quinta-feira, 18 de junho de 2009

Jogos de culpas


Quando eu era moça, numa reunião da sociedade de jovens da minha igreja, o líder, que era conhecido entre nós como Líder da Mocidade, denunciou que existia no nosso grupo uma jovem que não estava se comportando com "o decoro exigido a uma moça cristã"! Mas não disse quem era a moça. Era qualquer uma de nós. O clima entre as moças a partir daquele dia ficou péssimo, principalmente entre as que tinham noivos e namorados. Qual de nós seria a pecadora?

O odioso de situações desse tipo, é que todas as pessoas, culpadas ou inocentes de um determinado universo, são colocadas debaixo da mesma suspeita, e pior, se uma delas se ofende pela exposição desnecessária, e se defende em público, mesmo que seja inocente, esta se coloca debaixo de suspeita duas vezes. Pela estúpida lógica reinante nesses casos a coisa funciona assim: se aquela pessoa reclamou, deve ter culpa no cartório. É sinal que a carapuça lhe serviu, por que outro motivo se irritaria?

Quem acredita num motivo tão em desuso como o de revoltar-se contra um ato de injustiça? de covardia?

É por isso que nesses casos de difamação generalizada, todos jogam o jogo de receber a difamação em silêncio, afinal, ninguém quer se comprometer, não fui eu mesmo, pensam alguns, então não importa, danem-se os outros, não vou defender o grupo pela ótica dos inocentes e me queimar. Ou, se fui eu, fico quieto também, e me escondo no anonimato da ofensa generalizada, e me beneficio do silêncio da massa. É sempre um jogo covarde, para a totalidade dos envolvidos.

É um jogo sem enfrentamentos, que encerra a todos debaixo de uma sórdida arapuca, tacitamente aceita, uma vez que é um jogo que já traz a regra embutida em seu bojo: para jogá-lo, basta nada fazer.

Esta modalidade de acusação é muito utilizada contra mulheres em assuntos de envolvimentos íntimos. Algo como: "alguma" funcionária do setor tal está tendo um envolvimento com o chefe.Dada a natureza delicada desse assunto, espera-se que todas do grupo alvo se comportem como todos acham que uma verdadeira dama deve se comportar - caladas e de cabeça baixa. Que sejam discretas e educadas para que não se comprometam ainda mais. Então nenhuma ousa reclamar de estar sendo alvo de uma ofensa genérica, covarde e desnecessária. Covarde porque foge do enfrentamento, e desnecessária porque lança suspeitas contra todas do grupo indiscriminadamente, numa situação vazia, que não soluciona o problema e não beneficia ninguém além do ego do acusador. Uma verdadeira dama, pensam, deve suportar tudo isso em silêncio, é o mais elegante e discreto a se fazer. E como a maioria das mulheres aceitamos esse papel por medo do excesso de exposição ou comodismo, tornamo-nos presas fáceis desse tipo de jogo calunioso.

Voltando à moça supostamente errada lá da minha igreja, a meu ver ela deveria ter sido poupada da acusação, tanto em público quanto isoladamente. Afinal, um ambiente cristão deve ser disseminador da Graça, não da des-graça.