sábado, 6 de setembro de 2008

Vinde a mim os pesquisadores

 Se você teclar farinha e azeite no Google você virá para mim, creio que já disse isso. Está aí uma dica para você que me visita vez ou outra, não me tem em seus favoritos – e para quê o teria, não é mesmo – mas que esquece como digitar o título deste blogue no navegador. Confesso que até eu não acerto. Digite farinha e azeite, juntos, que você me acha. Esse foi um presente de papai do céu para mim. Aconteceu sem eu planejar, até porque se eu tivesse planejado não teria dado certo.

Só para nos situarmos mais uma vez, este sítio conta a história de uma mulher que sobrevive com muito pouco, e esse pouco você chama do que quiser: dinheiro, diplomas, sobrenome importante, amigos influentes, cargo, posição, família numerosa, enfim – pouco. Pouco de tudo. E com esse pouco, essa mulher consegue ir acrescentando dia após dia em sua vidinha, com um tanto de esperanças, outro de preocupações, outro tanto de tristezas, alguma alegria de cá, um monte de incertezas de lá, entremeado de dívidas e dúvidas, e se esforçando para manter o bom humor acima disso tudo. E a gente vai levando, como dizia o Tom Jobim.

Sei que não precisaria falar disso para você, meu amiguinho e amiguinha constantes. Vocês de tão adoráveis que são, já se prestaram até a perder tempo compondo comigo um poema do blogueiro doido, está logo abaixo, para nos envergonharmos juntos. E já apareceram também uma ou duas malucas oferecendo até ajuda material, de verdade.

Não. Não falo a vocês. Mas aos caçadores de estudos bíblicos, que chegam até aqui procurando coisas como: qual o nome da viúva de Sarepta? Qual a importância do azeite e da farinha na visão do antigo testamento? Qual o significado do azeite na bíblia? O que significa a escassez da farinha na bíblia? E outras besteiras assim.

Para esses, eu digo duas coisas, e a primeira é que lugar de pesquisar com consistência é uma boa e velha biblioteca. Há que se pegar um livro com as mãos, sentir o livro, ler o conhecimento que foi deitado ali do começo ao fim, acompanhar o pensamento do autor, analisar, ponderar, para poder concordar ou não. Google é lugar de satisfazer curiosidades banais, como por exemplo encontrar o blogue da Bete.

A segunda é o seguinte: se você está realmente interessado em estudos, este blogue conta, dia a dia, um estudo sobre a vida de uma mulher que administra a carência e a escassez, nada diferente do que todos os membros de sua igreja juntos, aos domingos, todos bonitinhos e com os dentes bem escovadinhos. Porque neste brasilzão, todos administramos a falta de tudo. Somos todos carentes e inadimplentes, devemos desde o alimento que colocamos na mesa – comprado no cartão de crédito, os que temos sorte (ou azar) de tê-lo, até o carro reluzente que ostentamos na garagem, alienado até a volta de Cristo. Devemos o aluguel ou a hipoteca, devemos o colégio dos filhos, à academia, ao dentista, devemos sempre ao Banco, devemos soluções aos nossos filhos, ao nosso empregador, devemos respostas à sociedade, devemos, devemos, devemos. E isso para não falar daqueles que de tão miseráveis já não devem nada, porque já nem existem...

Se você, pastor ou obreiro, que está percorrendo furiosamente a net, no afã de achar alguma mensagem, algum algo, para levar aos seus fiéis, leve a sua própria história. Que não deve ser nada diferente da minha. E ouça as histórias deles, iguais também. A bíblia nada mais conta do que as histórias de homens e mulheres, então porque não deixar a bíblia um pouco de lado, e ouvir as histórias das pessoas um pouco, só para variar?

Eu acredito que a bíblia ainda não está escrita, quem autorizou quem a fechar o livro e jogar fora as chaves? A nossa história ainda está sendo contada, e eu estou fazendo a minha parte. E sei que ao contar a minha história, estou contado a de muita gente. Tem dias em que entro aqui chorando, me lamentando. Noutros, com raiva, reclamando de tudo. E tem dias que até conto alguma historinha que sei que irá emocionar alguém. E noutros, convido os blogueiros doidos a escrever comigo. Ou seja – a nossa história. Nossa história é assim, cheia de altos e baixos e dependências mútuas. Sou uma viúva a espera de Elias, assim como sou uma brasileira à espera de um bom presidente, uma trabalhadora à espera de um bom emprego, ou uma mãe à espera de ver o filho passar no vestibular para uma universidade pública. Ou até uma desesperada à espera de ganhar na loteria, na maioria das vezes.

E você, não?


Caçadores de estudos bíblicos, que têm ficado aqui zero segundos: o lugar de vocês é aqui sim, muito mais do que vocês pensam.