11.
À noite depois do jantar, Rowena me perguntou se eu não estaria cansada demais para continuar os trabalhos com ela. Eu que pagaria qualquer preço para ficar perto dela, disse sem precisar mentir que não estava cansada, de forma nenhuma. Então ela me levou a uma enorme sala oval, lindamente revestida com um fofo tapete alaranjado, e com paredes guarnecidas de lindas cortinas de uma bela cor creme com enfeites dourados, e só. O ambiente estava deliciosamente perfumado, e Lidia já estava lá, ela nos conduziria nos exercícios de aquecimento, pois ali teríamos uma aula de dança.
Soube que o trabalho de Lidia tinha sido pintar uma sala de aula de crianças, e a cor escolhida por ela vocês já sabem, violeta, claro. Ela pintou fadinhas, faunos, gnomos, árvores, flores e pássaros em fundo lilás e violeta, as fadinhas e as borboletas com asinhas transparentes, as libélulas e os passarinhos parecendo querer sair das paredes, um capricho.
- Vocês já entenderam a cura das cores, iniciou Rowena, estávamos sentadas em roda no chão, haviam outras mulheres. Eu já conversei com cada uma de vocês, e soube como lhes foi prazeroso passarem o dia envolvidas com atividades relacionadas às suas cores pessoais. Mas vocês não podem ficar para sempre aqui em contato com girassóis amarelos nos campos ensolarados, ou manuseando o rubi das beterrabas ou o vermelho dos tomates indefinidamente, vocês deverão voltar para suas ocupações.
Mas eu posso ensiná-las a levar as suas cores para sempre consigo, dentro de vocês, deixem-me ensiná-las a dançar a sua cor.
E foi assim que dançamos, sob o seu comando, ao som de músicas místicas e intrigantes como de Claude Debussy, Camile Saint-Saens e Erik Satie, entrando pela madrugada à dentro, naquela belíssima sala perfumada, cada uma vestindo a sua cor pessoal, eu usava uma bela túnica longa de seda dourada, fria, deslizante, sensual, extremamente agradável ao tato.
Um dia talvez consiga contar a vocês como foi essa aula, como dançamos, que sons ouvimos, que sensações tivemos, que tipo de ensinamentos recebemos. Só posso adiantar que foram ensinamentos para a vida toda. Seria como uma releitura das atividades do corte dos girassóis, e das beterrabas, e das verduras, desenvolvida com a magia da dança, numa outra percepção sensorial, numa outra oitava. Reinterpretando as atividades do dia, dançamos nossa colheita interior.
Foi Rowena quem me ensinou que a vida pode ser dançada. Que todas as nossas atividades do dia a dia, mesmo as mais simples, podem ser vividas com harmonia, como se houvesse um inaudível fundo musical, inaudivel talvez para os outros. Ela me ensinou a ouvir música dentro de mim.
Quando finalizamos aquela sessão, já próximo do amanhecer, ela pediu que nos acomodássemos, pois ela entoaria um canto, e que muitas de nós ali saberíamos reconhecer, ao final dele, qual era a nossa habilidade a ser desenvolvida. Sobre esse canto eu nada posso falar, apenas que ao término dele eu tinha certeza de que eu teria de escrever esta história, e outras, muitas outras, enfim, que eu teria de começar a escrever.
Continua...
À noite depois do jantar, Rowena me perguntou se eu não estaria cansada demais para continuar os trabalhos com ela. Eu que pagaria qualquer preço para ficar perto dela, disse sem precisar mentir que não estava cansada, de forma nenhuma. Então ela me levou a uma enorme sala oval, lindamente revestida com um fofo tapete alaranjado, e com paredes guarnecidas de lindas cortinas de uma bela cor creme com enfeites dourados, e só. O ambiente estava deliciosamente perfumado, e Lidia já estava lá, ela nos conduziria nos exercícios de aquecimento, pois ali teríamos uma aula de dança.
Soube que o trabalho de Lidia tinha sido pintar uma sala de aula de crianças, e a cor escolhida por ela vocês já sabem, violeta, claro. Ela pintou fadinhas, faunos, gnomos, árvores, flores e pássaros em fundo lilás e violeta, as fadinhas e as borboletas com asinhas transparentes, as libélulas e os passarinhos parecendo querer sair das paredes, um capricho.
- Vocês já entenderam a cura das cores, iniciou Rowena, estávamos sentadas em roda no chão, haviam outras mulheres. Eu já conversei com cada uma de vocês, e soube como lhes foi prazeroso passarem o dia envolvidas com atividades relacionadas às suas cores pessoais. Mas vocês não podem ficar para sempre aqui em contato com girassóis amarelos nos campos ensolarados, ou manuseando o rubi das beterrabas ou o vermelho dos tomates indefinidamente, vocês deverão voltar para suas ocupações.
Mas eu posso ensiná-las a levar as suas cores para sempre consigo, dentro de vocês, deixem-me ensiná-las a dançar a sua cor.
E foi assim que dançamos, sob o seu comando, ao som de músicas místicas e intrigantes como de Claude Debussy, Camile Saint-Saens e Erik Satie, entrando pela madrugada à dentro, naquela belíssima sala perfumada, cada uma vestindo a sua cor pessoal, eu usava uma bela túnica longa de seda dourada, fria, deslizante, sensual, extremamente agradável ao tato.
Um dia talvez consiga contar a vocês como foi essa aula, como dançamos, que sons ouvimos, que sensações tivemos, que tipo de ensinamentos recebemos. Só posso adiantar que foram ensinamentos para a vida toda. Seria como uma releitura das atividades do corte dos girassóis, e das beterrabas, e das verduras, desenvolvida com a magia da dança, numa outra percepção sensorial, numa outra oitava. Reinterpretando as atividades do dia, dançamos nossa colheita interior.
Foi Rowena quem me ensinou que a vida pode ser dançada. Que todas as nossas atividades do dia a dia, mesmo as mais simples, podem ser vividas com harmonia, como se houvesse um inaudível fundo musical, inaudivel talvez para os outros. Ela me ensinou a ouvir música dentro de mim.
Quando finalizamos aquela sessão, já próximo do amanhecer, ela pediu que nos acomodássemos, pois ela entoaria um canto, e que muitas de nós ali saberíamos reconhecer, ao final dele, qual era a nossa habilidade a ser desenvolvida. Sobre esse canto eu nada posso falar, apenas que ao término dele eu tinha certeza de que eu teria de escrever esta história, e outras, muitas outras, enfim, que eu teria de começar a escrever.
Continua...