quarta-feira, 30 de abril de 2008

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Resolvi pegar carona na falta de imaginação do povo do Orkut, e escrever um pouco daquilo que detesto. Para começar detesto a palavra detesto, razão pela qual não aderi a nenhuma dessas comunidades que começam com detesto. Isso não quer dizer, claro, que eu não deteste coisas. Mas eu pelo menos tento tirar esses rótulos da minha vida, pois nunca se sabe quando vamos descobrir um prazer nunca antes sonhado numa coisa que detestávamos.

E noto que já comecei falando demais. Nessa minha escrita prolixa, creio que preciso abrir um post para cada detesto, porque eu não consigo, simplesmente não consigo listar alguma coisa sem explicá-la, como se vocês precisassem de minhas explicações.

Mas como o blog é meu, e vocês são meus (04) amigos, vou fazer deste jeito mesmo, então aqui vai meu primeiro detesto.

Só que para falar dele, eu preciso voltar no túnel do tempo, e já estava demorando, você deve ter pensado. É porque este detesto remonta aos meus seis anos de idade, mais precisamente ao dia 1º de abril de 1964, meu primeiro dia de aula:

DETESTO DEVER DE CASA!!!!

Creio que escola boa é aquela que ensina o aluno dentro do horário letivo. Imagine você como não seria desgastante levar uma planilha de cálculos para fazer em casa à noite, embora eu saiba que muita gente o faz. Menos eu. Nunca em hipótese alguma levei trabalho para casa, e essa é uma das razões de eu nunca ter subido na vida, mas isso é assunto para outro post.

Porque o assunto é o dever de casa. Quando meu filho era pequeno, eu fazia a maior parte das lições dele, chegando a imitar a letrinha dele com capricho, e muitas vezes até cometendo erros, para não chamar a atenção da professora, como se aquelas tontas se deixassem chamar atenção por alguma coisa. Tudo isso para que ele brincasse e descansasse.

Trabalhos de escola também, fiz grande parte. Eu ficava uma arara quando a nota não vinha boa, um dia liguei para brigar, imaginem vocês que a professora deu nota seis num trabalho que fiz sobre Érico Veríssimo, e eu tinha caprichado tanto!

Os livros, aqueles livros chatos que as crianças são obrigadas a ler, eu contava para ele as histórias, um dia antes das provas. Não tenho nada contra a leitura. Tenho contra se obrigar crianças a ler livros. Um bom professor deveria estimular as crianças a ler apelando para a curiosidade delas, colocando ganchos que as levassem para dentro dos livros, coisas desse tipo, eu inventaria outras se fosse professora, e confesso que até tentei estimular a curiosidade do meu filho. Mas santo de casa não faz milagre. Então eu me vingava disso tudo facilitando ao máximo a vida curricular dele. O meu momento de glória era quando ele voltava com a nota, nunca inferior a 8, de um livro que ele não tinha lido e sim ouvido de mim.

A vida dele não iria mudar em nada se ele soubesse se a Capitu transou ou não com o Escobar, como não mudou a minha. Claro que dentro de tudo isso havia um mínimo de bom senso materno. Existem livros que não podem ser contados, a sacada do livro é a narrativa. Creio até que todos os livros devem ser lidos por essa ótica. Mas isso os professores teriam que ter dito a ele, duvido que o fizeram. Por isso quando foi o caso de Macunaíma e Vidas Secas, eu disse a ele que esses ele realmente precisava ler. Eram histórias que se perderiam totalmente numa simples narrativa.

Teve também o Auto da Barca do Inferno, era uma peça, não dava para ser contada, mas ele não conseguia ler de forma alguma. Então lemos juntos, eu ia representando, ele adorou, tirou uma nota excelente.

Eu o incentivei muito a gostar de leitura. No mínimo uma vez por mês, passávamos uma tarde na Livraria Cultura, naquelas mesinhas, escolhendo livros, e ele podia trazer para casa o que quisesse. O acervo dele é até grande. Ele leu tudo, mas não pegou o amor aos livros, não houve jeito. Ele sempre me viu lendo, e me deleitando com leituras, mas nem isso atraiu a atenção dele.

Então fica declinado aqui o meu primeiro detesto. Nunca que eu vou concordar que uma criança fique fazendo continhas em casa à noite, resolvendo equações de segundo grau e exercícios idiotas de gramática, numa hora em que ela deveria estar brincando e descansando. Ninguém me tira da cabeça que esse acúmulo de lição de casa está na razão direta da incompetência dos professores, em ensinar como se deve dentro da classe.

Se você vier dizer que com essa minha atitude, de fazer as lições do meu filho, eu estava criando um irresponsável, eu convido você a vir conhecer o Sibelius, orgulho-me do rapaz responsável e inteligente que tenho aqui em casa.