João Carlos Martins foi um virtuose do piano, o maior intérprete de Johann Sebastian Bach de todos os tempos. Uma vez o ouvi contando numa entrevista que ele estava num taxi em Nova York, e o trânsito estava caótico. O taxista explicou: - é que vai acontecer um concerto, parece que há um pianista famoso que estará se apresentando logo mais, por isso o trânsito está assim. Era ele. Parar o trânsito em Nova York é coisa para poucos. É coisa para alguém como João Carlos Martins.
Eu pensava no pianista, porque esta última semana passei uma tarde deliciosa na Livraria Cultura, e descobri que existem livros que ensinam a fazer livros. Tanto a parte gráfica quanto o estilo. Hardware e software. Vocês sabiam que os livros são impressos numa enorme folha, que depois é várias vezes dobrada e depois cortada? Chamam a isso refilar, é interessante demais. Mas estou fugindo do assunto, afinal, o que tudo isso tem a ver com João Carlos Martins?
É que dei uma olhada nos livros que ensinam a escrever, livros que tratam do estilo. Eu me perguntei, será que ao estudar estilos, não acabamos aprendendo e repetindo o estilo dos outros? Mas será que existe um estilo puro? Alguém que nasce sabendo escrever como Mozart já nasceu sabendo compor?
Foi daí que fiquei pensando no famoso pianista. Uma pessoa entra para um conservatório ainda criança, estuda anos a fio tudo o que há para se estudar sobre a notação musical, posicionamento correto das mãos, interpretação e domínio de um instrumento. Depois ela se especializa com os mestres mais notáveis, aprende as melhores técnicas de interpretação e estilo. Mas deve haver um momento em que um músico se desprende de tudo isso, e passa a ser somente ele.
Deve haver esse momento? Ou será que um artista não é o somatório de todo o estilo que aprendeu e que apreendeu ao longo da vida? Então a minha pergunta é: será que existe um intérprete puro?
Voltemos ao próprio João Carlos Martins. Ele foi acometido de uma terrível doença, que prejudicou suas mãos para o piano. Mas o notável intérprete não desistiu, e está conseguindo tocar novamente, não com aquele virtuosismo de antigamente, ele ainda tem sérias dificuldades. Há pouco tempo o vi tocar na magnífica sala São Paulo, usando apenas a mão direita, e às vezes a esquerda, porém ele deu boa conta de um concerto. Era indiscutivelmente o grande João Carlos Martins interpretando, muito diferente se eu me sentasse àquele piano e tocasse apenas com a mão direita.
Talvez seja esse o momento onde o intérprete se vê de frente com seu estilo puro, o momento onde João Carlos Martins busca no fundo dele mesmo o estilo de João Carlos Martins. Não existe nenhuma técnica à sua disposição, creio que nenhum mestre deixou um método de estudos para pianistas pós doenças como L.E.R.
Esse método é só dele. O resultado, quero crer, é um pianista puro, um mestre revisitado e reencontrado no fundo dele mesmo, e trazido à tona à luz de sua nova realidade.
Então a minha pergunta é: será que terei de descer ao fundo de meus infernos para encontrar meu próprio estilo de escrita? Pode ser. Aprendi numa das aulas do Professor Ricieri, que um foguete para subir para cima daquela maneira fantástica, e eu precisei do pleonasmo aqui, ele joga para baixo toneladas de combustível, essa é justamente a teoria da propulsão. Talvez cotejando meus infernos, eu consiga alçar vôo rapidamente aos céus, e aqui já não falo de estilo literário, falo de mim mesma. Peço desculpas a algum amiguinho ou amiguinha se não entenderam exatamente o que quis dizer neste parágrafo, prometo retomar o tema num outro momento.
Por ora, viva João Carlos Martins, que hoje também é maestro e impulsionador de talentos entre jovens da periferia. Viva você, homem notável, bravo, bravo!
Eu pensava no pianista, porque esta última semana passei uma tarde deliciosa na Livraria Cultura, e descobri que existem livros que ensinam a fazer livros. Tanto a parte gráfica quanto o estilo. Hardware e software. Vocês sabiam que os livros são impressos numa enorme folha, que depois é várias vezes dobrada e depois cortada? Chamam a isso refilar, é interessante demais. Mas estou fugindo do assunto, afinal, o que tudo isso tem a ver com João Carlos Martins?
É que dei uma olhada nos livros que ensinam a escrever, livros que tratam do estilo. Eu me perguntei, será que ao estudar estilos, não acabamos aprendendo e repetindo o estilo dos outros? Mas será que existe um estilo puro? Alguém que nasce sabendo escrever como Mozart já nasceu sabendo compor?
Foi daí que fiquei pensando no famoso pianista. Uma pessoa entra para um conservatório ainda criança, estuda anos a fio tudo o que há para se estudar sobre a notação musical, posicionamento correto das mãos, interpretação e domínio de um instrumento. Depois ela se especializa com os mestres mais notáveis, aprende as melhores técnicas de interpretação e estilo. Mas deve haver um momento em que um músico se desprende de tudo isso, e passa a ser somente ele.
Deve haver esse momento? Ou será que um artista não é o somatório de todo o estilo que aprendeu e que apreendeu ao longo da vida? Então a minha pergunta é: será que existe um intérprete puro?
Voltemos ao próprio João Carlos Martins. Ele foi acometido de uma terrível doença, que prejudicou suas mãos para o piano. Mas o notável intérprete não desistiu, e está conseguindo tocar novamente, não com aquele virtuosismo de antigamente, ele ainda tem sérias dificuldades. Há pouco tempo o vi tocar na magnífica sala São Paulo, usando apenas a mão direita, e às vezes a esquerda, porém ele deu boa conta de um concerto. Era indiscutivelmente o grande João Carlos Martins interpretando, muito diferente se eu me sentasse àquele piano e tocasse apenas com a mão direita.
Talvez seja esse o momento onde o intérprete se vê de frente com seu estilo puro, o momento onde João Carlos Martins busca no fundo dele mesmo o estilo de João Carlos Martins. Não existe nenhuma técnica à sua disposição, creio que nenhum mestre deixou um método de estudos para pianistas pós doenças como L.E.R.
Esse método é só dele. O resultado, quero crer, é um pianista puro, um mestre revisitado e reencontrado no fundo dele mesmo, e trazido à tona à luz de sua nova realidade.
Então a minha pergunta é: será que terei de descer ao fundo de meus infernos para encontrar meu próprio estilo de escrita? Pode ser. Aprendi numa das aulas do Professor Ricieri, que um foguete para subir para cima daquela maneira fantástica, e eu precisei do pleonasmo aqui, ele joga para baixo toneladas de combustível, essa é justamente a teoria da propulsão. Talvez cotejando meus infernos, eu consiga alçar vôo rapidamente aos céus, e aqui já não falo de estilo literário, falo de mim mesma. Peço desculpas a algum amiguinho ou amiguinha se não entenderam exatamente o que quis dizer neste parágrafo, prometo retomar o tema num outro momento.
Por ora, viva João Carlos Martins, que hoje também é maestro e impulsionador de talentos entre jovens da periferia. Viva você, homem notável, bravo, bravo!