Um amigo de nossa família, a quem eu chamarei de Antônio, é professor primário, e a sua vida não vai pra frente. Você irá pensar que isso ocorre devido ao seu baixo salário, e eu lhe direi, também, mas não é apenas por isso. A vida de Antônio não vai pra frente, de forma alguma, porque ele ouve vozes. Esse triste fato ele só comenta com as pessoas mais chegadas, ele é nosso amigo antigo, por isso sabemos.
- Antonio, que tipo de vozes? masculinas?femininas? Vozes de todo tipo, ele responde.
- Antonio, essas vozes falam o quê? Elas falam de todo tipo de assunto.
- Destacado? Você identifica os assuntos? Às vezes sim, às vezes não. Na maioria das vezes é um burburinho de vozes.
- Isso ocorre o tempo todo? Sim, o tempo todo.
- E como você acostuma? Não acostumo, ele responde.
Isso me deixa tremendamente penalizada. Procurei nas comunidades de orkut, encontrei algum material sobre o assunto. As opiniões se dividem muito. Tirando aqueles que só estão nas comunidades por farra, encontrei os que se auto intitulam possuídos por demônios, outros que se dizem escolhidos para alguma missão divina só que não sabem qual, os que se acham loucos pura e simplesmente. Os conformados. Os que tomam calmantes.
Tal fenômeno não encontra grande ajuda da ciência. O mais perto de uma explicação científica a que cheguei foi a seguinte: todos nós ouvimos vozes e barulho o dia inteiro, vindos de todos os lados. Essas pessoas, “gravam” esses sons no cérebro, e essa gravação é reproduzida continuamente. Então essas vozes nada mais são do que a reprodução de todas vozes que o individuo tem ouvido ao longo de sua vida.
Uma explicação que não traz nenhum consolo, e muito menos alívio. Se a pessoa for a um psiquiatra, poderá receber receitas de calmantes, a pessoa um tanto mais sonolenta, terá tendências a ouvir menos as tais vozes, mas isso é um paliativo, e tem também o fato de que não se pode ficar sedado o tempo todo.
Em muitas manhãs, coitado, ele está no ponto de ônibus a caminho de um novo dia, quando precisa voltar. Não há como seguir em frente, ele diz, com aquela barulheira toda na cabeça. E mesmo voltar para o seu pobre quartinho de pensão, não traz alívio, as vozes não o deixam. Então a vida dele é essa tristeza. O único conselho que me ocorreu, foi dizer a ele que comprasse um aparelho para ouvir músicas com fone de ouvido. Ao que ele me replicou que isso só complicaria o barulho.
Eu e minha famigerada bipolaridade, amparadas que fomos por alguns artistas que assumiram ou inventaram que tinham essa doença, por achá-la bonitinha, de certa forma recebemos com isso alguma ajuda, pouca, é verdade. Mas eu já posso, pelo menos em roda de amigos íntimos, me queixar. E ainda há remédios, eu não os tomo porque não quero gastar. O Antonio, porém, vive essa doença para a qual não há remédios, de forma solitária; mesmo em nossa família, onde ele é conhecido há mais de trinta anos, ainda há quem o acuse, quem diga que esse mal é culpa dele, que deveria procurar por algum tipo de “oração forte”, ou trocar a igreja adventista, que ele freqüenta há anos, por uma de mais “poder”.
Estou contando este fato porque me lembrei dele a partir de uma visita que o meu blog recebeu do Volney. Ele me falou de pessoas ignorantes que espiritualizam as doenças. O nosso amigo evita comentar os seus sintomas, porque logo aparecerá alguém dizendo que ele está possuído por demônios ou espíritos, e que o pastor tal, ou o terreiro de umbanda tal, ou a mesa branca tal terá a solução.
Então era isso. Pão tirado do forno. Hoje eu quis chamar você para refletir sobre as pessoas que sofrem dessa doença, sem explicação, sem remédio, sem alívio, sem ninguém para compartilhar, e também para refletir sobre essa maneira leviana, que muitos têm, de tratar de um assunto que ignoram. O meu pobre amigo, além de conviver com esse mal, ainda convive com a acusação de que é culpado pela doença que tem. Triste não?
- Antonio, que tipo de vozes? masculinas?femininas? Vozes de todo tipo, ele responde.
- Antonio, essas vozes falam o quê? Elas falam de todo tipo de assunto.
- Destacado? Você identifica os assuntos? Às vezes sim, às vezes não. Na maioria das vezes é um burburinho de vozes.
- Isso ocorre o tempo todo? Sim, o tempo todo.
- E como você acostuma? Não acostumo, ele responde.
Isso me deixa tremendamente penalizada. Procurei nas comunidades de orkut, encontrei algum material sobre o assunto. As opiniões se dividem muito. Tirando aqueles que só estão nas comunidades por farra, encontrei os que se auto intitulam possuídos por demônios, outros que se dizem escolhidos para alguma missão divina só que não sabem qual, os que se acham loucos pura e simplesmente. Os conformados. Os que tomam calmantes.
Tal fenômeno não encontra grande ajuda da ciência. O mais perto de uma explicação científica a que cheguei foi a seguinte: todos nós ouvimos vozes e barulho o dia inteiro, vindos de todos os lados. Essas pessoas, “gravam” esses sons no cérebro, e essa gravação é reproduzida continuamente. Então essas vozes nada mais são do que a reprodução de todas vozes que o individuo tem ouvido ao longo de sua vida.
Uma explicação que não traz nenhum consolo, e muito menos alívio. Se a pessoa for a um psiquiatra, poderá receber receitas de calmantes, a pessoa um tanto mais sonolenta, terá tendências a ouvir menos as tais vozes, mas isso é um paliativo, e tem também o fato de que não se pode ficar sedado o tempo todo.
Em muitas manhãs, coitado, ele está no ponto de ônibus a caminho de um novo dia, quando precisa voltar. Não há como seguir em frente, ele diz, com aquela barulheira toda na cabeça. E mesmo voltar para o seu pobre quartinho de pensão, não traz alívio, as vozes não o deixam. Então a vida dele é essa tristeza. O único conselho que me ocorreu, foi dizer a ele que comprasse um aparelho para ouvir músicas com fone de ouvido. Ao que ele me replicou que isso só complicaria o barulho.
Eu e minha famigerada bipolaridade, amparadas que fomos por alguns artistas que assumiram ou inventaram que tinham essa doença, por achá-la bonitinha, de certa forma recebemos com isso alguma ajuda, pouca, é verdade. Mas eu já posso, pelo menos em roda de amigos íntimos, me queixar. E ainda há remédios, eu não os tomo porque não quero gastar. O Antonio, porém, vive essa doença para a qual não há remédios, de forma solitária; mesmo em nossa família, onde ele é conhecido há mais de trinta anos, ainda há quem o acuse, quem diga que esse mal é culpa dele, que deveria procurar por algum tipo de “oração forte”, ou trocar a igreja adventista, que ele freqüenta há anos, por uma de mais “poder”.
Estou contando este fato porque me lembrei dele a partir de uma visita que o meu blog recebeu do Volney. Ele me falou de pessoas ignorantes que espiritualizam as doenças. O nosso amigo evita comentar os seus sintomas, porque logo aparecerá alguém dizendo que ele está possuído por demônios ou espíritos, e que o pastor tal, ou o terreiro de umbanda tal, ou a mesa branca tal terá a solução.
Então era isso. Pão tirado do forno. Hoje eu quis chamar você para refletir sobre as pessoas que sofrem dessa doença, sem explicação, sem remédio, sem alívio, sem ninguém para compartilhar, e também para refletir sobre essa maneira leviana, que muitos têm, de tratar de um assunto que ignoram. O meu pobre amigo, além de conviver com esse mal, ainda convive com a acusação de que é culpado pela doença que tem. Triste não?