sábado, 13 de junho de 2009

Mr.Benson e eu

Mr.Benson tirou cuidadosamente os óculos, e com o mesmo cuidado o colocou no estojo, como sempre fazia. Aquele estojo lembrava a ele um mini caixão de defuntos, preto com debruado dourado, como seguramente o seu caixão seria. O interior do estojo era todo estofadinho, como ele também gostaria que fosse a sua urna mortuária. Confortável. Ele pensava no tema porque tinha, há poucos dias, se ocupado justamente de cuidar dos detalhes do seu sepultamento, junto à Thomas Cook & Son. Era só no mundo, e não queria deixar seu defunto para trás constrangendo os vizinhos como um pacote incômodo. Estava tudo previamente acertado. Mas ele gozava de boa saúde e não pensava em morrer tão cedo, aquilo tinha sido só um cuidado, como outro qualquer. Mr.Benson era um homem meticuloso.

Ele então dobrou cuidadosamente o jornal, que tinha lido de capa a capa, recolocando os cadernos na ordem exata e acertando as arestas, como fazia todos os dias, mesmo sabendo que ia tudo para o lixo.

Súbito ouviu um estalido seco vindo do jardim, e se encaminhou para as vidraças pensando ser Nefretiri, uma gata que vinha alimentando, mas que preferia muito mais os telhados de Londres do que a sua companhia, não a culpava. Deviam ser mesmo muito mais estimulantes do que sua vivenda de homem solteirão.

Mas não era a gata. Repuxando melhor a cortina de veludo verde ele viu...ele viu...ele viu...
Kekié ô, vou saber o que ele viu? Vocês estão achando que eu dou conta de escrever uma história de suspense, não dou conta não meus bons amiguinhos. E ambientada em Londres ainda por cima?! Thomas Cook & Son, essa é boa... essa eu aprendi com Somerset Maugham, mas duvido que essa centenária casa inglesa, que nem mais inglesa é, se ocupe hoje de assuntos mortuários.

Então ficamos assim, não sei o que Mr.Benson viu. Se algo me ocorrer eu volto, e vocês vão me desculpando o mal jeito. Pensando bem quem tem de me desculpar é o Benson, já que eu vou deixá-lo junto à janela passando frio, o pobre.