Experimente não fazer isso e verá do que estou falando. Eu também uso misturar o fermento às claras em neve, isso explicarei adiante.

Um macete também importante, pelo menos para mim que sou um tanto desastrada. No processo de separar gemas e claras, se você não tiver um separador e o fizer com as mãos, pode acontecer de as gemas se quebrarem e misturarem às claras. Se isso acontecer, é só encostar nelas a casca do ovo. A gema “corre” para dentro da casca, e você a recupera.

Então vamos ao bolo, aí vão os ingredientes:

Ø 6 ovos
Ø 4 xícaras de açúcar
Ø 4 xícaras de farinha de trigo
Ø 1 vidro de leite de coco
Ø o mesmo vidro (medida) de leite fresco
Ø 1 xícara de manteiga
Ø 1 colher de sopa de fermento

COBERTURA:

Misture uma lata de leite condensado, a mesma lata (medida) de leite fresco e 1 pacotinho (l00 g) de coco ralado. Reserve.

Separe as gemas das claras. Bata as claras em neve bem firme. Reserve.

Então vamos lá: bata as gemas com a manteiga e o açúcar. É nessa batida, que você irá definir o tamanho do seu bolo, deve ser uma mistura fofa. No início do batimento, a mistura terá uma cor amarelo gema. Na seqüência, irá ficando amarelo clara, mais clara, mais clara. Quando você tiver uma cor amarelo manteiga, a mistura estiver fofa e triplicado de tamanho, quase da consistência de um chantili, esse é o momento de continuar com a entrada dos demais ingredientes. O que faz um bolo crescer não é só o fermento, é também essa batida aí.

Coloque na batedeira o leite de coco, a farinha e o leite de vaca. Isso você deve ir fazendo aos poucos, “sentindo a massa”. Se você não costuma fazer bolos, é importante seguir à risca a receita. Porém, com o passar do tempo, você irá sentir que existe farinha mais úmida, farinha mais seca, então, com essa experiência, você já estará craque para saber se a mistura precisa de mais ou menos leite. No início, porém, repito, se não souber fazer isso, siga a receita. Bata bem. O momento de parar de bater é quando você, ao mexer com uma colher ou espátula, vê a massa se “abrindo” suavemente em espécies de ondas, quase uns buracos. Você então sente que a massa está fofa, que incorporou bastante ar.

Agora é o momento das claras em neve, que você já bateu no início do preparo. Deve ser uma mistura bem fofa, grande e firme. As claras em neve darão aquele toque aerado ao bolo, por isso devem ser misturadas à massa delicadamente, com o auxílio de uma colher ou espátula. É por isso que eu misturo o fermento às claras. Ao meu ver, é uma forma suave de incorporar o fermento à massa. Mas há quem prefira misturar o fermento a um pouquinho de leite, para testar se o fermento está bom, se cresce.

Coloque para assar em assadeira retangular. Eu nunca asso bolos em forno forte, sempre mais para médio. O tempo irá depender do seu forno, mas não menos do que trinta minutos, não mais que quarenta. A regra é clássica: ao se enfiar um palito no centro do bolo, ele deverá sair seco e limpo. Para mim também, um bolo está pronto ou quase pronto, quando você está fora da cozinha e sente cheiro de bolo.

Um último macete. Muito cuidado com as especificações sobre o açúcar – nunca ultrapasse a receita. Bolo com muito açúcar fica pesado, a crosta fica dura e em casca, grudando nos dentes. Não fica bom.

Com o bolo ainda quente, espalhe generosamente a cobertura. Você irá notar que em descanso, a parte leitosa tende a ficar no fundo. Com uma colher, reincorpore o coco ao leite, e a seguir espalhe. Se você for como eu, não espalhará tudo, mas deixará um restinho no fundo da tigelinha, para comer de colher...

Então taí. Essa receita a gente não desenforma, corta diretamente da forma. É muito apreciada no café da manhã, ou para um cafezinho com as amigas à tarde, ou para o lanche das crianças. Quando eu o fazia para levar à igreja, eu cortava em quadrados e embrulhava em papel alumínio, pois é um bolo pegajoso, difícil de comer sem um pratinho ou guardanapo.

Anime-se, faça o seu. Mande as fotos para mim que eu publico aqui. Fotografe também o seu passo-a-passo. Se você tiver problemas de organização, fazer bolos é um bom exercício.

Uma curiosidade: antigamente, as latinhas pequenas de Fermento Royal tinham uma abertura pela qual não passava uma colher de sopa. Muitas mulheres escreveram para lá reclamando, e eu fui uma delas. Então eles mudaram, hoje, a colher de sopa passa na abertura da latinha...

terça-feira, 8 de julho de 2008

A copa do mundo é nossa

Já que girei o botão do túnel do tempo com tanta força a ponto de chegar aos anos sessenta, e já que estou lá, vou tascar só mais uma historinha daquela época. Depois prometo que retorno. Espero. Isso de voltar ao passado é perigoso, mexe com a gente, destampar o panelão das lembranças nem sempre é bom, principalmente no meu caso – não tive uma infância feliz, pelo contrário, venho de um lar desgraçado, já devo ter falado isso aqui. Por isso se vocês virem que não estou retornado, dêem uma cutucada, passem e.mail, telefonem, apareçam... Como? vocês não têm o meu endereço? Pois eu garanto que um de vocês que lê aqui, e apenas um, possui o meu endereço. Para descobrir quem é esse um vocês terão de se falar. Mas acalmem-se, não será preciso, eu volto.

Meu lar como disse era desgraçado, mas minha mãe se esforçava por torná-lo menos pior, ela fazia o que estava ao seu alcance. E a historinha de hoje é justamente sobre mais um dos passeios a que ela nos levou, e esse foi a ver as comemorações da vitória do Brasil na Copa de 62. Agora mergulhei fundo, eu sei.

Naqueles tempos, a avenida Paulista não era esse protestódromo e comemoródromo que é hoje. Tudo se concentrava na Avenida São João. Eu morria de medo da Avenida São João, por conta de uma música do Adoniran Barbosa, de uma tal Iracema, que morreu atravessando a tal avenida. Por conta da música, eu achava que bastava pisar o pé na Avenida São João que já se morria, automaticamente. Isso pra vocês verem que minha fé no azar é antiga.

Mas a avenida estava linda, e eu esqueci meus medos. Rapazes e moças passavam buzinando e fazendo festa em magníficos carros abertos, carros que eu jamais tinha visto antes. Homens se atiravam sobre os capôs dos carros em movimento, e tudo era permitido, e tudo era alegria. Fogos de artifício explodiam e por toda a parte se ouvia: O Brasil ganhou,Viva! o Brasil ganhou! Já devo ter contado aqui pra vocês como eu era bobinha e desinformada. O Brasil ganhou o quê?!? Será que o Brasil ganhou a guerra?! Então vocês entenderam não é, eu tinha o conceito “guerra” em minha cabeça, mas não tinha o conceito “copa do mundo”. Só para vocês sentirem o lar do qual eu vinha...

Se eu tivesse perguntado para minha mãe talvez ela tivesse explicado, o caso é que eu era tremendamente calada, os pontos de interrogação ficavam todos em minha cabeça. Então ficou assim, eu assistia às comemorações, mas não entendia exatamente o que estava acontecendo.

Mas estava tudo uma maravilha. Do alto dos imensos prédios – eram imensos naquela época – caiam chuvas de confetes coloridos. Os homens atiravam serpentinas, formando um magnífico entremeado de fitas coloridas por toda a parte. As moças passavam de carro e borrifavam na gente um delicioso perfume, fiquei querendo que minha mãe comprasse um daqueles lança perfumes para mim. Mas ela disse que não era coisa de crianças. Mas comprou uma serpentina para cada um, que nós não jogamos, mas guardamos para trazer para casa, a minha ficou guardada em minha bolsinha de ir à igreja.

Ela também nos comprou bandeirinhas, eu ganhei duas, uma de São Paulo e uma do Brasil. Naqueles tempos as bandeirinhas eram de papel, e eram lindas.

Também ganhamos um saquinho de pipocas cada um, e uma garrafinha de Guaraná Champanhe Antártica, para ser dividida por nós dois. E voltamos felizes para casa, eu muito orgulhosa de minhas duas bandeirinhas.

Que quando chegamos, minha mãe colocou para mim numa garrafa de Tubaína, e pôs em cima do armário da cozinha, que naquele tempo chamávamos guarda-comida.

sábado, 5 de julho de 2008

Era e não era



Mai imaginem vanceis
Eu andava a viajá
Andava a corrê mundo
Quando um dia
Ansim de asurpresa
Arrecebi uma triste nova
Meu pai ia pa cova
Eu ia nascê
Isso é um absurdo
Mai que fazê

Então vortei pra tráis
Perdi uma capa
Uma capa que eu nem levava
Mai valeu
Topei com uma arve de figo
Carregadinha de pesgo maduro
Trepei lá por cima em riba
E toca a apanhá maçã

Mai o dono do feijoá gritou:
Oh seu tinhoso!
Ta robano pimenta, buxa, margarida do quintá aeio?
Eu ia arrespondê
Mai o marvado agarrou num moio de repoio
E me arrumô na testa
Ô festa!
Esbandaiô co joeio!

Minha mãe costumava recitar essa poesia nas festinhas da igreja, isso pra vocês verem como eram tempos inocentes. Desconheço o autor. O que sei é que estou exatamente assim hoje. Meu filhote abandonou o emprego, acabo de ganhar um rapagão para rebocar com o meu mísero salário. Ele acaba de sair dizendo: Bete, Deus não vai me desamparar. Então tá. Amém.

quinta-feira, 3 de julho de 2008

Romance de uma caveira

Continuo dodói. Mas para não decepcionar meus fiéis leitores (sempre quis usar esta frase...), não encontrei nada mais interessante do que a letra da música Romance de uma Caveira, de Alvarenga e Ranchinho, chupada do site do Luciano Pires.


Eram duas caveiras que se amavam
E à meia-noite se encontravam
Pelo cemitério os dois passeavam
E juras de amor então trocavam.

Sentados os dois em riba da lousa fria
A caveira apaixonada assim dizia
Que pelo caveiro de amor morria
E ele de amores por ela vivia.

Ao longe uma coruja cantava alegre
Por ver os dois caveiros assim felizes
E quando se beijavam então funebres
A coruja batendo palma e pedia bis.

Mas um dia chegou de pé junto
Um cadáver novo de um defunto
E a caveira por ele se apaixonou
E o caveiro antigo abandonou.

O caveiro tomou uma bebedeira
E matou-se de um modo romanesco
Por causa dessa ingrata caveira
Que trocou ele por um defunto fresco
.