domingo, 18 de maio de 2008

Céu


Eu estava assistindo a um filme na TV Cultura, aqueles filmes que a gente nunca sabe o nome, e que sabe que nunca verá novamente. Um filme japonês, de legenda péssima, em letras brancas. Mas o filme mais comovente que já assisti. Infelizmente não guardei sequer o nome, agradeço imensamente se alguém o souber para me passar.

A história se passava no céu, e o céu era uma espécie de repartição pública, cheia de funcionários, muito metódicos e conscienciosos, mas que passavam a idéia de estarem muito cansados.

Era uma central de triagem. Cada pessoa que chegava, era avisada de que tinha um certo tempo, acho que era uma semana, para escolher o momento de sua vida em que tinha sido mais feliz, tinha que ser onde a pessoa tivesse sido completamente feliz. Ela passaria por entrevistas ao longo desse curto prazo. Escolhida a cena, eles, os funcionários, iriam fazer um filme, com base nessa cena. O recém chegado participaria ativamente na gravação desse filme. Uma vez o filme pronto, a pessoa entraria na eternidade, levando consigo única e exclusivamente essa imagem de felicidade, esquecendo todo o resto de sua vida.

A princípio, as pessoas tinham a tendência de escolher alguma imagem recente, como foi o caso de uma mocinha, que escolheu um dia de um passeio a um parque de diversões. Mas ao longo da semana de entrevistas, aquela menina foi descendo várias oitavas, descendo, descendo, até que entre lágrimas se lembrou de uma cena de ternura entre ela e sua mãe, uma cena simples, porém muito importante para ela.

Comovente demais. Enfim, filme mal legendado, televisão de baixa definição, altas horas da noite, foi o pouco que captei.

Mas tratei de procurar a minha lembrança, e a princípio, me comportei exatamente como a mocinha do filme. Pensei que o momento mais feliz de minha vida tinha sido o do nascimento do meu filho. Mas para ser honesta, tive de admitir que embora feliz, o nascimento de uma criança é um momento de tensão, não existe felicidade completa envolvendo a situação, pelo menos eu acho. Então como a menina, eu fui descendo, descendo, descendo...

Era um buraco escavado na terra, a poucos metros de onde eu morava. Eu era a menor do grupo em que estava, que era formado pelo meu irmão e minhas duas primas. Por ser eu muito pequena, eles me deixaram ali, e foram buscar mato e grama para forrar o fundo do buraco, creio eu que para deixá-lo mais confortável, para então brincarmos ali. Eu achei a idéia tremendamente interessante. Então eu ficava no fundo do buraco, enquanto eles se revezavam indo e vindo com o mato e a grama. Minha prima mais velha, vinha com a saia repleta de folhas, e as jogava em cima de mim. E eu ria, ria, recebendo aquelas folhas perfumadas no rosto, e achando aquela brincadeira muito prazerosa.

Simples não? Pois era essa imagem, que eu gostaria de levar comigo para toda eternidade, para todo o sempre. Qual é a sua?