sexta-feira, 5 de junho de 2009

Relacionamentos

 Falei em expurgar lixo de gavetas, e me lembrei de lixos mentais, aqueles conceitos velhos e ultrapassados que insistimos em carregar, e pior, até nos orgulhamos deles. Um pastor amigo meu falava em demônios de estimação, eu gostava muito dessa frase.

Carregamos determinadas manias que elas mesmas já estão cansadas de nós, estão pedindo aposentadoria. Querem ouvir uma? É uma frase que ouço demais à minha volta, e o curioso é que as pessoas a utilizam somente quando algo dá errado:

- Eu olho para as pessoas a partir de mim, se eu não faço determinadas coisas, penso que ninguém as fará...

Tipo: eu sou bom em guardar segredos, logo, penso que todos à minha volta também serão...

Perigoso...

Esse pensamento é tão equivocado, mas tão equivocado, que me parece até desnecessário falar dele, mas vamos lá:

As pessoas, e isso inclui você e eu, sempre terão seu momento de vacilo; sempre se pode, em algum momento, praticar algum ato irrefletido. Sempre estamos sujeitos a dar uma ou outra escorregada em assuntos que requerem sigilo, ética, coleguismo, só para citar alguns exemplos. Se você e eu escorregamos, o que o leva a pensar que o seu amigo não escorrega?

E todos, sem exceção, somos imprevisíveis.

Deixar um pensamento ingênuo como esse em stand by, sossegadinho em sua mente é perigo à vista.

Se você dirige veículos, e se dirige veículos no Brasil, sabe que a nossa preocupação maior ao volante é com o outro. Temos de dirigir com um olho no peixe da nossa própria direção, e o outro olho no gato do motorista do lado direito. Do lado esquerdo. Da frente. De trás. Da transversal. Ter foco na nossa direção e ao mesmo tempo na bobagem que o outro motorista poderá fazer. Dirigir nas capitais brasileiras é um exercício que nos ensina muito sobre relacionamentos.

Porque a coisa é bem assim.

Gosto do exemplo de acessos em Bankfone. Há Bancos que exigem várias senhas, além de um tolkien, um dispositivo portátil de senhas. Uma simples verificação de saldos pede uma senha. Uma transação de até um certo valor pede uma outra senha. Transações mais elaboradas pedem um número acessado pelo tolkien. Em outras, mais relevantes, o funcionário pede a confirmação de dados pessoais. E finalmente, há transações que só podem ser feitas pelo correntista pessoalmente na agência.

Creio ser necessário irmos liberando como que senhas mentalmente às pessoas à nossa volta. Quanto maior a gravidade da informação, maior deverá ser o cuidado envolvido na liberação dela, eu gosto de chamar a isso de confiança controlada. E as senhas são as peneiras da (des)confiança.

Não sei se já lhe aconteceu de ganhar um inimigo do nada, caindo de para-quedas sobre você, uma pessoa que ainda ontem se dizia amiga e que de repente não é mais. Isso acontece muito em ambientes de trabalho, onde as pessoas frequentemente reorganizam suas escolhas a partir de novas circunstâncias. Aí é hora em que colocamos a mão na cabeça, putz! Fulano sabe de mim muito mais do que deveria...

Mas aí a Inês é morta e enterrada. Você já forneceu àquela pessoa, gratuitamente, vasta munição contra você, porque os nossos desabafos e confidências nada mais são do que isso.

- Ah, mas você está dizendo que eu devo sair por aí desconfiando das pessoas?

Isso não é desconfiança, caros amiguinhos e amiguinhas. É prudência.