sexta-feira, 17 de julho de 2009

Uma capela pra Jesus

Fazer coisas pra Deus é me por fora d’Ele, pensei, ou estou n’Ele ou nem sou.
Adélia Prado em “O homem da mão seca”


Já naveguei nas águas da ilusão de que deveria fazer algo muito importante para demonstrar meu amor por Jesus, ou, que deveria fazer algo imensamente importante pelo seu Reino.

Algo assim como: se eu não tivesse vindo ao mundo, o mundo estaria parado até aquele momento, sem solução, aguardando pela Bete, a salvadora.

Hoje vejo isso com facilidade, mas eu realmente já acreditei que de mim sairia uma enorme solução, tão enorme quanto o tamanho do meu ego. Até o dia em que descobri que Deus não precisava de mim para nada, Ele "conseguiu" fazer tudo perfeitamente sem os meus palpites, e vocês, sejam agradecidos por isso. Uma noite três vezes maior que o dia era só um dos meus planos mirabolantes para o bom funcionamento do universo.

Resolvi então, já um tanto mais moderada, que tudo o que fizesse, faria como sendo para Jesus. Meu trabalho, meu lazer, minhas coisas importantes e até minhas bobeiras. E querem saber? É o que mais tem dado certo. Claro que na grande maioria das vezes eu me esqueço disso totalmente; na maior parte do tempo eu caminho no automático, o que não deveria, mas o que não consigo impedir.

Todos sabem que para caminhar, a única coisa que é preciso fazer é dar o primeiro passo, daí para frente o seu corpo "caminha você". Então seguimos pela vida meio que ligados numa tomada invisível, nos movendo mesmo no automático; ter consciência plena de si é muito complicado.

Uma vez me disseram que consciência plena de si é algo mais ou menos como o estado em que se fica, se estivéssemos trancados num quarto escuro à noite sabendo que nesse quarto há uma serpente. Com todos os sentidos totalmente aguçados e em alerta, o tempo todo, o tempo todo, o tempo todo. Quem consegue?

Mas recentemente li um livro cujo nome me foge, de um autor chamado Henri Nouwen, que me ensinou a montar um santuário, uma capelinha, dentro de mim. E tentar visitá-lo pelo menos uma vez ao dia que seja. E não é que é bacana, e não é que funciona, e não é que é bom?

Sabem, acabo de voltar da rua onde estive: no Banco conversando com uma moça chamada Priscila. Na sequência troquei a bateria do relógio com um sujeito chamado Reginaldo, sou antiga cliente dele. Entrei numa lojinha e perguntei o preço de uma blusa roxa (não comprei), e ali ao lado comi uma esfiha de queijo e zahtar deliciosa, mais um suco de caju. Embarquei no metrô, fiz baldeação, desci numa determinada estação, já vinha chegando meu ônibus, sentei num cantinho vazio e vim para casa.

Não pensei em Jesus momento algum.

Mas agora, aqui, enquanto escrevo, me veio à lembrança o santuário interior proposto pelo Padre Nouwen, e é com essa imagem que eu me despeço de vocês, é esse o meu pão para hoje. Se você ainda não tem sua capela interior, vai aqui o conselho do bom homem, construa a sua. Do jeitinho que você quiser. E a visite, sempre que lembrar. E deixe o resto no automático, deixe por conta do Pai.