quarta-feira, 16 de abril de 2008

Se eu tivesse um milhão


O pessoal elegante da blogosfera, numa nova mania pra lá de chique, está declinando a lista dos livros que leu para compor a sua, digamos assim, a sua filosofia de vida. E eu morro de inveja. Primeiro porque nunca li os tais livros. Segundo porque mesmo que eu quisesse, não teria dinheiro para comprar os tais livros. E terceiro, e o mais vergonhoso de todos, é que a minha lista de leituras é impublicável, pelo menos nesses blogs elegantes.

Mas aqui, aos meus (02) leitores, não tenho vergonha de contar que o Almanaque do Pensamento, a revista Seleções do Reader’s Digest, e uma montanha de histórias em quadrinhos, foram a base de toda a minha cultura.

O Almanaque e a Seleções eram o que o pessoal lá em casa lia, esses dois juntos me deram todo o meu pouco conhecimento de história mundial, geografia, ciência e curiosidades, e quando eu digo pouco é pouco mesmo, como não poderia deixar de ser numa cultura de almanaque.

Os HQ fizeram o resto, daquela forma precária deles. Por culpa deles eu acreditava piamente que na África existiam civilizações antigas por conta do Tarzan, e que existia um país de nome Bengala por conta do Fantasma, e minha mente fértil aceitava que o que vinha de Superman, Legião dos Super Heróis, Batman e Mandrake eram conhecimentos científicos. E o resto das bobeiras vieram de todos os outros.

Que eram muitos: Gasparzinho, Recruta Zero, Bolinha, que saudades do Bolinha. Alguém aí já ouviu falar em Pafúncio? Era um HQ muito bacaninha, era basicamente a história de um paspalho casado com uma megera. Os sobrinhos do capitão! Nessa eu peguei você, duvido que você conheça. Havia o Brasinha, era um demoniozinho, que deve ter vindo num contraponto ao Gasparzinho, havia o... vou parar, porque estou fugindo do assunto.

Porque o assunto é a minha cultura de almanaque. (Vocês gostam do Asterix?)

Então vou dividir minha cultura com vocês, e contar aquela que para mim é a historinha de HQ mais bacaninha de todas as que já li. Claro, cultura inútil. Se você não estiver a fim de perder tempo, ainda é tempo de parar por aqui. Se você parar, em primeiro lugar peço desculpas. E em segundo peço que volte amanhã, prometo que vou elevar o nível.

Mas agora estou mesmo é com uma vontade louca de contar a historinha. Como meu filho nunca a quis ouvir, e provavelmente meus netos, se os tiver, muito menos, essa pode ser minha última oportunidade, que eu não vou desperdiçar. Então lá vai:

Esta historinha é do Tio Patinhas e seus sobrinhos, e não se passa em Patópolis, e sim no campo. O Tio Patinhas tinha uma plantação e uns bichos, uma fazenda, e os três chatinhos lá, mais o Pato Donald eram seus empregados, aquela coisa forçada parecida com trabalho escravo. Aliás, curiosa essa família de patos não é mesmo? Todos são parentes de todos mas ninguém é parente de ninguém. Sobrinhos sem pai e sem mãe, um tio que não é casado com a tia, tem avó mas não tem avô, antes um tio que é velho mas que chama a vovó Donalda de avó, mas estou novamente fugindo do assunto e o que é pior, não sendo nem original, porque esse pensamento não é meu.

Continuemos. Os sobrinhos trabalhavam na plantação. O Donald, claro, sempre se queixando, identifico-me com ele. Também me queixo e também jogo as coisas longe e acabo me machucando feito ele, por isso acho hilário quando o Donald chuta uma enxada, machuca o pé, bate o cabo da enxada na cabeça, se desequilibra, cai de cabeça no balde, sai com o balde na cabeça, tropeça de novo e recomeça todo o ciclo. Tenho manchas roxas espalhadas no corpo para provar que também sou assim.

Mas pelos céus! Não consigo seguir com a história, daqui a pouco terei de dividir em capítulos. Vamos em frente. O Donald se queixava, e suspirava assim: - Ah, se eu tivesse um milhão, nunca que eu ia ficar aqui nessa enxada...Mas o Tio Patinhas, com um pé na bunda o convencia a continuar a trabalhar.

Mas veio um ciclone. Ou tornado. Qual é qual? Não sei, imagine aquele funil de vento de desenho animado chegando, e levando tudo com ele. Levou também o celeiro, esqueci de dizer que nesta historinha o Tio Patinhas guardava o dinheiro num celeiro. E todo o dinheiro do Tio Patinhas voou.

Todos saíram correndo a pegar o dinheiro do Tio Patinhas, inclusive é claro, o Donald. Menos os chatinhos politicamente corretos dos três sobrinhos bobinhos vaquinhas de presépio. Eles até perguntaram ao Tio Patinhas se eles deveriam correr para pegar o dinheiro de volta, ao que o Tio falou – não precisa, vamos continuar a trabalhar.

Um parêntesis – amo o Tio Patinhas, e muitos dos meus hábitos de sovinice vieram dele em linha direta, principalmente o maior deles, que é o de ler jornal dos outros. Acho um tremendo absurdo gastar dinheiro com jornal, com tanta gente perdulária à disposição que pode fazer isso por mim. Sempre gostei também de aproveitar tudo, e de sovinizar tudo. Nos meus tempos de colégio, eu pedia na cantina um copo de suco de laranja e outro vazio. O vazio eu enchia de água e açúcar, e dividia o suco de laranja em dois. Aquelas laranjadas enganaram muito a fome de uma estudante pobre.

Mas noto que interrompi de novo a historinha, e como já estou passando do tamanho recomendável para segurar um apressado leitor de blogs, paro por aqui. Não me resta outra opção senão remeter você, leitor, ao próximo capítulo. Dessa forma também crio um gancho, uma vez que audiência aqui está dando traço. É uma pena (ou uma vergonha como queiram), eu ter de fazer gancho com historinhas de Tio Patinhas, vejam só a que ponto fui chegar. Depois quero ser respeitada nos blogs elegantes.

Só não sei o que vou dizer amanhã para aqueles que pedi para voltar amanhã, isso se eles voltarem, o que é pouco provável.