sexta-feira, 2 de janeiro de 2009
Você tem medo de quê?
Gostei da brincadeira de esnob...de mostrar os livros cabeça que a gente tem, o blogueiro é antes de tudo um esnobe e eu não fico nem um pouquinho fora disso.
Vou falar de um livro que me dá o maior medão, só não me desfiz dele junto com os outros por medo mesmo, porque nem de ler tenho coragem.
Adoro essas comunidades de orkut em que a meninada fala de medos, como é que eu criei um filho e não me liguei nisso? Faz pouco tempo que fiquei sabendo que o meu filhote tinha, tem até hoje, o maior medo daquelas figurinhas de pessoas felizes no novo céu e na nova terra dos testemunhas de jeová. E conversando com a Wanessa, não é que ela tem também? Aí eu fui olhar, e não é que as malditas das figurinhas são terríveis mesmo? Sinistras...
Eu tenho medo de sonhar com escadas rolantes, sonho com umas medonhas, que não têm fim. Medo também de sonhar com elevador, um mais apavorante que o outro, inclusive alguns elevadores nos meus sonhos não deslizam na vertical, mas na horizontal. Medão.
Na vida real tenho medo das estátuas abandonadas, fico imaginando elas andando de noite pela cidade, esverdeadas, cobertas de pombo e caca de pombo, uiii! Imagino que algumas vestem uma casaca preta por cima pra caminhar pelas avenidas, darkão!
Tenho medo de casa com luz acesa do lado de fora à noite. Pavor. E tenho um medo inexplicável por galpões de fábrica, aliás, tenho medo de qualquer construção com pé direito alto, mas os galpões, as fábricas, aqueles depósitos medonhos que tem nas margens do rio Tamanduateí, eu não passo por ali de noite nem pra salvar a mãe. Falando em Tamanduateí, tenho medo dele também.
Só por curiosidade eu aconselho que você dê uma olhada nos medos da meninada, é muito divertido e curioso, os mais interessantes que eu achei foram medo de foto 3 X 4, e medo da Gina dos Palitos, esse eu também tenho. Medo de palhaço é o mais comum entre a garotada, seguidos de perto pelo palhaço e a bailarina que vinham numa kombi branca roubar crianças. No meu tempo era a loira do banheiro. Meu filho tem medo do palhaço Bozo.
Ah, o livro? E o Aleph, de Jorge Luis Borges. Difícil escolher um trecho mais apavorante, fico com este aqui:
“Nas horas desertas da noite ainda posso caminhar pelas ruas. A aurora costuma surpreender-me num banco da Praça Garay, pensando (procurando pensar) naquela passagem de Asrar Nama, onde se diz que Zahir é a sombra da Rosa e a rasgadura do Véu. Vinculo essa opinião a esta notícia: para perder-se em Deus, os sufis repetem seu próprio nome ou os noventa e nove nomes divinos até que eles já nada querem dizer. Eu desejo percorrer esse caminho. Talvez acabe por gastar o Zahir à força de pensar e repensar nele, talvez por detrás da moeda esteja Deus.”
Não tive coragem de me desfazer do Aleph, morria de medo de ele voltar para mim, um amigo me contou que vendeu um livro num sebo e o livro voltou para ele pelas mãos de uma namorada, ai que medo disso me acontecer, então pensei, se esse livro volta para as minhas mãos estou irremediavelmente perdida, melhor deixar ele aqui. Se você não está entendendo muito do que estou falando, eu aconselho você a lê-lo, principalmente “O Zahir”, o conto mais assustador que já li.
E o livro repousa bem quietinho debaixo de A noite escura, de São João da Cruz. Dizem que ele, o Borges, não gosta de ficar debaixo de qualquer livro, então procurei em vão algum outro cuja companhia o agradasse. Receio não ter encontrado nada em meu modesto acervo. Então deixei o Aleph debaixo do santo frade carmelita amém.
Postado por
bete p.silva