Olá,
eu sou o Déo, e venho apresentar o episódio de hoje: eu e a Mary estamos
descendo a Brigadeiro no nosso carro, em uma normal sessão de xingamentos:
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Anta.
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Anta é você.
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Anta.
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Anta é você.
Tenho
preguiça de botar pontos de exclamação. E estou com preguiça também de ampliar,
porque são apenas variações sobre o mesmo tema, então vou acelerar a fita, e colocar
aqui somente duas variações:
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Anta do banhado, só come capim mofado.
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Anta do riachão, só come capim podrão.
Eu
e a Mary temos mania de brigar disputando em rimas, verdadeiros cordelistas
urbanos. Se um dia deixarmos de ser vagabundos da vida, poderemos vagabundear por
outras paradas, uma delas será publicando um livro maneirinho com nossas brigas
rimadas, e vamos ao Jô, e ficaremos ricos, e vamos morar lá onde moram aqueles bofes
que seguem fielmente os passos de Jesus, como é mesmo o nome? Boca Raton.
Mas
vamos parar por aqui, e passar para o babado do dia: o motivo dos xingamentos. É
que “ambos os dois” como diz a Maryzinha esquecemos do aniversário da tia; nós trocamos
totalmente as datas.Mas quando vimos que cuspir marimbondos não resolveria
nada, e também porque chegamos ao apê, paramos de brigar. É que somos preguiçosos
também, e brigar cansa.
-
Deozinhô?
Claro
que a Mary já me perdoou e eu já a perdoei, as nossas brigas nem se dão ao
trabalho de acabar, caem vazias no vazio como bolhas de sabão, fala fofa.
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Sabe, tipo quando eu era pequenininha, mi
madrecita sempre me chamava pra rezar. Ela acendia velas para a Virgem e
para São Francisco com o jesuscristinho no colinho.
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Você já me contou essa história zilhões de vezes bi. Lembra do seu ataque de
choro quando eu disse que São Francisco nunca carregou o menino jesus no
colinho?
-
Claro que chorei, que direito você tinha de zoar com a fé de mi madrecita? Mas olha, deixa eu falar,
tipo então, a gente acendia velas ano inteiro, e rezava pra Virgem e pro
santinho e pra jesus menino. Então, tipo quando chegava o natal, eu me sentia
como é mesmo aquela palavra que você me ensinou, ursada?
-
An? É difícil acompanhar a Mary quando ela está tentando chegar a um ponto, e
não adianta pedir pra ela atalhar, ela vai feito uma bordadeira, bordando ponto
a ponto e não há o que fazer, é acompanhar sua linha de raciocínio até ver onde
aquilo acaba, ursada? Ah, lembrei, a palavra é usurpada, lembra, o que a Cida
fez tomando o Rafa de você?
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Isso, aquela capivara, então. Chegava o natal eu me sentia u...eu me sentia isso
aí, porque Jesus era tipo nosso. Aí um montão de gente que nunca acendia vela nem
nunca rezava parecia que tomava posse do nosso Jesus, e o jesus menino que era
tão nosso o ano inteiro virava jesus menino de todo mundo. Aí eu disse isso a madrecita e ela disse para dejarlos. Que Jesus recebia todo tipo de
atenciòn com lo mismo cariño, Mary, não mistura português com espanhol, ah, tá,
então, que Jesus aceitava todo tipo de reza, e que todos faziam parte da enorme
família dele. – Mas quem reza todo dia não é mais especial do que quem não
reza, madressita? – No, mi cariño. – Então
porque nosotras rezàmos? – Porque nosotras tenemos necesidad.
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Tá Maria Puríssima, mas eu ainda não entendi a que ponto você quer chegar.
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Quero chegar ao aniversário da tia. Numa amizade, não tem jeito mais especial
que o outro de ser. O que é mais importante, a gente estar com quem a gente
gosta sempre, ou lembrar da pessoa só uma vez por ano? Achei que era uma
pergunta retórica, mas pra ajudar o raciocínio da minha BFF perguntei o que era
mais importante. – Os dois sabe, porque tipo depende. Depende do quanto a gente necessita
daquela pessoa. E se a pessoa souber entender, ela irá receber com o mesmo
carinho tanto a lembrança uma vez por ano, como a lembrança repetida e às vezes
até esquecida de um carinho que rola tipo tempo todo.
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Ufa! Mariúcha, fofucha, queriducha. Essa reflexão foi demais para a camada de purpurina
que envolve meu cérebro. Não sei o que responder, já sei, falando em fofucha,quero
ducha, preciso relaxar, preciso de minha banheira, meus incensos, velinhas
perfumadas e meus sais, você bagunçou meus neurônios demais.
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Não entende porque é uma biba besta.Asno barrigudo, come banana com casca e
tudo.
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Boba bobinada, vive com a cabeça enrolada.
-Rá,
perdeu a rima, imagina, não bateu com a minha, nem f...do.
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E a tua já existe, não importa, o que precisa é ter balanço.
Ter balanço.
Sei. Quero mais é meu banho maravilhoso, meus óleos perfumados, meus cremes
importados, minha taça de espumante, ora, pois, balanço... Mas não é que a loira
tinha razão?...eu ganhei na fluência mas não ganhei na cadência. Mas nada de
ficar elogiando a Mary meu bem, vai que ela descobre que é inteligente e pula
fora do nosso acordo, eu heim? Mais tarde a gente traz aqui pro apê a nossa tia
querida, e se essa reflexão sem noção funcionar, a tia nem vai ligar que a gente,
uma loira esquecida e uma biba cansada “tipo demos” com ela essa puta mancada.