sexta-feira, 30 de janeiro de 2009

Lvcivs

Para uma metodista de amor e de paixão como eu, noto que falo pouco de minha igreja, e explico: não vou à igreja há uns pares de anos. Mas o meu problema foi com pessoas, jamais com ela, a minha amada igreja metodista. Se um dia eu mudar de bairro, ou de cidade, ou de estado, ou mesmo de país, eu vou procurar sempre uma igreja metodista para freqüentar. Lá eu me sinto completamente à vontade, lá é minha casa, meu segundo lar.

Então para resgatar essa lacuna, vou falar do meu querido Pastor Luciano, pois ele representa para mim o que há de melhor em nossa igreja.

Luciano José de Lima foi “meu” seminarista, lá pelos anos noventa. Digo “meu” seminarista, porque ano após ano, o bispo mandava seminaristas para a gente acabar de criar. Era um perfeito desastre. Eles chegavam gaguejando, engasgando, procurando Gênesis em Apocalipse, indo de Judas para Pilatos sem chegar à parte alguma, dava vontade de subir no púlpito e pedir para pregar no lugar deles. Felizmente nenhum pregava sobre Elias e Eliseu, aí com certeza o desastre seria completo. Eles ficavam só nos quatro evangelhos mesmo, menos mal, menos probabilidade de erros.

Creio que isso ainda continua, infelizmente o bispo tem mania de mandar os jovens aprendizes para as igrejas mais simples e...entenderam por onde passa minha implicância?

Até que chegou o meu querido Lucianinho, essa fofura que está aí nas fotos.




O Luciano chegou com didática. Ele não concordava com a utilização de linguajar simples apenas porque a congregação era simples. Ele dizia, se as pessoas não sabem, eu devo ensinar. E do alto do púlpito ele introduzia palavras em latim, grego, hebraico, mas era uma didática mansa, gostosa, até as velhotas entendiam e gostavam. Não era só um desfilar de língua antiga, ele nos ampliava o conhecimento da história, e era um deleite. E seguia citando de Rubem Alves a Nietzsche, as paredes de nossa igrejinha nunca tinham ouvido aqueles sons, era engraçado e era bom.

Foi a primeira vez que os membros de nossa igreja ouviram frases como “O rabi errante de Nazaré”. Foi ele também quem teve a coragem de levantar questões como: houve mesmo multiplicação de peixes? Porque a palavra multiplicação só aparece no título, ele dizia. Mas ele não era um levantador de polêmicas, a pregação sobre a “partilha dos pães e peixes” foi uma das mais belas que já ouvi.

Foi com ele também que aprendi a frase que já citei aqui: Somos conspiradores do bem...

Foi o primeiro pastor que demonstrou ter uma linha de pregação para todo o ano, levando em conta o perfil e as necessidades da igreja, nada daquela iluminação de “O Senhor me mandou dizer nesta noite...” Todas as suas pregações eram de cunho social, sem perder de vista a Boa Nova.


Luciano pregava olhando para o relógio. Quinze minutos, ele dizia. Se eu não conseguir passar a minha mensagem em quinze minutos, algo está errado comigo.

Mesmo quando a tínhamos três ou quatro pessoas na igreja, ele ministrava a Eucaristia usando sua bela toga roxa.

Chorei na sua formatura...




Saudades Luciano, meu orgulho, meu seminarista do coração, hoje já um presbítero, professor da nossa universidade, orgulho da igreja metodista, viva você!

Que você esteja conspirando por aí, construindo pontes e não muros, como você gostava de dizer. Abaixo os guetos! não é mesmo? Abaixo os guetos, e por um cristianismo autêntico, ecumênico, em Cristo, com Cristo. Amo você.