segunda-feira, 18 de agosto de 2008

O banco central

 Há algum tempo atrás eu prestei concurso para ingresso no Banco Central do Brasil. Tomei fôlego, juntei umas economias para a inscrição e o material de estudos, uma amiga me arranjou uns livros de Direito, e eu tratei de levar aquilo a sério. Chegava em casa por volta das oito da noite, tomava um banho, jantava, assistia ao Jornal Nacional como parte do preparo – de caderno em punho anotando as notícias de destaque, e em seguida abria os livros e ia até meia noite. Isso todos os dias. Nos finais de semana, após terminar todas as tarefas da casa, ia para os livros também.

Comecei até a gostar. Fiquei craque em Direito Administrativo. Gostei muito de Direito Civil. Também passei a entender melhor a máquina administrativa brasileira, as atribuições do presidente da república, do executivo, legislativo, judiciário, coisas que eu ouvia na televisão mas que não sabia muito bem como funcionava. Entendi os meandros das aprovações das leis. Entendi dos direitos e deveres dos funcionários públicos. Aprendi sobre normas de segurança, e gostei até mesmo daquelas questões de pega bobo, as tais questões de raciocínio lógico.

O salário seria bom, algo na casa dos três mil dólares. Meu filho poderia freqüentar uma boa faculdade. Eu voltaria a usar terninhos e echarpes, que adoro. Almoçaríamos em bons restaurantes vez ou outra. Poderíamos ir a teatros, cinemas. Eu voltaria a comprar discos e livros. Uma tevê de boa definição também viria a calhar. Viajar. E como sou econômica, poderia fazer uma poupança com vistas a uma possível viagem ao estrangeiro, ou talvez para comprar um carro.

Como sou meticulosa, fui ao local do concurso um dia antes, até porque seria no bairro Santa Cecília, que não conheço bem. Uma vez por lá, aproveitei para conhecer inclusive a classe onde seria a prova.

Então para o serviço ficar completo, fiz ali uma contudente oração. Creio que foi a oração mais emocionada que fiz nos últimos tempos. Não pedi nenhum milagre, afinal eu tinha estudado. Pedi apenas que o Pai desse uma aclarada nas minhas lembranças, enviasse talvez um anjo ou dois para ajudar a ordenar minhas idéias...alguma coisa básica assim.

Falei das dificuldades dos últimos tempos. Não falei nada do terninho. Falei da faculdade do meu filho.

Minha classificação não foi das piores. De um total de vinte e dois mil inscritos, a minha foi a de número 2722. Boa, mas insuficiente para classificar.

Não foi dessa vez que voltei a usar
terninhos. Creio que continuarei comprando minhas roupinhas aqui. E meus livrinhos aqui. E almoçando aqui.