domingo, 29 de julho de 2012

Te quiero una barbaridad



Olá, eu sou o Déo, e venho apresentar o episódio de hoje: eu e a Mary estamos descendo a Brigadeiro no nosso carro, em uma normal sessão de xingamentos:

- Anta.

- Anta é você.

- Anta.

- Anta é você.

Tenho preguiça de botar pontos de exclamação. E estou com preguiça também de ampliar, porque são apenas variações sobre o mesmo tema, então vou acelerar a fita, e colocar aqui somente duas variações:

- Anta do banhado, só come capim mofado.

- Anta do riachão, só come capim podrão.

Eu e a Mary temos mania de brigar disputando em rimas, verdadeiros cordelistas urbanos. Se um dia deixarmos de ser vagabundos da vida, poderemos vagabundear por outras paradas, uma delas será publicando um livro maneirinho com nossas brigas rimadas, e vamos ao Jô, e ficaremos ricos, e vamos morar lá onde moram aqueles bofes que seguem fielmente os passos de Jesus, como é mesmo o nome? Boca Raton.

Mas vamos parar por aqui, e passar para o babado do dia: o motivo dos xingamentos. É que “ambos os dois” como diz a Maryzinha esquecemos do aniversário da tia; nós trocamos totalmente as datas.Mas quando vimos que cuspir marimbondos não resolveria nada, e também porque chegamos ao apê, paramos de brigar. É que somos preguiçosos também, e brigar cansa.

- Deozinhô?

Claro que a Mary já me perdoou e eu já a perdoei, as nossas brigas nem se dão ao trabalho de acabar, caem vazias no vazio como bolhas de sabão, fala fofa.

- Sabe, tipo quando eu era pequenininha, mi madrecita sempre me chamava pra rezar. Ela acendia velas para a Virgem e para São Francisco com o jesuscristinho no colinho.

- Você já me contou essa história zilhões de vezes bi. Lembra do seu ataque de choro quando eu disse que São Francisco nunca carregou o menino jesus no colinho?

- Claro que chorei, que direito você tinha de zoar com a fé de mi madrecita? Mas olha, deixa eu falar, tipo então, a gente acendia velas ano inteiro, e rezava pra Virgem e pro santinho e pra jesus menino. Então, tipo quando chegava o natal, eu me sentia como é mesmo aquela palavra que você me ensinou, ursada?

- An? É difícil acompanhar a Mary quando ela está tentando chegar a um ponto, e não adianta pedir pra ela atalhar, ela vai feito uma bordadeira, bordando ponto a ponto e não há o que fazer, é acompanhar sua linha de raciocínio até ver onde aquilo acaba, ursada? Ah, lembrei, a palavra é usurpada, lembra, o que a Cida fez tomando o Rafa de você?

- Isso, aquela capivara, então. Chegava o natal eu me sentia u...eu me sentia isso aí, porque Jesus era tipo nosso. Aí um montão de gente que nunca acendia vela nem nunca rezava parecia que tomava posse do nosso Jesus, e o jesus menino que era tão nosso o ano inteiro virava jesus menino de todo mundo. Aí eu disse isso a madrecita e ela disse para dejarlos. Que Jesus recebia todo tipo de atenciòn com lo mismo cariño, Mary, não mistura português com espanhol, ah, tá, então, que Jesus aceitava todo tipo de reza, e que todos faziam parte da enorme família dele. – Mas quem reza todo dia não é mais especial do que quem não reza, madressita? – No, mi cariño. – Então porque nosotras rezàmos? – Porque nosotras tenemos necesidad.

- Tá Maria Puríssima, mas eu ainda não entendi a que ponto você quer chegar.

- Quero chegar ao aniversário da tia. Numa amizade, não tem jeito mais especial que o outro de ser. O que é mais importante, a gente estar com quem a gente gosta sempre, ou lembrar da pessoa só uma vez por ano? Achei que era uma pergunta retórica, mas pra ajudar o raciocínio da minha BFF perguntei o que era mais importante. – Os dois sabe, porque tipo depende. Depende do quanto a gente necessita daquela pessoa. E se a pessoa souber entender, ela irá receber com o mesmo carinho tanto a lembrança uma vez por ano, como a lembrança repetida e às vezes até esquecida de um carinho que rola tipo tempo todo.

- Ufa! Mariúcha, fofucha, queriducha. Essa reflexão foi demais para a camada de purpurina que envolve meu cérebro. Não sei o que responder, já sei, falando em fofucha,quero ducha, preciso relaxar, preciso de minha banheira, meus incensos, velinhas perfumadas e meus sais, você bagunçou meus neurônios demais.

- Não entende porque é uma biba besta.Asno barrigudo, come banana com casca e tudo.

- Boba bobinada, vive com a cabeça enrolada.

-Rá, perdeu a rima, imagina, não bateu com a minha, nem f...do.

- E a tua já existe, não importa, o que precisa é ter balanço.

Ter balanço. Sei. Quero mais é meu banho maravilhoso, meus óleos perfumados, meus cremes importados, minha taça de espumante, ora, pois, balanço... Mas não é que a loira tinha razão?...eu ganhei na fluência mas não ganhei na cadência. Mas nada de ficar elogiando a Mary meu bem, vai que ela descobre que é inteligente e pula fora do nosso acordo, eu heim? Mais tarde a gente traz aqui pro apê a nossa tia querida, e se essa reflexão sem noção funcionar, a tia nem vai ligar que a gente, uma loira esquecida e uma biba cansada “tipo demos” com ela essa puta mancada.

sábado, 14 de julho de 2012

nós dois recolhemos o açúcar e os cacos esparramados

Na série “Sagrado” exibida pela Rede Globo, uma Mãe-de-Santo, perguntada sobre se os praticantes do Candomblé falavam com a Divindade, ela respondeu com humildade bela e desconcertante –Não. Nós do Candomblé não falamos com a Divindade. Nós falamos com as Entidades, que são as forças da Natureza.




Ela pensava nele exatamente no momento em que acordava. A palavra correta não era pensar, e sim falar. Ela acordava conversando com ele. E a conversa não tinha nada de especial, era corriqueira, do tipo outra vez vou ter de repor papel higiênico no suporte? Se eu ganhasse um real para cada vez que... Ela usava muito essa expressão se eu ganhasse um real para cada vez que, mas sempre de boa, dando risada de si mesma, morava com duas amigas, mas era a única que trabalhava em casa, gostava de deixar tudo em ordem, até o dia em que ele, do fundo dos seus pensamentos a ensinou que ela deveria mudar a frase se eu ganhasse um real para se eu ganhasse um dólar, ou outra moeda mais forte.


Seus dias seguiam assim, conversando com ele do abrir ao fechar de olhos, e isso quando ele não aparecia em sonhos, que ela anotava em seu caderno de anotar sonhos. Mas acordada, ela contava os sonhos para ele, com todos os detalhes. Ele sempre fazia alguma pergunta ou outra, ria, comentava, coisas assim.


Na rua ela comentava com ele bobagens como a demora do ônibus, aquelas obviedades do tipo olha esse ônibus aí, tão difícil de passar, só passou porque não estou precisando dele, e contava a história de uma colega de ponto de ônibus que falava vou acender um cigarro, é batata, é acender um cigarro e o ônibus passa. E não é mesmo assim? Ela dizia, ele ali ao seu lado, em pensamento, juntos aguardando o ônibus.


Mas tinham suas conversas filosóficas também. Ou engraçadas. Falavam de coisas de que gostavam e de que não gostavam. Ela, claro, fazia aquelas pequenas críticas femininas do tipo você não percebeu tal coisa porque é homem, mulher vê de outro jeito, e explicava, e ele ou ouvia com atenção ou discordava.


Ih, acabou o leite, vamos de água quente com cappuccino, sabia que naquelas máquinas charmosas não entra nada de leite? É água quente com isso, água quente com aquilo, e era claro que ele sabia, pois que era muito mais frequentador que ela, e ela sabia que estava falando para ele algo que ele sabia, mas era legalzinho.


No fundo ela sabia que aquilo não era normal. E sabia também, que mesmo que ele estivesse ali, ele não estaria ao seu dispor o dia inteiro para conversas sobre banalidades gostosinhas, esse tipo de conversa que um casal só leva em inícios de relacionamentos. E que as pessoas não são siamesas, ele nunca estaria disponível para ela o tempo todo.


Foi procurar um médico. Doutor, etcétera, etcétera, coisa e tal, e resumiu ao psiquiatra suas queixas, finalizando com a pergunta que não quer calar: estou doida?


O doutor falou coisas complicadas como transferências, ausências, psicoses, distúrbios de personalidade, comportamentos destacados da realidade, transtorno obsessivo compulsivo, id, ego, superego, chegou num ponto em que ela parou de prestar atenção e disse você está entendendo? para ele.


Se ela tivesse vindo falar comigo eu diria você é uma romântica minha filha, com certa recusa em aceitar a realidade em sua dureza, então foi pelo lado mais fácil, o do sonho. Mas você cuida direitinho do seu trabalho, não? Vai sem problemas ao supermercado? Ao Banco? Aos compromissos? Você já rasgou nota de cem? Relaxa.


Ela não veio falar comigo porque não sabe que eu existo, e eu preciso então me apresentar: sou o narrador oculto desta história, e como narrador oculto realmente não existo, mas muitas vezes me emociono com a infantilidade adulta dela, vamos parar de chamá-la de ela? Vamos dar a ela um nome, que tal Rosalinda? É um nome romântico, e fica então explicado, sem aquela enrolação psiquiátrica toda o porquê de ela ser romântica, ela nasceu e ganhou um nome romântico, pronto.


Esses doutores complicam demais...


E eu, o narrador oculto desta história, sofro justamente por ser oculto, por não existir, por não poder fazer nada, por não poder entrar em minha própria história e dizer, olha, está óbvio que ele não vem, porque você não conversa só um pouquinho comigo para variar? O que não vai acontecer porque, como expliquei, ela não me conhece, nunca me viu.


Um detalhe importante é que ela se arruma toda certinha mesmo quando está sozinha, cuida dos dentes religiosamente, na base do fio dental e escovação perfeita, exatamente como fazem os bons pacientes dos bons dentistas. Não fica jamais desarrumada, sem perfume e sem maquilagem, pois ele pode chegar, e era isso que eu gostaria que ela entendesse – ele não vai chegar. É o que eu deduzo, olhando a história do ponto em que estou.


Quando eu a pego olhando para algum ponto com seu olhar distante como o de quem olha para uma estrela, imagino que ele deve ter um compromisso ou ser casado, ter uma grave deficiência física e morar na Noruega. Algo assim para mais. Ele não virá, Rosalinda, acorde, entenda que ele não vem. Relaxa. Pare de usar essas pastilhas contra o mau hálito que isso vai acabar estragando seus dentes.


Mas eu, como ela, sofro. Habitamos o mesmo mundo mas nunca estaremos juntos, dois solitários.


Um dia aconteceu o inesperado. Ela me apareceu num sonho. Vinha em trajes de dormir, que eu conhecia muito bem. Fazia frio, e ela dormia toda certinha, com malhas fofinhas e coloridas, um xale lilás de flanela, meias e sandálias cor de rosa, aquela de tiras de borracha, o xale e as sandálias que ela usa só para sair ocasionalmente da cama. Só que eu estava ao alto, como se fosse alguém importante, um juiz, ou um rei. Ela estava bem abaixo, e tentava me convencer do seguinte:


- Olha, veja bem, e acendeu nervosamente um cigarro, e eu sabia que ela fumava um único cigarro por dia, no final da noite: Vamos fazer um trato? Não tem jeito mesmo, eu falo com ele o tempo todo. Então já que não consigo evitar, e já que não há remédio para isso, você se importaria em acreditar que eu falo tudo isso para você?


- Sabe, continuava, eu ouvi desde a infância que precisamos estar com você o tempo todo, que precisamos ser amigos de você, que precisamos fazer preces, tudo o que não consigo fazer. Não dou conta de rezar um padre-nosso, não dou conta de invocar você. Então, dizia após uma tragada curta, já que eu invoco ele o tempo todo, você não poderia aceitar como sendo rezas? Foi aí que eu entendi que ela me tomava por Deus.


- Se entendi, Rosalinda, você quer consagrar todos os pensamentos que faz a ele, a mim?


- Não, não é assim. Consagrar me lembra missa, oferendas, essas coisas. Eu queria aproveitar todas essas conversas que tenho com ele do fundo da loucura do meu amor, como se fossem conversas com você. Uma vez que o amor que tenho por ele é real, e já que ele é invisível como você, e já que ele nunca virá e nunca falará comigo, exatamente como você, eu entendo que tanto faz. Você entendeu? E quero que fiquem como se fossem para você também meus looks, enfeites, maquilagens e até meu jeito de falar, já que é tudo para um ser invisível, mas está tudo se perdendo porque ele não vem. Ficou claro?


Entendi Rosalinda, disse. Invisível por invisível, e uma vez que sua vida devocional com Deus é nula, porém você nutre um amor real que está se perdendo, se esvaindo, porque ninguém o recebe, você quer reorientar toda a vida devocional que tem com a pessoa invisível dele, para a pessoa invisível de Deus. O que em sua opinião, dada a sua solidão e ausência de respostas, dá na mesma. Entendi sim. Concordo.


Ainda bem que lá de baixo ela não viu que eu tinha lágrimas nos olhos, mas eu lá de cima pude ver lágrimas nos olhos dela.


Ela apagou o cigarro sob as sandálias cor de rosa, ajeitou o xale lilás, e sem dizer mais nada caminhou na direção do escuro do resto de minha noite, mas quando amanheceu, aconteceu o inacreditável: Eu me vi pensando que existia, e pensando em Rosalinda o tempo todo, e em todas as banalidades do dia, exatamente como ela fazia com ele, e faço isso até hoje, e tanto, que já chego a acreditar que existo, que Rosalinda existe, que estamos juntos e somos felizes como num sonho.

 
Só não sei mais se sou o narrador oculto ou se sou mesmo Deus. Mas seguindo a lógica de Rosalinda, como ninguém me ouve e ninguém me vê, tanto faz.


Numa tarde dessas, agindo como se existisse, eu fiz café para mim, e me assustei quando servi duas xícaras na mesa vazia. O susto me fez derrubar o açucareiro de porcelana branca, derramando tudo, e nós dois recolhemos o açúcar e os cacos esparramados, dando risadas.

domingo, 17 de junho de 2012

Ó, seguinte


Ó, seguinte, estou pelas tampas desse povo falar que não escrevo direito. Por conta disso, fui até a Biblioteca Mário de Andrade, em fiquei mó tempão vendo um livro bem grosso, e agora vou dar um recado copiando o jeito de escrever do livro, e vocês vê se não me enche! Ass: Mary

 “Prezados e mui symphaticos leitores,

 E’ com immensa allegria que venho communicar que a intervencção cirurgica por que passou a irmãn de nossos genitores (vulgo tia) foi coroada de plenno exito, e a mesma vae se recuperando largamente.

 Fómos visital-a neste ultimo sabbado, levámol-e flôres, porém o faccultativo obstruiu a entrada das mesmas, dizendo-nos que as flôres não cahiriam bem ao estado ainda dellicado da convalescente.

 Levámos também um atrahente cartão num envelope de côr magentha, também conhecida como fuchsia, por ser essa a côr predillecta da irmãn de nossos genitores (vulgo tia). O nosso mui amigo Adeodato (vulgo Déo) , adrede nos communicára em reuniáo que, perguntariamos  á irmãn de nossos genitores (vulgo tia), o que ella gostaria de vêr em primmeiro logar; isto posto, escrevemos essas pallavras no cartão esthampado com mui bellos lyrios e rosas, como sabemos ser do gosto da distincta senhora nossa ammiga.

 Ao entrarmos nas dependencias destinadas por aquele hospytal á convalescente, não podémos deixar de expressar nossa alegria por achal-a por de mais engraçada, com umma protecção de materia plastica sôbre suas vistas. O mesmo faccultativo também communicou-nos que não deveriamos beijal-a por questões de hygienne (gérmens.)

 A referida senhora leu o cartão, sorriu, pediu uma penna, e no verso do mesmo declinnou a sua resposta.

 Antes, na sala de espéra, o Sr.Hagah disséra que provavelmente ella quereria visitar o Archo do Triumpho. Já a Srta. Emme, aventtou que ela haveria de desejar vêr as Pyrammides do Egypto. O Sr. Adeodato (vulgo Déo) já tinha decclarado que fosse qual fosse a sua escolha, nós realizariamos toda a nossa fazenda, (NÃO SEI O QUE É ISSO, EU NÃO TENHO FAZENDA!)e fariamos a vontade da convalescente.

 Continuando o relacto: a irmãn de nossos genitores (vulgo tia), escreveu atráz do cartão as seguintes palavras: “Quero visitar o tucanno da Eschola Rural de Monteyro Lobbato.”

 Os Srs. e  Srta.Hagah e Emme ficaram um tancto desappontados, pois a meu vêr, elles imaginavam que iriam realizar sua primeira viagen ultrammarina, e também immagino que seria a primeira viagen á bórdo de uma aeronnave dos dous. Mas com um sorriso assaz ammarelo disseram: ficamos mui felizes pela escolha da senhora, titia.

 Eu e o Sr. Adeodato (vulgo Déo) não ficamos nada desappontados, pois essa com esta phrase: quero visitar o tucanno da Eschola Rural de Monteyro Lobbato,  apennas confirmou  o rogar de nossas precces – que a irmãn de nossos genitores (vulgo tia) está effectivamente de volta, pois attictudes dessa natureza combinam com o que conhecemos de sua estimada pessôa.

 Sendo assim, apennas aguardámos o parecer finnal do faccultativo para leval-a connosco, e rumaremos à dicta Eschola Rural para Creanças, onde certamente a irmãn de nossos genitores (vulgo tia) poderá externnar toda a sua gratidão ao Pae das Luzes por estar curada, e seguramente ella se assentará em um banquinho que há naquele bello jardim, e comtempplará emocionada esse sympatico annimal de sua predilecção, o Tucanno, (vulgo Tucco) bem como as dellicadas florezinhas e hortaliças que há por lá.

 Sendo assim, agradecemos de coração aos distinctos leitores por suas precces pela reccuperação da irmãn de nossos genitores (vulgo tia), e agora vou finnallizando este relacto, pois seguirei em viagem á cidade de Apparecida para alli deixar meus ex-votos, e em seguida irei á uma Cachoeira deixar uma offerenda para a Senhora das Mattas, e também irei a uma Egreja que possue uma machina que acceita cartões de materia plastica para alli deixar a decima parte de todos os meus rendimentos mensaes, finnalizando assim a somma de minhas promessas, fructo da grande afflicção por que passámos.
Afectuosamente,
Maria  Purissima da Annunciação  Fernandéz  Cordeiro (vulgo Mary)”