terça-feira, 9 de junho de 2009

A corda e eu

 Eu estava com um grupinho de meninos e meninas brincando em um lago barrento, isso em alguma cidade do interior de São Paulo cujo nome não me lembro. Os garotos tinham achado uma corda, e a penduraram em galhos que atravessavam todo o alto do lago, e estavam brincando de Tarzan, inclusive com o grito característico. Quando o pêndulo da curva chegava no meio do lago, eles se soltavam da corda e caíam gostosamente, tchuááá...

E eu acompanhava da margem, dividida entre o medo e a vontade de arriscar.

Foi então que meu amigo Serginho me disse: - Betinha, não pense você que os meninos não têm medo, a gente têm medo sim. Mas a diferença entre os meninos e as meninas é que a gente vai mesmo com medo. Veja bem, o único desafio que você terá de enfrentar, é se pendurar na corda. Porque ao chegar no meio do lago, se você não se soltar, você se esborracha naquelas pedras ali, está vendo? Então você solta a corda, não há o que fazer.

E não é que ele tinha razão? Peguei a corda. Gritei meu esganiçado grito de Tarzan, no meu caso de Jane. E claro que soltei a corda, tchuáááá...

Bom demais...

Bacaninha essa chave que ele me deu sobre meninos e meninas, vocês não acham?

Foi esse mesmo moleque que fez de mim uma corintiana, Betinha, pra que time você torce?

- Ah, Serginho, sei lá, eu acho que não sou nada...

- Betinha, se você não é nada então você é corintiana...E me levou ao bebedouro no corredor do colégio e me batizou ali mesmo: eu te batizo corintiana. O ano era 1973.

Soube recentemente que meu amiguinho hoje é gente grande numa multinacional na China, grande Serginho, me batizou duas vezes, experiências desse tipo dificilmente a gente esquece.