domingo, 8 de fevereiro de 2009

A vespa



Uma noite estávamos na sala em casa eu, meu bebê, meus pais e mais duas pessoas. Foi então que pela janela entrou uma enorme vespa, que foi direto ferroar o dedão de minha mãe. Quando fui tirar o ferrão do dedo dela me assustei com o tamanho, tinha um centímetro.

A coitada da minha mãe saiu-se com essa pérola: "ainda bem" que fui eu, já pensaram se fosse o nenê?

Pensamento bobo, não precisava ser ninguém...

Noto que há pessoas que desenvolvem vocação para vítimas. Estou aqui para morrer no lugar da humanidade, parecem dizer. Estou pronta para ser imolada na pira sacrificial, meu chamado neste mundo é para sofrer, tudo bem, eu sofro resignada...

Essas pessoas atraem todo tipo de acidentes e situações estranhas. Convenhamos, um vespão não faz parte do ecossistema de nosso quintal, temos moscas, pernilongos, borboletinhas, pequenas aranhas, ocasionalmente até abelhas mas são mansas. Meu pai, antigo sertanejo, com experiência em bichos, analisou a vespona e disse que nunca tinha visto daquele inseto por nossos lados.

Claro, ela veio voando sob encomenda de minha mãe. Vespão delivery.

Seis pessoas numa sala e uma é picada. Poderia ser uma enorme coincidência, se não existissem pessoas que parecem que estão pedindo para serem picadas. É o caso de minha mãe, tudo acontece com ela.

Essas pessoas vivem dizendo justamente isso: tudo acontece comigo. Se falarmos que elas atraem, ficam zangadas conosco, então eu fico quieta. Mas acredito.

Deve ser algum monstruoso complexo de culpa, pessoas que acham que precisam expiar de algum modo seus mirabolantes pecados. Elas precisam sofrer, precisam pagar. Então haja insetos, cachorros bravos, assaltantes,chefes tirânicos, cônjuges cruéis, acidentes domésticos e de trânsito, a lista é grande.

É como se elas andassem com um cartaz pendurado ao peito: não presto, sou um lixo, bata-me, chute-me, maltrate-me.

Nos seus relacionamentos amorosos, é certeza que atrairão companheiros que as hostilizarão. Um após o outro.

Jesus disse que a verdade liberta. Conheçam a verdade, Ele disse, e a verdade vos libertará.
E ao pobre paralítico que foi colocado em sua frente, descido por cordas do telhado, ele perdoou os pecados antes de curar. Com esse gesto Jesus mostrou que uma alma atordoada pela culpa é tão ou mais sofredora do que um corpo entrevado.

Perdoe-se. Aquilo que você fez errado ontem, é passado, não volta, não há como consertar. Arrependa-se, corrija-se, siga em frente. Você não precisa pagar,não precisa sofrer, não precisa expiar, liberte-se dessa teologia da culpa, de pecado e de castigo.

E conheça-se. Antes de expulsar a legião de demônios ao pobre gadareno, Jesus perguntou-lhes o nome. Uma vez conhecido o nome daquilo que lhe atormenta, você já o desmascarou. Descubra um a um o nome de todos os demônios que você está hospedando, e ordene a eles que saiam de sua vida.

Complexo de culpa, fora daqui! Preguiça, indiferença, desamor, medo, ira...vá identificando e expulsando esses e outros bichos de sua vida, e saiba reconhecer suas manias para o caso de algum querer voltar. Líder religioso nenhum fará isso por você, por mais que muitos digam que sim.

Foi isso que o Mestre quis dizer quando falou que a verdade liberta. E quando você se sentir livre dessas vespas, quando você deixar de receber suas ferroadas, você entenderá de fato o que Ele quis dizer.

Alma leve, livre, em paz, reconciliada.Leveza. Foi esse o legado que o Mestre quis nos deixar.

Uma recomendação: antes de sair de sua vida, esses demônios emitem um último brado, terrível, não caia nessa, é truque, é para lhe assustar. É o grito da derrota, é sinal de que eles já perderam.

O ponto mais negro da noite fica a um tantinho da aurora.