“Neste exato momento, ninguém, absolutamente ninguém está pensando em mim”.
Eu era meninota e num dia azarado caí um feíssimo tombo, uma escorregada feia na frente dos meninos mais velhos do colégio, no meio deles havia um que eu estava paquerando.
Desastre completo e absoluto. Foi um dos poucos momentos de minha vida onde eu desejei realmente a volta de Cristo. Ou qualquer outra mágica que me levasse dali.
À noite, não conseguia dormir, não conseguia parar de pensar no vexame.
Foi então que uma doce brisa me soprou a frase acima. E fiquei pensando no absurdo da minha posição - enquanto eu estava ali, me revolvendo na cama, todos os meninos e meninas estavam dormindo em suas casas, nenhum deles pensando mais em mim e no meu vergonhoso tombo.
Vejam como eram as coisas, nossos pais não tinham dinheiro para nos enviar a psicólogos, os meus nem pensavam nisso. Então a dona Vida, ou o Cosmos, ou a Doce Consolação, enfim, o bom Deus se encarregava pessoalmente de confortar a meninada. Pena que hoje a moçada não está ouvindo esses sopros, deve ser o excesso de barulho em suas mentes, ou outra coisa que desconheço.
A tal frase me confortou em absoluto. Esqueci o vexame e adormeci. Mas como coisa boa não se esquece não esqueci da frase, ela me serve até hoje, me serve até este exato momento em que estou aqui escrevendo.
Digo isso porque são muitas as minhas escorregadas. Ontem mesmo escorreguei feio num tomate. Anteontem, numa casca de banana. E transantonte como diriam os minerim, dei uma bela pisada de bola por aí. Os tombos são sempre feios, sempre tem alguém olhando, em muitas vezes estou de saias e nem sempre estou com minha melhor calcinha.
Por isso essa frase sempre me cai redonda. Ainda bem que não ocupo o pensamento do meu próximo por mais de quinze segundos, menos, talvez nem isso, ou nada. Ainda bem. A contar pelas minhas constantes escorregadas, é bom mesmo que eu passe esquecida, senão e a vergonha, como fica?
Esta tarde estava sentada num banco – ô mulher para gostar de banco heim? – lá pelos lados do metrô Ana Rosa. Foi quando me veio à mente a tal frase. Eu me senti deliciosamente sozinha no universo, foi então que pensei algo assim como: existir, existir de fato, é estar unicamente no pensamento de Deus.
Mas depois olhei para os lados. Ao meu lado esquerdo havia uma mocinha compenetrada lendo A mão e a luva, de Machado de Assis. À direita envelhecia um pouco mais uma discreta senhorinha japonesa, usando o sempiterno chapeuzinho branco de pano, não parece que elas são clonadas? E à minha frente estava um belo moço alto, moreno, de olhos verdes tão bonitos com as águas do Rio Bonito. Eu olhei para a mocinha, ela me olhou. Eu olhei para a senhorinha, ela me olhou. Eu olhei para o moço, ele também me olhou.
Foi então que me veio outra frase: existir é estar ao alcance do olhar do outro, também. Mesmo que seja por menos de cinco segundos.
Se é assim eu existo.
Eu existo sim.
Eu existo amém.
Eu era meninota e num dia azarado caí um feíssimo tombo, uma escorregada feia na frente dos meninos mais velhos do colégio, no meio deles havia um que eu estava paquerando.
Desastre completo e absoluto. Foi um dos poucos momentos de minha vida onde eu desejei realmente a volta de Cristo. Ou qualquer outra mágica que me levasse dali.
À noite, não conseguia dormir, não conseguia parar de pensar no vexame.
Foi então que uma doce brisa me soprou a frase acima. E fiquei pensando no absurdo da minha posição - enquanto eu estava ali, me revolvendo na cama, todos os meninos e meninas estavam dormindo em suas casas, nenhum deles pensando mais em mim e no meu vergonhoso tombo.
Vejam como eram as coisas, nossos pais não tinham dinheiro para nos enviar a psicólogos, os meus nem pensavam nisso. Então a dona Vida, ou o Cosmos, ou a Doce Consolação, enfim, o bom Deus se encarregava pessoalmente de confortar a meninada. Pena que hoje a moçada não está ouvindo esses sopros, deve ser o excesso de barulho em suas mentes, ou outra coisa que desconheço.
A tal frase me confortou em absoluto. Esqueci o vexame e adormeci. Mas como coisa boa não se esquece não esqueci da frase, ela me serve até hoje, me serve até este exato momento em que estou aqui escrevendo.
Digo isso porque são muitas as minhas escorregadas. Ontem mesmo escorreguei feio num tomate. Anteontem, numa casca de banana. E transantonte como diriam os minerim, dei uma bela pisada de bola por aí. Os tombos são sempre feios, sempre tem alguém olhando, em muitas vezes estou de saias e nem sempre estou com minha melhor calcinha.
Por isso essa frase sempre me cai redonda. Ainda bem que não ocupo o pensamento do meu próximo por mais de quinze segundos, menos, talvez nem isso, ou nada. Ainda bem. A contar pelas minhas constantes escorregadas, é bom mesmo que eu passe esquecida, senão e a vergonha, como fica?
Esta tarde estava sentada num banco – ô mulher para gostar de banco heim? – lá pelos lados do metrô Ana Rosa. Foi quando me veio à mente a tal frase. Eu me senti deliciosamente sozinha no universo, foi então que pensei algo assim como: existir, existir de fato, é estar unicamente no pensamento de Deus.
Mas depois olhei para os lados. Ao meu lado esquerdo havia uma mocinha compenetrada lendo A mão e a luva, de Machado de Assis. À direita envelhecia um pouco mais uma discreta senhorinha japonesa, usando o sempiterno chapeuzinho branco de pano, não parece que elas são clonadas? E à minha frente estava um belo moço alto, moreno, de olhos verdes tão bonitos com as águas do Rio Bonito. Eu olhei para a mocinha, ela me olhou. Eu olhei para a senhorinha, ela me olhou. Eu olhei para o moço, ele também me olhou.
Foi então que me veio outra frase: existir é estar ao alcance do olhar do outro, também. Mesmo que seja por menos de cinco segundos.
Se é assim eu existo.
Eu existo sim.
Eu existo amém.