sábado, 28 de fevereiro de 2009

A tangerina roxa...continuação

2.
A
nossa história já começa com uma lamentável omissão: não posso contar o nome do lugar onde se localiza a comunidade. Se por um lado isso é ruim, pois dificulta a autenticação da narrativa, por outro é bom porque vai dar munição aos incrédulos, e com isso eu jogo limpo. Os incrédulos na maiorias das vezes têm razão, por isso eles também são benvindos aqui, e esta história já começa de fato mal contada. Mas Lidia pediu que eu desse minha palavra de que não contaria a ninguém a localização, e eu não brinco com essas coisas, e eu me comprometi com eles também.

Eles eram os tais administradores vindos do espaço, mas eu estou indo muito rápido. Voltemos.

Eu tinha um bebê pequeno para deixar com alguém, então tratei de inventar uma formidável mentira para minha mãe, do contrário ela teria me internado.

Eu estava muito insegura. Claro que quando o assunto era Lidia, nada me surpreendia. Ela vivia enfurnada em templos budistas e outros, frequentava palestras, vivências e workshops esotéricos de todo tipo, já tinha passado semanas meditando no planalto central, e inúmeros outros pontos considerados energéticos, já tinha viajado até a India para conhecer gurus, não havia novidade alguma dentre os ensinamentos místicos que ela não conhecesse e acompanhasse. Eu não a acompanhava porque tinha um filho pequeno, mas não só. Achava muita maluquice, aquela salada de conhecimentos. Mas eu tinha muita curiosidade, então ela ia me contando tudo, até o dia em que ela se cansou de me contar, disse que se eu quisesse que passasse a seguir de fato aqueles caminhos todos, e foi aí que nos separamos. Eu optei por não seguir nenhum daqueles caminhos, creio que isso a deixou decepcionada.

Contudo eu respeitava as suas buscas, mas aquilo já era demais. Eu sabia que ela andava pelas matas à procura de ETs, conhecia o grupo de caçadores de ETs com quem ela andava, já tinha estado com eles, ouvido algumas de suas palestras, achando até muito interessantes. Sabia que havia um senhor publicando livros falando sobre contatos que tinha feito com seres do espaço, com um número bem razoável de leitores, mas tirar aquilo tudo das páginas de livros ou de grupinhos fazedores de contatos e passar para uma realidade como uma comunidade agrícola com seres do espaço me soava no mínimo como uma grande enganação, para não falar que me soava como coisa de doido mesmo.

Mas a curiosidade venceu, a mesma que trouxe vocês de volta, e inventada a mentira, deixado o bebê, arrumada a mala - leve roupas leves de cores suaves ela disse, e perfumes, eles gostam de perfumes, eu fui.

Continua...