sábado, 17 de maio de 2008

pão-de-gratidão

 - Homem não gosta de mulher de cabelo crespo, pode até ficar com ela um tempo, mas sempre acaba com uma de cabelo liso. Era a Samantha, a quarentona da série Sex and the City, falando às outras três novaiorquinas em uma mesa de bar, a tal mesa de bar da dor de cotovelo, por onde eu mesma já andei muito, não em Nova Iorque, claro.

Continuando, ela explicava: - Lembram do Robert Redford, o Hubbel do filme “Nosso amor de ontem?” Ele não ficou com a ka-ka-Katie (a Katie era meio gaga), ficou com uma moça certinha de cabelos lisinhos. A encrespada Katie era a judia Barbra Streisend. Mesmo ela tendo um filho dele, ele a trocou pela moça de cabelos lisinhos, na versão simplificada de Samantha.

Outra, e desta vez é George Constanza, da hilariante série Seinfeld. Ele está articulando um encontro no escuro, com uma garota amiga de Elaine Benes:

- Elaine, se eu colocar meus dedos entre os cabelos dela, você garante que os meus dedos irão correr? Hahahahaha, era eu na poltrona!

Nunca tive a sensação de dedos masculinos correndo pelos meus cabelos. Encrespada de nascença, eu sempre dava um jeito de pular essa parte, já ia tirando a mão dos moços dos meus cabelos, porque sabia que ia ser difícil para eles encontrarem de novo a mão.

Também passei grande parte de minha vida sem saber da sensação de cabelos balançando ao vento, ou de displicentemente, enfiar os dedos nos cabelos e corrê-los até a ponta. Eu sonhava em fazer isso, morria de inveja das moças que o faziam, dessa simplicidade que o meu encrespamento não permitia. Cabelo crespo a gente não arruma em público, e não penteia, a gente ajeita, amassa daqui, amassa dali, e sai à rua pedindo a Deus para que não tenha vento. Falando em Deus, já considerei também a possibilidade de virar muçulmana, e esquecer o assunto de vez.

Mas eis que no fundo do túnel surge uma luz, uma pessoa maravilhosa, abençoada, iluminada, para quem vai o meu pão desta tarde fria, juntou formol com queratina e...deu certo! Nasceu a escova progressiva, maravilha que literalmente plastifica os cabelos, deixando-os lisos para sempre.

Quando a fiz pela primeira vez, e na primeira lavagem, ao constatar que após usar o secador, o cabelo estava lisinho da silva, quase caí de joelhos! O cabelo liso faz até barulhinho, nunca tinha ouvido aquele barulhinho. E correr os dedos pelos cabelos então! Na frente de qualquer um, no ônibus, no trem, no escritório, ai, que felicidade!

Se essa maravilha tivesse entrado em minha vida há uns trinta anos atrás, até minha história teria sido outra. E não venham me falar que o cabelo crespo é natural, é bonito, que eu devo ser fiel às minhas raízes, e essa bobajada toda. Sou fiel às minhas raízes. Tanto que as retoco, uma vez por mês.

Só ficou faltando então a sensação dos dedos masculinos percorrendo os meus cabelos, e isso é o que está mais difícil ultimamente.