quinta-feira, 30 de abril de 2009

Meu Deus, como é belo...

 Doces amiguinhas e amiguinhos.

Eu tenho, pela graça de Deus, um estoque tão bom de coisas legais para contar que às vezes acabo me esquecendo, e eu já ia deixando passar esta historinha aqui.

A protagonista junto a mim foi Sandra Petri. Uma garota muito dez.

Eu vivia endividada, e sempre que ela vinha me convidar para alguma programa maneiro como um show ou um teatro eu me saia com o clássico – estou a nenhum Sandrinha...olha aqui a minha carteira, só couro de rato...

Ela foi se enchendo, e resolveu tomar uma atitude drástica. A partir de um certo dia, ela passou a me abordar sem-cerimoniosamente: - Bete, me empresta um trocado?

Ela veio pegando de pouco em pouco. Um dia era um trocado para buscar cigarros. Noutro para pagar um táxi. Ou para comprar uma revista. E eu distraída ia dando o dinheiro a ela sem nem perceber.

No final de um certo tempo, ela veio com um ultimato – quero você em casa no próximo sábado a tal hora. E sabendo da minha monumental preguiça me atirou o indicador no rosto:

- Nem pense em dar uma de louca!

Então eu fui. Sandra morava na charmosa Vila Madalena. Chegando, notei um sorrisinho no canto dos lábios de todos da casa. O carro já estava na rua, estavam todos prontos e me aguardando, ela, sua irmã Claudia, seu pai e sua mãe.

- Onde vamos, Sandra?

- Não interessa. E pode ir me dando os seus óculos.

- Como?

Pois é, ela me tirou os óculos, isso me transforma automaticamente numa inválida. Chegamos. Era um salão elegante, com mesas e cadeiras, um restaurante ou um bar, e sem os óculos não me situei, não vi o nome do estabelecimento, não sabia onde estava.

Mas havia um palco. Os instrumentos já estavam ali, a postos, ao lado dos microfones, foi o que mais ou menos eu pude ver, curiosíssima. E os Petri, sorrindo enigmaticamente para mim. E de mim.

As luzes se apagaram, Sandra me devolveu os óculos.

E ele entrou.

Ai Jesus...Ai meus sais...

Era ele.

Era o Chico.

Um detalhe: o lugar escolhido pela minha amiga foi na primeira fila, na mesa de centro. Eu estava então cara a cara com o ídolo da minha infância, das primeiras canções que aprendi a decorar, com o primeiro grande amor da minha vida, o poeta das mulheres, o sonho de qualquer uma de nós, ele, o doce, meigo, lindo e talentoso Chico Buarque de Hollanda.

O mais engraçado é que eu queria chorar, mas não podia. Não podia porque se eu chorasse incomodaria os demais, que estavam lá para ouvir o Chico, não para me ouvir chorar.

Então as lágrimas me deslizavam mansas e quietinhas, e a Sandra e a sua irmã, divertidas, iam limpando meu rosto com os papeizinhos de guardanapos.

Não é demais uma coisa dessas, ganhar um Chico Buarque de presente?

“Eu te vejo sumir por aí
te avisei que a cidade era um vão
dá tua mão...”


Gente, como eu chorei.

Onde estará minha amiga Sandra? Eu sei que ela trabalha num setor público bacana, parece que ela segura pepinos altíssimos por lá.

Deus a abençoe. Arrancou dinheiro de mim por um belo motivo.

Belíssimo, eu diria.
Meu Deus, como é belo...