A beleza da flor
Quando a fixo compenetrado
Volto a sentir
Quão profundas são
As bênçãos de Deus
Conhecia a alegria do mundo
Ao adornar minha sala
Com a camélia que floresceu
No jardim
Aqueles que têm
O desejo ardente de se igualar
Á beleza das flores
Possuem corações
Que a elas se assemelham (Mokiti Okada)
Quando a fixo compenetrado
Volto a sentir
Quão profundas são
As bênçãos de Deus
Conhecia a alegria do mundo
Ao adornar minha sala
Com a camélia que floresceu
No jardim
Aqueles que têm
O desejo ardente de se igualar
Á beleza das flores
Possuem corações
Que a elas se assemelham (Mokiti Okada)
Era recitando um poema de Mokiti Okada, que começavam as aulas de Ikebana, curso que pratiquei por uns pares de anos. Mas para contar como a Ikebana entrou em minha vida, preciso retornar no tempo. E retornar bastante, ao tempo da TV em preto e branco, pois foi em nossa TV em preto e branco Colorado, no programa Silvio Santos, que vi uma japonesa explicar essa arte. Mesmo sem o benefício da cor, e sendo bastante jovem, creio que tinha uns doze anos, eu senti profundo interesse por aquele belo trabalho. E tratei de memorizar o nome – Ikebana – eu repetia de tempos em tempos, como que a tirar aquele nome da prateleira da minha mente e espaná-lo, para não esquecer.
Eu já era madura, perto dos meus quarenta anos creio, quando assisti minha primeira aula na Fundação Mokiti Okada, e tão grande foi o meu encanto que fiquei por algum tempo.
Para mim, aprender Ikebana, foi muito mais do que aprender técnicas de vivificação da flor – vivificação, note bem – jamais se chama uma ikebana de arranjo, é considerado até uma ofensa. Ikebana é uma arte viva.
Aquelas delicadas japonesas, me ensinaram muito mais do que lidar com a flor. Ensinaram-me a cortesia, a amabilidade, a gentileza, o toque carinhoso, a leveza do gesto, e em muitas vezes a firmeza do gesto, para se fixar um galho mais difícil. Mas de um modo geral, foi um curso de vida.
Elas nos estimulavam à cortesia. Uma aula de Ikebana, começa com a preparação da classe. Em primeiro lugar, há que se receber o material, as flores e os galhos que irão compor o estudo do dia. Então a professora dá as diretrizes do trabalho – se iremos estudar linhas, curvas, espaços, se iremos explorar plano alto, plano baixo, enfim. Em seguida, as alunas distribuem o material entre si, e aí já começa a prática da cortesia:
- Querida, esta gérbera está mais bonita que essa, fique com ela para você. – Não, querida, fique você! – Não, eu faço questão, quero que você fique com ela. Uma gentil aluna de Ikebana nunca avança para escolher o melhor material, pelo contrário, ela escolhe o melhor material para outra colega de classe.
Depois as alunas vão ao depósito escolher os vasos, um mais lindo que o outro, todos feitos lá, pela turma de escultura e modelagem em argila. Aí se pratica o mesmo exercício da delicadeza, umas escolhem vasos para as outras. Alunas mais novas carregam os vasos para as alunas mais idosas. Depois, para colocar água e levar para a mesa de trabalho, vale a mesma educação – umas ajudam as outras no transporte.
Feito e terminado o trabalho, as alunas saem em giro pela classe, para admirar os trabalhos uma das das outras, sempre elogiando, críticas jamais. Quando há a necessidade de uma correção, a professora intervém, com delicadeza, jamais colocando a mão no trabalho da aluna, mas com sugestões, ela orienta a aluna pelo caminho que deve ser o correto.
O trabalho inverso, de desmontagem do trabalho, obedece ao mesmo padrão de educação e cortesia, finalizando com o descarte de galhos que não foram usados: todos são cortados em pedaços pequenos, num respeito para com o lixeiro. A sala deve ser deixada no mesmissimo modo em que foi encontrada.
No começo aquela cortesia toda me soava meio forçada. Mas com tempo aquilo foi incorporando aos nossos modos, todas fomos ficando mais educadas e elegantes.
O nome do estilo que estudei é o Sanguetsu – o caminho da montanha, da flor e da lua. O estilo foi criado por Mokiti Okada, que é mais conhecido como Meishu Sama, que é o seu nome espiritual, significa Senhor da Luz. Meishu Sama foi o fundador da Igreja Messiânica, que funciona no mesmo prédio, no andar térreo.
Como eu chegava cedo, tinha tempo para ficar no templo, onde sempre uma ou outra japonesa me convidava a realizar preces. É uma longa cantilena em japonês, que eles realizam de frente para o altar, que tem no centro a palavra LUZ escrita em caracteres japoneses, dizem eles que é uma cópia da mesma palavra escrita por Meishu Sama. Depois da longa prece, eles rezam um pai nosso, e aí então eu acompanhava. Terminado isso, eles batem palmas três vezes, em veneração ao mestre, e se inclinam.
Os messiânicos ministram o Johrei, que é uma espécie de passe energético, que segundo eles, livram as pessoas de vários males. Cheguei a receber muitos deles.
Então foi assim que realizei um sonho de infância. Aprendi Ikebana, enchi minha casa de flores por um bom tempo, presenteei inúmeras amigas com trabalhos, cheguei a ornamentar templos, ornamentei até um espaço de um congresso, e até ganhei algum dinheiro com minhas ikebanas.
Recebi diplomas, tirei fotos, assisti várias cerimônias em seus templos, visitei o solo sagrado que eles têm em Guarapiranga, recebi incontáveis ministrações de Johrei.
E saí dessa experiência com um profundo carinho e um profundo respeito pelos japoneses messiânicos amantes dessa linda arte chamada Ikebana.