Então um dia minha mãe levou a mim e ao meu irmão para assistirmos a um culto do Reverendo Billy Graham. Isso foi lá para as calendas de mil novecentos e bolinhas, eu era muito pequena, por aí dá pra calcular. Era no estádio do Pacaembu. Chegamos, assentamos, era noite, chovia.
Eu costumava, costumo até hoje, quando estou num evento chato, me encaixar direitinho dentro de uma bolha e lá ficar. Essa técnica eu uso muito em salas de espera e igrejas, mais em igrejas, porque salas de espera sempre tem móveis bizarros e tipos esquisitos para a gente ficar olhando. Como na igreja todo mundo está de costas para a gente, tudo o que me sobra é ficar contando quantas carecas há na platéia, até que descobri que Mário Quintana também fazia isso, dei muita risada quando li, afinal não estou sozinha em minhas bobeiras.
Estávamos então no estádio do Pacaembu, chovia, Billy Graham pregando, eu encaixada numa bolha. Subitamente, do nada, vejo meu irmão se levantando e dizendo: eu quero, eu quero aceitar Jesus!
Como? o quê? o que foi? o que está acontecendo, o que foi que eu perdi?! Eu puxava a manga do casaco da minha mãe para que ela me explicasse, mas antes de qualquer explicação, estava ao nosso lado um senhor todo engravatado, debaixo de um imenso guarda chuva preto, carregando uma bíblia maior do que uma lista telefônica. Era o caso que o tal reverendo tinha a seu serviço, ou melhor, a serviço do reino dos céus, uma equipe de voluntários, que estavam estrategicamente espalhados pelo estádio. À medida que pecadores iam levantando as mãos, eles corriam a tomar as juras de fidelidade eterna dos arrependidos. E um deles era meu irmão. Então o tal sujeito, chamando meu irmão de “senhor”, o que achei engraçado porque ele não devia ter mais de oito anos, foi perguntando coisas e meu irmão respondendo. E meu irmão foi cumprindo passo a passo o ritual de aceitar Jesus, coisa de americanos. Antes que eu pudesse dizer – eu também quero – o tal sujeito bigodudo fechou a bíblia e foi à cata de outras ovelhas.
Voltamos para casa, pela Avenida São João, e minha mãe falava ao meu irmão: Agora você é um salvo, agora se Jesus voltar você irá com ele, morar na glória, em ruas de ouro e palácios de cristal!
Aquilo não ia bem – e eu? Perguntei puxando a manga do casaco de minha mãe, desesperada. Meu irmão, embora salvo e com seu nome devidamente inscrito no livro da vida, não perdeu a oportunidade de me zombar: - você não, você não aceitou Jesus, boba!
Foi então que minha mãe voltou para casa trazendo seus dois filhos, um salvo e um condenado. Eu não parava de me culpar por não ter prestado atenção no culto, agora eu estava perdida e sem salvação. Mãe, quando é que nós vamos voltar aqui nesse Billy? Não vamos voltar mais, ele está voltando para os Estados Unidos! Meu irmão ria por detrás de minha mãe.
Então vocês que estão aqui há algum tempo já sabem o que aconteceu. Por muito tempo minha oração antes de dormir foi: Papai do céu, faz o Billy Graham voltar ao Brasil, amém.
Como papai do céu é bom, ele não trouxe o Billy, mas fez eu esquecer daquela besteira toda.
Eu lembrei dessa historinha porque semana passada, eu estava no ponto de ônibus, e uma velhinha muito bondosa e cristã aqui do bairro, me olhou de cima a baixo e perguntou: Elizabeth, quando foi que você aceitou Jesus?
Comecei a rir e disse: Ih, dona fulana, eu nunca aceitei Jesus. Vai ver que já nasci “aceitada”. A boa velhinha não achou a mínima graça, e antes que eu pudesse contar minha história, o ônibus que ela aguardava chegou. Deve ter seguido viagem pensando – essa aí não tem mais jeito...
Se não me engano o Reverendo Billy Graham esteve novamente no Brasil no final dos anos 70, eu assisti seus magníficos discursos pela TV, tranqüilamente, lixando as unhas no sofá da sala.
Eu costumava, costumo até hoje, quando estou num evento chato, me encaixar direitinho dentro de uma bolha e lá ficar. Essa técnica eu uso muito em salas de espera e igrejas, mais em igrejas, porque salas de espera sempre tem móveis bizarros e tipos esquisitos para a gente ficar olhando. Como na igreja todo mundo está de costas para a gente, tudo o que me sobra é ficar contando quantas carecas há na platéia, até que descobri que Mário Quintana também fazia isso, dei muita risada quando li, afinal não estou sozinha em minhas bobeiras.
Estávamos então no estádio do Pacaembu, chovia, Billy Graham pregando, eu encaixada numa bolha. Subitamente, do nada, vejo meu irmão se levantando e dizendo: eu quero, eu quero aceitar Jesus!
Como? o quê? o que foi? o que está acontecendo, o que foi que eu perdi?! Eu puxava a manga do casaco da minha mãe para que ela me explicasse, mas antes de qualquer explicação, estava ao nosso lado um senhor todo engravatado, debaixo de um imenso guarda chuva preto, carregando uma bíblia maior do que uma lista telefônica. Era o caso que o tal reverendo tinha a seu serviço, ou melhor, a serviço do reino dos céus, uma equipe de voluntários, que estavam estrategicamente espalhados pelo estádio. À medida que pecadores iam levantando as mãos, eles corriam a tomar as juras de fidelidade eterna dos arrependidos. E um deles era meu irmão. Então o tal sujeito, chamando meu irmão de “senhor”, o que achei engraçado porque ele não devia ter mais de oito anos, foi perguntando coisas e meu irmão respondendo. E meu irmão foi cumprindo passo a passo o ritual de aceitar Jesus, coisa de americanos. Antes que eu pudesse dizer – eu também quero – o tal sujeito bigodudo fechou a bíblia e foi à cata de outras ovelhas.
Voltamos para casa, pela Avenida São João, e minha mãe falava ao meu irmão: Agora você é um salvo, agora se Jesus voltar você irá com ele, morar na glória, em ruas de ouro e palácios de cristal!
Aquilo não ia bem – e eu? Perguntei puxando a manga do casaco de minha mãe, desesperada. Meu irmão, embora salvo e com seu nome devidamente inscrito no livro da vida, não perdeu a oportunidade de me zombar: - você não, você não aceitou Jesus, boba!
Foi então que minha mãe voltou para casa trazendo seus dois filhos, um salvo e um condenado. Eu não parava de me culpar por não ter prestado atenção no culto, agora eu estava perdida e sem salvação. Mãe, quando é que nós vamos voltar aqui nesse Billy? Não vamos voltar mais, ele está voltando para os Estados Unidos! Meu irmão ria por detrás de minha mãe.
Então vocês que estão aqui há algum tempo já sabem o que aconteceu. Por muito tempo minha oração antes de dormir foi: Papai do céu, faz o Billy Graham voltar ao Brasil, amém.
Como papai do céu é bom, ele não trouxe o Billy, mas fez eu esquecer daquela besteira toda.
Eu lembrei dessa historinha porque semana passada, eu estava no ponto de ônibus, e uma velhinha muito bondosa e cristã aqui do bairro, me olhou de cima a baixo e perguntou: Elizabeth, quando foi que você aceitou Jesus?
Comecei a rir e disse: Ih, dona fulana, eu nunca aceitei Jesus. Vai ver que já nasci “aceitada”. A boa velhinha não achou a mínima graça, e antes que eu pudesse contar minha história, o ônibus que ela aguardava chegou. Deve ter seguido viagem pensando – essa aí não tem mais jeito...
Se não me engano o Reverendo Billy Graham esteve novamente no Brasil no final dos anos 70, eu assisti seus magníficos discursos pela TV, tranqüilamente, lixando as unhas no sofá da sala.