sábado, 27 de dezembro de 2008

Mãos de afeto



Ele não era um namorado, era um ficante. Só que naquele tempo essa palavra ainda não existia.

Na verdade era um aproveitante. Só aparecia longe longe, só ligava de quando em nunca.

- Que mãos frias você tem, ele implicava.

Mal sabia ele que eram frias de emoção, de tensão, de preocupação, quando, meu Deus, quando ele vai dizer que me ama?

Aos sábados ele nunca aparecia.

- É noivo sua boba. Amigas em mesa de bar. Você é a segunda opção dele, se não for a terceira.

- A noivinha deve ser virgem, e graças a você, acrescentava uma outra amiga.

Estavam todas certas.

- Ah, vocês vão ver! Ele vai se decidir por mim, era o que eu sonhando queria acreditar.

E assim ia dando sexo na esperança de receber amor e o tempo passava. Só não passava a implicância dele com minhas mãos frias.

Um dia ele ligou: chego as oito. Como ele era pontual, fui para o fogão faltando cinco minutos. Aqueci as mãos na chama do gás.

- Viu, não estão quentes minhas mãos hoje?

Mas não contei a proeza. Foi a declaração de amor mais tonta e vazia que o sujeito jamais ficou sabendo que recebeu.

Aqueci as mãos em segredo para ele, não acredito que uma outra mulher o tenha amado a esse ponto.