quarta-feira, 11 de junho de 2008

A cura

 “Alguns dias depois, Jesus voltou para a cidade de Cafarnaum, e logo se espalhou a notícia de que ele estava em casa. Muitas pessoas foram até lá, e ajuntou-se tanta gente, que não havia lugar nem mesmo do lado de fora, perto da porta. Enquanto Jesus estava anunciando a mensagem, trouxeram um paralítico. Ele estava sendo carregado por quatro homens, mas, por causa de toda aquela gente, eles não puderam levá-lo até perto de Jesus. Então fizeram um buraco no telhado da casa, em cima do lugar onde Jesus estava, e pela abertura desceram o doente deitado na sua cama. Jesus viu que eles tinham fé e disse ao paralítico:

- Meu filho, os seus pecados estão perdoados.” Do Evangelho segundo São Marcos.

Depois dos meus trinta anos, e após o nascimento do meu filho, desenvolvi uma série de doenças, ou sintomas, como queiram. Já contei algumas dessas queixas por
aqui. E aqui. Mas não perca seu tempo lendo isso. Também não pretendo cansar vocês com a lista de meus achaques, porque é grande. Para relatar apenas um deles, porque é o mais agudo, eu tenho uma febre inexplicável, baixa, que me ataca em média uns cinco ou seis dias no mês, por aí.

Por conta desses sintomas, freqüentei um sem número de consultórios e clínicas, e fiz outro tanto de exames, até porque era necessário investigar a febre. De teste de AIDS para cima, fiz todos. Resultado, nenhum. Como isso tudo já levou de mim bem uns 20 anos, e eu não morri, concluo que não é nada grave. Espero.

A febre e outros sintomas levavam toda a minha energia vital, e as solicitações do meu trabalho eram muitas, eu precisava fazer frente a elas, precisava correr com a vida, precisava sarar. Como os médicos não deram conta, procurei tratamento alternativo, e agora tome fôlego, porque a lista é grande:

O primeiro de todos foi a homeopatia. Daí fui para o naturismo, que me levou à iridologia, misturado com os tais florais de Bach. Nada. Fitoterápicos de todo tipo, conheci uma naturista famosa que me atulhou de chás e plantas. Massagens quiropráticas, essas são boas. Imensamente caras. Para consertar a coluna apelei também para a RPG – reeducação postural geral. Caríssima. Aí descambei para o lado espiritual: centros espíritas, templos de umbanda, no plural mesmo, fui a vários, leitura de búzios e tarô, cura prânica, peguei uma carona em progressão neurolinguística, ufologia – visitei um sujeito argentino que jurava que fazia contatos imediatos. Não satisfeita em procurar alguém que me jogasse as cartas, quis eu mesma aprender a ler o tarô, então fiz alguns cursos, li uma grande quantidade de livros, por conta desses livros acabei freqüentando uma sociedade teosófica que me roubou um tempo insano. Fora o dinheiro, dos livros, cursos e palestras: angeologia, viagem astral, visualização criativa, psicologia transpessoal, nem lembro mais o que é isso. Também me tornei Rosacruz, outro investimento de tempo e dinheiro. Uma leve passagem pela Grande Fraternidade Branca. Freqüentei um templo chinês onde recebi um batismo de fogo, uma cerimônia imensamente prazerosa e interessante. Regressão a vidas passadas e mapa astral, fiz também. Pagava em dólares.

A lista seria maior, mas vou parar por aqui para não cansar, se é que já não cansei. Finalizando tudo isso, também procurei os tais pastores evangélicos, esses me exorcizaram, gritaram coisas ao meu ouvido, um deles até me fez desmaiar, creio que de cansaço.

E tudo continuava igual: dor no corpo, cansaço imenso, febre, uma ardência nos olhos que oftalmologista nenhum diagnosticava. Sofria de não sei quê, essa era a verdade.

- Será que você não sofre de fadiga crônica? Eu ouvia perguntas dessas e de todos os tipos, meus amigos se desesperavam tentando me ajudar. Mas ao final de um certo tempo, eles se cansaram de mim, fiquei só com minhas febres e dores.

Foi quando fiquei desempregada, sem o convênio médico e sem dinheiro algum, que parei com a maratona.

E foi lendo o trecho acima, certa noite, que disse: Jesus, eu desisto de continuar a procurar ajuda. Toma conta desse lixo que é a minha saúde, toma conta desta paralítica, amém.

Gostaria de ter um final feliz para contar para vocês, mas não tenho não. Ou quase. Alguns sintomas desapareceram, esse dos olhos que relatei, a sinusite crônica também se foi, ela era terrível. Mas outros ficaram, estão comigo até hoje, o mais persistente são as febres, manchas no rosto, dor crônica em vários pontos da coluna. E outros mais que estou com preguiça de contar.

Quando converso com Jesus, no final da noite, na hora do balanço do dia, eu às vezes apresento a conta dessa queixa toda, e peço a ele que olhe para esta paralítica. Uma olhadinha só, Jesus. Um toquezinho da sua mão, eu peço. Jesus então me apresenta a conta dos meus pecados perdoados, e pergunta se não está bom pra mim. Claro que está, Mestre. Saber-me perdoada, é a maior das minhas certezas e de minhas alegrias, é o centro da minha fé. Mas eu também queria carregar a cama das minhas doenças nas costas. Como o paralítico da história, o que você curou.

Então Jesus me fala que o pecado que eu cometo diariamente, minuto a minuto, é o que está sendo mais difícil para Ele – é o pecado de não gostar de mim mesma. Elizabeth, ele me fala – Jesus me chama de Elizabeth, à inglesa, com assento no i – eu preciso perdoar você todas as horas do dia, porque você não se ama o mesmo tanto de horas do dia! Faça assim, Ele me diz: Tente um minuto de trégua nessa falta de amor próprio. Um minuto gostando de você. É o tempo que eu preciso para agir.

Quer dizer então, Mestre, que a cura para os meus males está em minhas mãos?

Mas nesse estágio das minhas orações, eu geralmente pego no sono.