Há algum tempo atrás escrevi um texto falando do conto A Carta Roubada de Edgar Allan Poe, que foi campeão absoluto de bilheteria aqui no meu blogue.
Não, lamento decepcioná-los, não foi por minhas qualidades literárias. Foi por eu ter citado uma antiga amiga e professora de Teatro e Expressão Corporal, Lidia Zózima. Algum aluno dela me achou e deu o alarme, e muitos alunos dela entraram aqui por conta disso. Naquele texto eu falava também de Lidia Zózima, que foi a pessoa mais interessante que eu jamais conheci.
Mas não chamei vocês aqui para falar dela. Ainda não. Mas prometo fazê-lo, e sei que vocês irão gostar. Só falei mesmo para dar uma nova levantada na audiência, sei que Lidia perdoa esse expediente velhaco, aliás me perdoar é com ela mesmo.
Hoje quero falar sobre uma peculiaridade do personagem central do conto, o estudante Arsene Dupin.
Ele possuía um método peculiar de deduzir o que as pessoas estavam pensando, que não tinha absolutamente nada a ver com adivinhação. Era pura dedução lógica.
Ele por exemplo, dizia a um amigo: você estava pensando no assunto tal. Ante a cara de espanto do interlocutor, ele explicava como chegara àquela conclusão, refazendo passo a passo todo o caminho percorrido pelo pensamento daquele amigo, levando em conta um misto de intuição, conhecimento da pessoa e fatores externos. E ele acertava sempre.
À parte a genialidade do personagem, não é tão difícil assim. Eu consigo sentir o que minha mãe está pensando. Meu filho lê meu pensamento com uma facilidade incrível e desconcertante. Com colegas de escritório também é muito fácil, e embora não seja casada acredito que com parceiros, mais ainda.
Dizem que as pessoas são imprevisíveis, mas eu penso sim que elas são imprevisíveis dentro de sua previsibilidade. As pessoas trafegam dentro de suas próprias margens, então é só conhecê-las bem para se intuir com baixa margem de erro o que elas estão a pensar, ou o próximo passo que irão dar.
O problema é que nos ocupamos demais do nosso umbigo, esse é o primeiro problema. O segundo é a tecla save. A cada nova particularidade sobre um amigo que nos é oferecida, devíamos salvar sobre. As pessoas estão fornecendo essas informações o tempo todo, o fazem até inconscientemente. Um bom observador vai recolhendo esses inputs e agregando ao perfil da pessoa com quem lida, obtendo fichas sempre atualizadas.
Fazendo assim, fica mais fácil viver. Fica mais fácil se relacionar.
Odeio expressões do tipo: é impossível saber o que se passa na cabeça de uma mulher...
Essa frase é machismo disfarçado em elogio bobo, se é que isso é elogio. Um ícone idiota que até as mulheres abraçam, achando que essa definição lhes confere um desnecessário ar de mistério.
O universo feminino só é mais rico em detalhes, tanto de natureza material como sensitiva. Mas esses detalhes são finitos. Ninguém é tão misterioso assim que seja absolutamente impossível de se imaginar o que irá fazer. Talvez crianças, e pequenas.
Essa frase acaba sendo mais uma daquelas que eu tanto detesto, os biombos confortáveis onde nos ocultamos com nossa indisposição e nossas desculpas para não caminharmos na direção do outro. As pessoas não são tão misteriosas como pensamos, nós é que não estamos interessados em conhecê-las de fato.
Até doentes mentais agem dentro de padrões específicos, já conhecidos e mapeados pela medicina há mais de um século.
Não, lamento decepcioná-los, não foi por minhas qualidades literárias. Foi por eu ter citado uma antiga amiga e professora de Teatro e Expressão Corporal, Lidia Zózima. Algum aluno dela me achou e deu o alarme, e muitos alunos dela entraram aqui por conta disso. Naquele texto eu falava também de Lidia Zózima, que foi a pessoa mais interessante que eu jamais conheci.
Mas não chamei vocês aqui para falar dela. Ainda não. Mas prometo fazê-lo, e sei que vocês irão gostar. Só falei mesmo para dar uma nova levantada na audiência, sei que Lidia perdoa esse expediente velhaco, aliás me perdoar é com ela mesmo.
Hoje quero falar sobre uma peculiaridade do personagem central do conto, o estudante Arsene Dupin.
Ele possuía um método peculiar de deduzir o que as pessoas estavam pensando, que não tinha absolutamente nada a ver com adivinhação. Era pura dedução lógica.
Ele por exemplo, dizia a um amigo: você estava pensando no assunto tal. Ante a cara de espanto do interlocutor, ele explicava como chegara àquela conclusão, refazendo passo a passo todo o caminho percorrido pelo pensamento daquele amigo, levando em conta um misto de intuição, conhecimento da pessoa e fatores externos. E ele acertava sempre.
À parte a genialidade do personagem, não é tão difícil assim. Eu consigo sentir o que minha mãe está pensando. Meu filho lê meu pensamento com uma facilidade incrível e desconcertante. Com colegas de escritório também é muito fácil, e embora não seja casada acredito que com parceiros, mais ainda.
Dizem que as pessoas são imprevisíveis, mas eu penso sim que elas são imprevisíveis dentro de sua previsibilidade. As pessoas trafegam dentro de suas próprias margens, então é só conhecê-las bem para se intuir com baixa margem de erro o que elas estão a pensar, ou o próximo passo que irão dar.
O problema é que nos ocupamos demais do nosso umbigo, esse é o primeiro problema. O segundo é a tecla save. A cada nova particularidade sobre um amigo que nos é oferecida, devíamos salvar sobre. As pessoas estão fornecendo essas informações o tempo todo, o fazem até inconscientemente. Um bom observador vai recolhendo esses inputs e agregando ao perfil da pessoa com quem lida, obtendo fichas sempre atualizadas.
Fazendo assim, fica mais fácil viver. Fica mais fácil se relacionar.
Odeio expressões do tipo: é impossível saber o que se passa na cabeça de uma mulher...
Essa frase é machismo disfarçado em elogio bobo, se é que isso é elogio. Um ícone idiota que até as mulheres abraçam, achando que essa definição lhes confere um desnecessário ar de mistério.
O universo feminino só é mais rico em detalhes, tanto de natureza material como sensitiva. Mas esses detalhes são finitos. Ninguém é tão misterioso assim que seja absolutamente impossível de se imaginar o que irá fazer. Talvez crianças, e pequenas.
Essa frase acaba sendo mais uma daquelas que eu tanto detesto, os biombos confortáveis onde nos ocultamos com nossa indisposição e nossas desculpas para não caminharmos na direção do outro. As pessoas não são tão misteriosas como pensamos, nós é que não estamos interessados em conhecê-las de fato.
Até doentes mentais agem dentro de padrões específicos, já conhecidos e mapeados pela medicina há mais de um século.