terça-feira, 21 de abril de 2009

O maior susto que já passei

 Eu trabalhava em uma agência bancária, e estava no oitavo mês de gravidez. Parecia ser um dia como outro qualquer, mas aqueles homens entrando num grupo de seis não me pareceu nada normal, e de fato não era.

O mais velho deles anunciou o assalto, e os demais tomaram posição. Coisa aparentemente estudada, bem organizada. Um deles, um mocinho de uns vinte anos, veio até mim, colocou um revólver em minha cabeça, e me fazendo de refém foi até o vigilante, para que ele saísse da guarita e entregasse a arma. Naquele tempo o vigilante da agência ficava numa espécie de casinha redonda fechada. Era ponto fundamental conseguir a rendição desse homem, pois ele detinha uma arma e os botões de alarme, e também porque os bandidos sempre querem conseguir mais armas.

O vigilante, claro, não queria sair, ele estava seguro onde estava. Corria contra ele também o fato de que, se saísse, poderia ser punido pelos seus superiores, fora o risco de perder a vida.

Formou-se um impasse. Os que já estavam posicionados, vendo que a coisa não estava dando certo, vieram todos para cima de mim, ameaçando que se o vigilante não saísse, iriam me matar. Estavam muito nervosos.

Aquela gritaria e ameaças só faziam o vigilante, que não passava de um rapazinho manter ainda mais sua posição de não sair. A coisa ameaçava entrar num perigoso descontrole. Assumi o comando da situação. – posso falar com ele? Os bandidos concordaram.

Com voz calma, chamei o moço pelo nome e pedi que saísse. Disse que nada aconteceria com ele. Não sei de onde tirei aquela certeza.

O moço saiu, entregou a arma, e o assalto continuou “normalmente”, mas o que quero lhes contar vem agora:

O rapazinho que me rendeu, que me sacudiu, que gritou para mim, uma grávida, com a arma apontada para a minha cabeça, ao ver o impasse resolvido sorriu e me disse:

- Fique calma, dona, a senhora está grávida, vai sentar. Olha, não vai acontecer nada com a dona não... e me conduziu até uma cadeira. Era um lindo rapazinho mulato de olhos cor de mel.

Sorri para ele e fui sentar. Realmente não aconteceu nada comigo.

Esta história é para mim a prova autêntica de que pessoas erradas também fazem coisas certas. Um perigoso bandido saiu da sua posição de alta periculosidade e se tornou um confortador. Gosto desta história, e concluo também pelo reverso da coisa: pessoas certas também fazem coisas erradas.

Contei isso num contraponto, ou explicação, à postagem “O trem tá feio e é bem por aqui”, que a meu ver não foi bem compreendida pelos meus queridos. Eu lá não me queixava da criminalidade, isso já são favas contadas. Eu me queixava de ações cruéis praticadas por pessoas aparentemente normais. Leia novamente que entenderá, claro, se estiver interessado.

Mas a bem da verdade, foi uma queixa desnecessária. Pessoas certas fazem coisas erradas, pessoas erradas fazem coisas certas, pessoas certas fazem coisas certas e pessoas erradas fazem coisas erradas. Tudo muito normal, tudo muito inerente à nossa condição humana, e todos nós somos alternadamente certos e errados. Não sei em vocês, mas eu posso afirmar com total segurança que moram um anjo e um demônio aqui.

Pois.