domingo, 6 de abril de 2008

pão-de-theodoro

Foi por um triz que eu não me casei com Aristides Theodoro. O pedido de casamento foi feito, em plena Praça da República. Fiquei encantada, tanto com o pedido como com o local do pedido. Amo a Praça da Republica. Foi exatamente lá que eu e Theodoro nos conhecemos, ele tinha uma banca de livros usados, e eu sempre passava por lá, o namorico começou.



Quando ele me pediu, eu dei uma de moça, e disse que ia pensar. Na verdade, estava louquinha para casar, e ali mesmo se desse.Mas o casamento não saiu. Naquele tempo, entre as minhas atividades, uma delas era ser líder leiga em uma minúscula igrejinha metodista. Na igreja metodista, os leigos podem fazer quase tudo o que um pastor faz, com poucas exceções. Chamam a isso Dons e Ministérios. A maior diferença entre um pastor e um leigo, é que o pastor recebe salário. E tira férias, duas vezes por ano.



Então eu tinha essas atividades, e tinha preocupação em deixá-las, achava que aqueles gatos pingados talvez precisassem de mim.



Mas o problema maior não foi esse, foi o próprio Theodoro, que não teve coragem de se casar com uma crente. Acontece que o meu Theodoro é ateu de carteirinha, ateu de crachá, ateu daqueles que carimba o crachá duas vezes por ano. Tem enorme implicância com crentes, com igreja, fala palavrões enormes quando o assunto é Deus, Jesus, então, ele xinga com sonoros e hediondos palavrões. São Paulo ele chama de grande bichona.



Mas eu nunca dei importância a isso, teria me casado com ele assim mesmo, todo esse ateísmo para mim era algum problema com a mãe dele, velhota adventista que já bateu as botas, algum complexo de Édipo mal resolvido, daqueles que Freud adorava resolver. A prova disso é que ele canta os hinos do velho hinário de sua mãe, e chora como um bebê. Tem um verdadeiro crente lá dentro, ah, tem.



Mas ele fincou pé: achou que não daria certo. Nós dois perdemos muito. Ele, porque dificilmente irá encontrar outra mulher de 50 anos gata como eu. Eu, porque perdi a possibilidade de desfrutar da companhia do meu grande amigo. E perdi também a possibilidade de herdar toda sua incrível biblioteca, pois o danado do baiano possui um acervo de uns 6000 títulos!



Eu já me imaginava enterrando o defunto, e herdando sua magnífica coleção. Hoje vejo que não era uma boa idéia, o cabra da peste vende saúde, certamente está destinada a ele uma das alças do meu caixão.



Mas sempre existe a possibilidade de algo sair errado, então sobra a opção de convencer o Aristides a deixar testamento, quem sabe se eu, na qualidade de quase esposa, tenha alguma prerrogativa. Depois do testamento pronto, terei de dar um jeito de fazer o baiano bater com as dez, pois como já disse, o desgraçado vende saúde.



De vez em quando eu ligo para ele com voz bem sensual, falando coisas picantes, ou cultas, engraçadas, charmosas, só pra deixar ele arrependido.



Mas a grande verdade é que adoro aquele baiano. Aconselho você a gastar algum tempinho dando uma olhada aí nos links, você encontrará algo dele, leia Estórias de Curiapeba, não é que ele criou uma cidade muito interessante? Quando ele começou com essas histórias, e começou a publicá-las no jornal de Mauá, ele contagiou a todos. Os seus amigos se envolveram com a tal da cidade, apareceu quem fizesse desenho, planta da cidade, não faltaram palpites de todo tipo. Eu mesma até hoje não perdôo ele ter inaugurado uma livraria em Curiapeba, e não ter me colocado como dona. Mas por conta desse envolvimento todo da gente boa lá de Mauá, a cidade tem mapa, guia de ruas, desenhos das casas de comércio, tem até comunidade no orkut, a mania contagiou a todos. Os seus contos podem não ter o final que o leitor espera, mas o jeito dele contar é cativante, vale a pena conhecer.



E se você que estiver lendo for mulher, estiver encalhada, andar pela casa dos 50 em diante, e estiver a fim de se casar, escreva para ele, ele está doidinho para arrumar mulher. E ele é solteiro, da silva.