“Imoral é o poeta que escreve ruim, este é pornográfico até dormindo”
José Alcides Pinto
Um dia farei um poema
não à Solano Trindade.
Mas um poema, louco, despudorado,
sem meias palavras, sem “cortes”,
sem nada de hermetismo,
sem nenhuma filosofia,
sem nenhuma frescurite,
sem nenhuma explicação.
Que seja entendido
por quem quer que dele se aproxime
II
Quero um poema propositadamente
diferente daquilo feito
pelos poetastros sabichões
- esses que escrevem duas linhas
em forma de poesia:
desconexas, insossas, inodoras, incolores
e sonham com o Prêmio Nobel
no próximo verão.
III
Chega de surrealismo tupiniquim.
Nada mais chato e imoral
do que ver um bando de idiotas
diante de uma página quase branca,
discutindo o “nada”, o “abstrato” dos “abstratos”,
todos com ares de sábios de Grécia antiga
em torno de frases abestalhadas,
quase sem nenhum sentido.
IV
Como o velho Bandeira,
estou farto de poetastros
cheios de pretensões e mesmices;
chega dos borges periféricos,
dos pounds, dos paz, dos maiakovski,
dos eliots, dos aragons, dos bretons, dos guilléns
mal lidos, mal digeridos
e vomitados a todo vapor
por todos os pedantes inovadores,
que lêem seus preferidos
muitas vezes no original
- em especial os castelhanos,
os quais não entendem
(muito menos se fazem entender)
vamos fazer poemas sobre nossa realidade:
poemas simples, terra-a-terra,
à Ascenço Ferreira, à Manuel Bandeira,
à Cassiano Ricardo (Castro Alves continua vivo)
e deixemos a macaqueação de lado.
V
Por favor, deixem os elouard em paz,
deixem prévert em paz.
O cadáver de Breton quer apodrecer.
não maculem a memória de Fernando Pessoa
Sejam vocês mesmos, porém sem incomodar ninguém.
Drummond – só existiu um.
Por favor, deixem as carcaças
dos irmãos campos federem em paz
- já nasceram mortos. Bem mortos.
chega de concretismo, chega de formalismo, chega de
estruturalismo, chega de prosa,
chega de idiotismo. Ora, pois, pois!...
Estamos conversados
Aristides Theodoro
Toca Filosófica 26/7/2006