Acontece em algumas madrugadas de o meu pensamento correr acelerado de A a Z, isso significa que eu começo em abóbora e passo para aquele livro e vou para aquela receita e volto para a roupa que eu preciso aprontar amanhã, e como é mesmo o nome daquela música, e não gostei do capítulo da novela e escute aqui seu cretino fique você sabendo que...
Uma filial do Google se instala em minha cabeça. E como tudo ainda pode piorar, uma música qualquer fica me martelando ao fundo. Ontem era olha olha olha a água mineral, água mineral, água mineral, e só de escrever aqui parece que pego a maldita timbalada de novo.
No meio disso tudo eu vou intercalando Jesus tem misericórdia de mim, segurando a vontade doida de atirar com a cabeça na parede, pensam que não?
A misericórdia se manifesta na forma do remédio, que sempre me espera paciente à minha cabeceira, cinco gotas, dez, quinze, dependendo do tamanho do meu desespero. Se eu o tivesse tomado corretamente e na hora certa, nada disso teria acontecido, o caso é que eu sempre esqueço.
O sono que vem é bom, sem sonhos, mas bom. Mas o motivo de eu evitar o remédio vem agora: o terrível é o despertar, parece que estou costurada à cama. O relógio chama, o telefone toca, a campainha grita, a cachorra late, minha mãe bate portas e panelas como indiretas para me chamar à ordem, ignorando santamente minha noite de cão, e a desastrada intervenção do calmante que salvou meu restinho de madrugada e estragou meu começo de manhã... E eu, não consigo me libertar do colchão.
Mas só a título de curiosidade para vocês, a maioria dos textos que já postei aqui foram articulados nessas terríveis noites de mente acelerada.
E as grandes bobagens que já cometi ao longo desta minha vida bipolar foram articuladas nessas mesmas noites também. Se você que está aí lendo foi vítima de um ou de outro, ou de ambos, aceite minhas desculpas. Bipolar que se preza vive pedindo desculpas.