quinta-feira, 18 de setembro de 2008

Desculpe então

 Quando eu era bem pequenininha, assisti a um desenho na tevê, e infelizmente não lembro o nome para dar o crédito. Era um garotinho mal educado que usava óculos. Ele tirava os óculos e saia atacando e batendo em todos seus coleguinhas. Aí quando os molequinhos vinham revidar, ele colocava os óculos. Os molequinhos saiam fulos de raiva, porque não podiam agredir alguém usando óculos.

Essa tem sido a nova moda praticada entre crentes. Sim, porque o pessoal que não está nas igrejas, o povo da vidona aqui de fora, pelo menos não comete o ato de cara de pau de nos ofender a torto e a direito e vir depois pedir desculpas. Mas o povo “cristão”, ah...com esse é bem diferente.

Certa mocinha assumiu publicamente um compromisso comigo na igreja, em uma época, e eu fiquei aguardando. Passaram uma semana, duas, três, quatro. Foi então que eu emiti minha consternação, por ela simplesmente ter esquecido o compromisso assumido comigo. Então ela me passou um e.mail, todo em maiúsculas: EU SOU HUMANA! EU SOU FALHA! EU SOU PASSÍVEL DE ERROS!!! SÓ DEUS É PERFEITO!! (Deus em negrito) VOCÊ NÃO ESTÁ SABENDO EXERCITAR O PERDÃO!!! E por aí afora.

Ou seja, fui vítima duas vezes. A situação se inverteu: se eu não perdoasse, passaria a ser eu a agressora.

Eu ficaria aqui contando vários casos desse tipo, mas acho que você já “pescou” o tipo. São aqueles que fazem do dever de perdoar, assumido pelos cristãos, um confortável biombo para acobertar sua falta de vergonha na cara, de palavra, de responsabilidade, e também sua língua solta: Eu falei tal coisa contra você, mas eu sou humano, e o Senhor manda perdoar! Se você não me perdoa, você não está sendo um bom cristão...

Um tempo eu respondia e.mails desse tipo, hoje desisti. Gente cretina não sabe ler. Gente cretina são os tais dos analfabetos funcionais. Lêem, mas não conseguem contextualizar o que está ali escrito. Se você passar um e.mail de resposta contendo digamos, umas quinze linhas, gente cretina capta só uma linha, e responde refutando apenas aquela única linha. E em maiúsculas, claro, gente cretina adora escrever em maiúsculas, isso porque eles mesmos não acreditam no poder de convencimento daquilo que escrevem.

Para gente cretina é preciso fazer um desenho, com solzinho, estrelinha, luinha, casinha e palmeirinha. Mas fazer do lado deles. Porque se você mandar o desenho pelo correio eles já não entendem.

Porque a resposta inteligente nessas situações seria: Fulano, tudo bem, eu até permito que você venha me ofender. Eu permito que você diga a meu respeito o que você quiser. Eu admito que você falhe. Mas não admito que você venha me pedir desculpas. Veja bem, CRETINO (em maiúsculas): não significa que não estou perdoando. Significa que NÃO admito que você me ofenda a torto e a direito e na seqüência venha se desculpar. Saia à francesa. Já me ofendeu? OK, agora me deixe em paz!

Nunca que um imbecil entenderia esse discurso. Ele sairia dizendo: É... a Bete NÃO aceitou minhas desculpas...

Como explicar para esse cretino que praticar deliberadamente uma ofensa, e na seqüência vir postular o perdão – prática que faz parte fundamental de nossa vivência cristã é uma maneira absurda de colocar o agredido frente a uma situação na qual ele não tem escolha? E que portanto usar e abusar desse tipo de atitude é abjeto?

Para entender isso ele precisaria ser inteligente. Como os leitores deste blogue, por exemplo.

Então mais certo estava o meu pai, eu vou contar, tenha só mais um pouquinho de paciência que a historinha é rápida: meu pai almoçava sempre num restaurante de Avenida São João. Havia por lá um sujeito que não tinha uma das pernas, e usava uma prótese tosca, uma perna de pau. E o infeliz se divertia em estender a perna de pau – que tinha a mesma aparência das cadeiras – para fazer as pessoas tropeçarem. Ninguém fazia nada contra o sujeito respeitando sua deficiência. Meu pai assistia a isso sempre quieto, porque não era com ele. Até que num dia o desgraçado estendeu a perna de pau no caminho do meu pai. Meu pai pegou o sujeito pelos colarinhos, e aplicou um soco bem no meio da cara do palhaço, jogando-o ao chão. Quando isso aconteceu, todos no bar aplaudiram! E o dono do bar falou ao meu pai: - todo mundo aqui tinha vontade de fazer isso, mas ninguém tinha coragem.

Não sou adepta da violência como solução, mas que essa historinha é boa lá isso é.