sábado, 11 de abril de 2009

Ressuscita-me!


O endereço daquele lugar não se encontra em nenhum site de buscas, e nem o seu telefone em nenhum catálogo. Também não adiantaria telefonar: informações, só pessoalmente.

Ali não se aceita cheque e nenhum tipo de cartão de plástico: dinheiro, apenas.

Ali não se vê homens. As mulheres que ali chegam estão por vezes sós, ou acompanhadas de uma discreta amiga, essa praticando a milenar e sofrida solidariedade feminina.

Na sala de espera daquele lugar as mulheres não se falam, aguardam de olhos baixos, silenciosas. Falar o quê?...

Ali pode-se ter a opção de declinar um nome falso, causando muitas vezes confusão:

- Teresa, a próxima! Teresa!

- Ah, sim, Teresa sou eu, levanta-se Maria, o coração num salto.

Lá, anjos de morte de frias mãos enluvadas rapidamente amaldiçoam a vida, que se esvai pelos ralos sem nem mesmo a desumana piedade de uma rápida prece. É esgoto, foi.

Ali o que outrora fora um abençoado casulo de vida, rapidamente se transforma em oca presença da morte. E é o fim.

Mas é dali também que renasce a centelha de esperança. O arrependimento, que chega tarde mas não tarde demais, instila a pequeníssima fé de que as coisas poderão mudar.

E ela acaricia o ventre murcho, mas sabe que a vida voltará, há esperança, sim, há! seu ventre ainda é vivo, a vida há de reencontrar o seu curso.

E renascerá.