O que vou contar eu li num jornal ou revista, esses pequenos contos ou crônicas, infelizmente não me lembro do nome do autor, portanto não posso dar o devido crédito. A historinha foi assim:
Certo sujeito endinheirado adorava comprar coisas para decorar seu apartamento, coisas estilosas, modernas, arrojadas, vocês sabem do que estou falando, por exemplo, uma luminária francesa, cujo preço corresponde a mais ou menos a um ano de salários de um trabalhador braçal. E quadros, esculturas, essas futilidades todas, coisa mesmo de quem tem dinheiro sobrando. Ou que não tem nada mais interessante para fazer.
Mas faltava algo! Sempre falta algo para gente desse tipo, não é mesmo? Ele queria um toque especial, algo que fosse o toque final do estilo. Então ele andava certo dia por algum lugar, e viu num bar, daqueles botequins onde se reúnem bêbados desocupados, uma pintura na parede. Se você nasceu depois de 1980, vou explicar: antigamente alguns botecos desse tipo eram decorados com pinturas feitas diretamente na parede, com motivos tropicais, em cores berrantes, imagine algo como um Pão de Açúcar, uma orla de praia, uma palmeira, um papagaio ou uma arara, talvez uma mulata, tudo isso em planos diferentes, naquelas cores de bandeira do Brasil, algo assim.
É isso, ele pensou. Uma coisa brega, mas que no meu apartamento será de uma breguice especial, algo como uma nota dissonante, um brega chique! Procurado o pintor da obra, o sujeito o levou ao seu apartamento, indicou a parede, combinou o serviço e saiu, deixando lá sozinho o Mané pintor.
Sozinho naquele apartamento bacana, jamais imaginado por alguém como ele, o tal pintor pensou: não é direito eu fazer aqui a mesma pintura do bar. Aqui é tão elegante, vou fazer assim, vou fazer uma obra prima, uma paisagem de verdade, vou fazer algo à altura, vou me superar!
E então ele fez lá uma paisagem mais elaborada, algo que correspondia àquilo que ele imaginava ser uma obra de arte. Eu imagino uma queda d’água em cascata de espumas branco azuladas, aqui e ali uma árvore com maçazinhas penduradas, um céu e um solzinho. Já vi muitas dessas pinturas em paredes de igrejas Batista e Assembléia nos meus tempos de infância.
Mas quando o tal sujeito retornou, ele ficou uma fera. Não, não era aquilo que ele queria. Aquela pintura era apenas brega, não era a nota destoante chique que ele desejava. A pintura tropical do bar, em contraste com a elegância de seu apê seria de uma breguice chique! A obra de arte do Mané pintor era apenas uma pintura cafona, nada mais.
E no entanto, ambas eram pinturas cafonas. A diferença entre ambas, a linha fina que divide as duas pinturas, é o que podemos chamar de linha da sutileza. A pintura do bar, embora cafona, tinha alguma coisa. Tinha um certo estilo, fora do contexto do bar, produziria o impacto desejado.
Será que eu soube explicar? Contei essa historinha porque adoro esses exercícios de sutilezas.
Infelizmente não encontrei nenhuma gravura parecida com as tais pinturas para mostrar para vocês, e também nunca mais vi algo parecido num boteco, creio que esse tipo de arte popular se perdeu por completo, pelo menos aqui em São Paulo.
Certo sujeito endinheirado adorava comprar coisas para decorar seu apartamento, coisas estilosas, modernas, arrojadas, vocês sabem do que estou falando, por exemplo, uma luminária francesa, cujo preço corresponde a mais ou menos a um ano de salários de um trabalhador braçal. E quadros, esculturas, essas futilidades todas, coisa mesmo de quem tem dinheiro sobrando. Ou que não tem nada mais interessante para fazer.
Mas faltava algo! Sempre falta algo para gente desse tipo, não é mesmo? Ele queria um toque especial, algo que fosse o toque final do estilo. Então ele andava certo dia por algum lugar, e viu num bar, daqueles botequins onde se reúnem bêbados desocupados, uma pintura na parede. Se você nasceu depois de 1980, vou explicar: antigamente alguns botecos desse tipo eram decorados com pinturas feitas diretamente na parede, com motivos tropicais, em cores berrantes, imagine algo como um Pão de Açúcar, uma orla de praia, uma palmeira, um papagaio ou uma arara, talvez uma mulata, tudo isso em planos diferentes, naquelas cores de bandeira do Brasil, algo assim.
É isso, ele pensou. Uma coisa brega, mas que no meu apartamento será de uma breguice especial, algo como uma nota dissonante, um brega chique! Procurado o pintor da obra, o sujeito o levou ao seu apartamento, indicou a parede, combinou o serviço e saiu, deixando lá sozinho o Mané pintor.
Sozinho naquele apartamento bacana, jamais imaginado por alguém como ele, o tal pintor pensou: não é direito eu fazer aqui a mesma pintura do bar. Aqui é tão elegante, vou fazer assim, vou fazer uma obra prima, uma paisagem de verdade, vou fazer algo à altura, vou me superar!
E então ele fez lá uma paisagem mais elaborada, algo que correspondia àquilo que ele imaginava ser uma obra de arte. Eu imagino uma queda d’água em cascata de espumas branco azuladas, aqui e ali uma árvore com maçazinhas penduradas, um céu e um solzinho. Já vi muitas dessas pinturas em paredes de igrejas Batista e Assembléia nos meus tempos de infância.
Mas quando o tal sujeito retornou, ele ficou uma fera. Não, não era aquilo que ele queria. Aquela pintura era apenas brega, não era a nota destoante chique que ele desejava. A pintura tropical do bar, em contraste com a elegância de seu apê seria de uma breguice chique! A obra de arte do Mané pintor era apenas uma pintura cafona, nada mais.
E no entanto, ambas eram pinturas cafonas. A diferença entre ambas, a linha fina que divide as duas pinturas, é o que podemos chamar de linha da sutileza. A pintura do bar, embora cafona, tinha alguma coisa. Tinha um certo estilo, fora do contexto do bar, produziria o impacto desejado.
Será que eu soube explicar? Contei essa historinha porque adoro esses exercícios de sutilezas.
Infelizmente não encontrei nenhuma gravura parecida com as tais pinturas para mostrar para vocês, e também nunca mais vi algo parecido num boteco, creio que esse tipo de arte popular se perdeu por completo, pelo menos aqui em São Paulo.