domingo, 3 de maio de 2009

Ó abre alas, que eu quero passar

 É verdade que a história de Chapeuzinho Vermelho narra um rito de passagem? Da menina virando mulher? A garotinha de vermelho, simbolizando a primeira menstruação? Caminhando inocente na floresta, o lobão na espreita, aquela cena toda...será?

Pelo sim pelo não, o fato é que sobram nos contos de fadas cenas narrando rituais de todo tipo envolvendo mulheres novas!

Raiva!

Quanto a nós...A mulher idosa é a ilustre preterida dos contos de fadas...

Pode ir tirando esse sorrisinho sarcástico da cara. Já sei, já sei: as bruxas más. Está certo, você ganhou.

Esse é realmente o papel que nos cabe. A bruxa. A sogra. A esposa rabugenta. Quando muito, são condescendentes em nos atribuir o papel da vovó na cadeira de balanço rodeada de netinhos chatos, deitando sabedorias, vide Dona Benta.

Estou fora! Primeiro porque não tenho a mínima paciência para crianças. Sabedorias, elas não vão querer ouvir, e eu nem sei se tenho alguma em estoque. E quanto à cadeira de balanço não preciso nem falar o que penso, não é? E parem de rir!

Nada de cadeira de balanço, nada de tricô. E netinhos, quando os tiver, que venham me visitar apenas naquelas datas chatas. Eu estou treinando meu filho desde já, mas nem é preciso, ele sabe que sou tremendamente sem paciência e tremendamente anti-social, as namoradas dele nem perdem tempo puxando assunto comigo, devem ter sido avisadas.

Acho que o que os contos de fada não previam, é que nós seríamos umas vovós muito charmosas e sem paciência nenhuma pra esses estereótipos aí. Somos cinquentonas ótimas. Eu pelo menos sei que sou.

Mas alguém precisa falar isso para os homens. Que preferem as novinhas porque isso os rejuvenesce, e essa fala não é minha não, é de Simone de Beuvoir. Aquela, que de tão maravilhosa, nem o marido agüentou. Eram casados, mas moravam em casas separadas. OK, OK, agora estou eu sendo sarcástica. E preconceituosa. Foi a opção de vida deles e eu não tenho nada que ficar criticando. Melhor é um Jean Paul Sartre na casa ao lado do que Jean Paul Sartre em lugar nenhum, como aliás é o meu caso.

Mas estou fugindo do assunto. E qual era o assunto mesmo?

Não sei, acho que a minha inveja. Estava lendo a vida da maestrina Chiquinha Gonzaga. E não é que ela, aos cinqüenta e dois anos, teve um namorado de dezesseis aninhos? Para evitar escândalos, ela o apresentava como filho. Viveram juntos até sua morte. Aos oitenta e oito anos.

GRRRRRRRRRR!!!!