segunda-feira, 28 de abril de 2008

Coisa séria




Coisa Séria – Sérgio Pimenta e Guilherme Kerr
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Olhe está em tuas mãos
Abrir teu coração
Para o que Deus falou
Responderes sim ou não
É tua decisão
Ao seu imenso amor
Preste muita atenção
Não é religião
E nem novas éticas
Falo ao teu coração
De uma direção
Pra uma vida autêntica
Falo de ser um cristão
Mas de viver pra Cristo
E não de fé semântica

Existiu há muito tempo atrás, um homem bom e sábio, que desde a mais tenra idade, procurou se auto conhecer a fundo, e de conhecer a verdade sobre tudo ao seu redor. Ele se auto intitulava um buscador da verdade. Então ele juntou-se a outros amigos, todos buscadores como ele, que passaram a estudar juntos. Como aquele país passava por revoluções internas, ele e seus amigos, viajaram para um país estrangeiro, muito distante dali. Lá ele fundou uma escola, que ele chamou de instituto para o desenvolvimento harmonioso do homem. Os seus alunos, para ficar com ele, precisavam abdicar de todas as ocupações, dar todo o seu dinheiro a ele, que se incumbiria de sustentá-los e ensiná-los.

Os ensinamentos incluíam leituras, conversas filosóficas, dança, música, representação, e muito mais. Isso porque a estada deles lá era em todo o tempo um exercício, pois que todas as atividades mesmo as mais corriqueiras, deveriam ser executadas com consciência e atenção.

O mestre lhes dava também, de tempos em tempos, e sem aviso, um exercício que consistia no seguinte: quando menos se esperava, ele lhes dizia: Pare! E todos tinham que congelar na posição em que estivessem, algo parecido com aquela brincadeira de estátua que antigamente faziam as crianças. Aí o aluno não poderia em hipótese alguma se mexer, e deveria então prestar atenção em todos os seus músculos, e tomar consciência por completo daquele movimento que estivera realizando, era um trabalho de conscientização do movimento corporal.

Mas aí também começou a trapaça. Sim, porque aquele mestre era extremamente ousado e exigente, e muitas vezes tinha dito pare quanto muitos estavam a segurar um copo quente, ou carregando um pesado fardo. O que aconteceu então, foi que muitos daqueles alunos passaram a tomar cuidado quando do manuseio de xícaras quentes, ou de pesos, procurando fazê-lo sempre longe do mestre, com medo do perigoso aviso de pare.

Mas um dia, o professor ordenou que todos fossem fazer seus exercícios matinais dentro de um canal, que estava naquele momento seco, mas do qual todos sabiam que as comportas de água seriam abertas dentro de instantes. Eles começaram a fazer os exercícios atemorizados, com medo da ordem de parar que poderia vir do mestre, E a ordem veio: Pare! E todos congelaram na posição de estátua. Mas as comportas foram abertas, e a água veio com toda a força. Ninguém sabia o que fazer. Alguns ainda resistiram na posição, mas logo em seguida se esforçaram para sair nadando dali.

Mas teve um aluno que não se moveu. Ele manteve a posição corporal. As águas o levantaram, e começaram a levá-lo, mas ele não se moveu. As águas aumentavam sua força, e já começavam a levá-lo com força para uma represa que havia logo à frente, e se ele não fizesse nada, com certeza morreria. Os alunos que estavam na margem olhavam apavorados para o professor, e não sabiam o que fazer. Mas o professor sabia. Quando a situação chegou no que parecia ser o seu ponto de máximo, o mestre saltou naquelas águas, e nadando forte e vigorosamente resgatou o aluno, e o colocou, ainda em posição de estátua, são e salvo na margem do canal.

Senti necessidade de contar esta história, que é real, para lembrar a mim mesma da necessidade de ser coerente com o mestre que eu quero seguir, mesmo que seja tão somente a voz do meu mestre interior. Se eu estiver no caminho correto e agindo da forma correta, a proteção virá. Ou não. Mas eu pelo menos morrerei sabendo que fui fiel às minhas convicções, e tendo a certeza de que não fiz trapaça.

Escrevi também, porque estou cansada de ver e ouvir a gritaria dos “cristãos” à minha volta. Não, não sou cristã. Não tenho coragem, melhor dizendo, cara de pau, para usar esse título, porque o acho elevado demais para alguém como eu, porque não o mereço. Para considerar-me cristã, eu deveria ser seguidora de Jesus de Nazaré em sua totalidade, e não num ou noutro preceito mais leve de se seguir, mais conveniente, mais palatável. Não vou me contentar em ser uma cristã de final de semana, de cara bonitinha, ao som da cantoria desafinada das igrejas evangélicas e praticando meus medos e minhas maldades, escondidinha. Não quero ser uma cristã, repetidora feito papagaio, de versículos bíblicos, versículos recortados totalmente fora de seu contexto, e ignorando levianamente aqueles que acho que não me dizem respeito, ou melhor, aqueles que não tenho vontade nenhuma de cumprir.

Não, não sou cristã. Tudo o que sou, é admiradora fiel de Jesus de Nazaré, e uma simpatizante de muitas de suas idéias.

Amar a Deus sobre todas as coisas e ao meu próximo como a mim mesma? Eu confesso que ainda não consegui tocar em nenhuma das pontas desse sagrado triângulo. Mas seguirei tentando. Quem sabe se no dia de minha morte, eu não receba o nome de cristã, já é um alento, já é um motivo para viver.