quinta-feira, 8 de janeiro de 2009

O gaúcho alegrete

 Vim aqui me desculpar. A frase (que com certeza ninguém percebeu) “meu soninho mais ou menos inocente”, não é minha não, é de Mário Quintana. Não quero encrencas com gaúchos vivos ou mortos, e muito menos com um gaúcho de Alegrete.

Mário Quintana, coitado, ao lado de Luiz Fernando Veríssimo e Arnaldo Jabor, faz parte do trio de vítimas da Internet. O Jabor dia sim dia não vocifera na CBN: - EU NÃO ESCREVI O TEXTO SOBRE OS GAÚCHOS!!!! Tarde demais, agora nem Deus acredita mais nele, imagino o pobre chegando no céu e sendo recebido por São Pedro:

- Olá, bem vindo Jabor, a propósito, gostei muito do seu texto sobre os gaúchos.

- NÃÃÃÃO!!! É o Jabor puxando os raros cabelinhos e se atirando de cabeça no inferno. Para chegar lá e ouvir do diabo que gostou muito do texto sobre as mulheres, outro que ele também não escreveu.

Quantas e quantas mensagens nos chegam de power point por dias seguidos, dos coitados, algumas escritas por eles mesmos, outras atribuídas, mas todas com bons erros de português e concordância, ao lado daquelas imagens horrorosas?...

Mas o Quintana eu acho que gostaria, ele era amigo da criançada. Creio que ele nem ficaria zangado do fato de as meninas escreverem Kintana, ou Quimtana. O autor consagrado dos perfis de MSN...

No seu tempo ele era considerado um autor menor, um mero frasista como se dizia. Mas eis que veio a Internet que resgatou o poeta ao gosto do povo, da gente simples, da meninada, foi a vingança do poeta morto. Imagino ele lá do céu fazendo uma banana paras os críticos idiotas, fazendo valer sua famosa frase, conversando com o Pedrão:

- Então, S.Pedro, eu não tinha dito “eles passarão, eu passarinho?”...

Mas para introduzir um texto menos conhecido dele na net, vamos lá:

Filó

O negrinho Filó era um artista no pente. Naquele velho pente envolto em papel de seda, tirava tudo, de ouvido, desde a Canção do Soldado até La donna é móbile. A gente ficava escutando, com orgulho e inveja. Pois nenhum de nós conseguia tocar pente. Dava-nos cócegas e, como dizia a Gabriela, “ gente se agachava a sirri que não parava mais”. Quando ele morreu, foi logo declarando a sua qualidade para S.Pedro: “musgo!” E. S.Pedro lhe deu uma gaitinha de boca. Uma linda gaitinha de boca! E até hoje ele vive explicando que não há nada como o pente...Mas o céu é tão perfeito que na sua Filarmônica não existem instrumentos de emergência: um pente, lá, é um pente mesmo.

O nome do livro é Sapato Florido.