O pão que hoje vou amassar, conta uma história que aconteceu numa fase tremendamente difícil de minha vida. Tendo recebido de não sei que psiquiatra o diagnóstico de bipolaridade, achei que podia resolver isso em sessões de terapia. Não resolvi muito, a terapia era cara, esses processos são demorados, no fim acabei abandonando aquilo tudo, e aprendendo a conviver com minhas deficiências, o que tenho feito até hoje, com a ajuda de Deus e de minha boa Dra.Elizabeth. Mas de uma maneira ou de outra, a terapia destampou o panelão de minhas más lembranças adormecidas, e isso ficou barafustando minha cabeça.
Foi então que, numa tarde magnífica de sol, saindo do elegante consultório, dei por mim em plena avenida movimentada, xingando um poste - sim, isso mesmo - um poste, como se aquele poste fosse o próprio Deus. Olhei para o poste, devia estar tremendamente descontrolada e disse: Olha aqui, Deus, fique sabendo... e mandei ver numa série de xingamentos, palavrões, blasfêmias e imprecações de todo tipo. Chorei, gritei, esbravejei, reclamei, ainda bem que ninguém me colocou numa camisa de força. A coisa toda levou uns 15 minutos. Terminada a cena, dirigi-me ao ponto de ônibus e voltei para casa, me sentindo super leve. Hoje acho graça da cena, e reflito que foi muito bom. Deus não deve ter se ofendido em absoluto com meus palavrões, mas eu precisava daquilo.
Tempos depois, lendo Adélia Prado, vi que ela tinha passado por situação igualzinha, ela teve um momento de sua vida em que sentiu forte necessidade de xingar Deus. Aprofundando um pouco mais a questão, li também que Jung, quando ainda pequeno, concebeu em sua mente um tremendo insulto a Deus, e como tinha medo de colocá-lo para fora, devido à religiosidade sua e de sua família, quase adoeceu. Foi quando ele se trancou no quarto, e deu vazão àquela necessidade, que o seu mundo se reorganizou.
Foi então que vi que não estava sozinha, e que de uma maneira ou de outra, pondo para fora ou não, muitos já passaram por esse tipo de inferno.
A reflexão do poste foi o meu inferno, necessário, aliás, para minha relação com Deus tomar seu rumo. Mas não aconselho ninguém a fazer isso na rua.
Mais leve foi a história de minha amiga Verônica. Cena: Eu, Mirian e Verônica no escritório. Os nomes são esses mesmos, provando que as coisas belas estão em toda parte. Eu trabalhava em silêncio, e Mirian conversava com Verônica: - Vê, você precisa chegar em casa, entrar no seu quarto, e levar um papo cabeça com Deus. A conversa acabou aí.
Mas no dia seguinte Verônica retomou o assunto: começou a contar como tinha sido a oração da véspera. Gesticulando muito, ela disse: - Eu me sentei na cama, e disse: - escuta aqui Deus... - não, não vou contar as queixas de Verônica, mas creia que eram enormemente parecidas com as suas e com as minhas. E ela gesticulava, e apontava o dedo indicador para baixo, representando ela na cama falando com Deus. Súbito, Mirian desanda a rir. - Vê, você está apontando para baixo, quando a gente fala com Deus, a gente aponta para cima, para o céu... Você estava falando com o capeta, não com Deus!!! E ambas riram muito. Confesso que ri também, mas intimamente discordei de Mirian. Creio que Verônica realmente falou com Deus. É que o Deus dela estava tão ausente, que ela só conseguia vê-Lo embaixo da cama mesmo. Talvez a raiva que ela sentia pela falta de respostas era tanta, que a impedia de situar Deus em um lugar digamos, mais elevado.
O que me leva, para finalizar, à ilustração de Normam Rockwell, onde há uma senhora e um garotinho rezando numa lanchonete, ilustração a meu ver das mais tocantes, principalmente para mim, que já fui protagonista de algo parecido. Foi o caso que minha tia Amélia me levou para tomar um lanche nas Lojas Americanas, no tempo em que se tomava lanche nas Lojas Americanas. A garçonete serviu a taça de sorvete, que eu já ia devorando, sôfrega, quando titia falou: - Espere, antes nós precisamos dar graças. Foi então que protagonizamos a bela estampa, titia numa linda e delicada oração, e eu morrendo de vergonha do que os outros iriam pensar, pois que naqueles tempos não era moda ser evangélico, creio que naquela época essa palavra nem existia.
Lembrar de tudo isso me traz muita comoção. E me faz constatar que, da tocante e tímida oração na lanchonete, ao surto do poste, passando por experiências iguais às do deus-diabo de minha boa amiga Verônica, tenho caminhado ao lado Dele, embora aos trancos e barrancos, acertando pouco e errando muito, em muitas vezes fazendo orações confusas e arrevezadas, nunca sabendo ao certo o que quero em minhas preces, e muito menos encurvando a cabeça para falar com Ele, pois que a maior parte de minhas orações se dá no metrô, no ônibus e principalmente no travesseiro, sendo que estas nunca terminam, o sono chega antes. Mas sigo em frente com minhas preces, espero que o Pai tenha paciência com essa filha que ainda não aprendeu a orar.
Foi então que, numa tarde magnífica de sol, saindo do elegante consultório, dei por mim em plena avenida movimentada, xingando um poste - sim, isso mesmo - um poste, como se aquele poste fosse o próprio Deus. Olhei para o poste, devia estar tremendamente descontrolada e disse: Olha aqui, Deus, fique sabendo... e mandei ver numa série de xingamentos, palavrões, blasfêmias e imprecações de todo tipo. Chorei, gritei, esbravejei, reclamei, ainda bem que ninguém me colocou numa camisa de força. A coisa toda levou uns 15 minutos. Terminada a cena, dirigi-me ao ponto de ônibus e voltei para casa, me sentindo super leve. Hoje acho graça da cena, e reflito que foi muito bom. Deus não deve ter se ofendido em absoluto com meus palavrões, mas eu precisava daquilo.
Tempos depois, lendo Adélia Prado, vi que ela tinha passado por situação igualzinha, ela teve um momento de sua vida em que sentiu forte necessidade de xingar Deus. Aprofundando um pouco mais a questão, li também que Jung, quando ainda pequeno, concebeu em sua mente um tremendo insulto a Deus, e como tinha medo de colocá-lo para fora, devido à religiosidade sua e de sua família, quase adoeceu. Foi quando ele se trancou no quarto, e deu vazão àquela necessidade, que o seu mundo se reorganizou.
Foi então que vi que não estava sozinha, e que de uma maneira ou de outra, pondo para fora ou não, muitos já passaram por esse tipo de inferno.
A reflexão do poste foi o meu inferno, necessário, aliás, para minha relação com Deus tomar seu rumo. Mas não aconselho ninguém a fazer isso na rua.
Mais leve foi a história de minha amiga Verônica. Cena: Eu, Mirian e Verônica no escritório. Os nomes são esses mesmos, provando que as coisas belas estão em toda parte. Eu trabalhava em silêncio, e Mirian conversava com Verônica: - Vê, você precisa chegar em casa, entrar no seu quarto, e levar um papo cabeça com Deus. A conversa acabou aí.
Mas no dia seguinte Verônica retomou o assunto: começou a contar como tinha sido a oração da véspera. Gesticulando muito, ela disse: - Eu me sentei na cama, e disse: - escuta aqui Deus... - não, não vou contar as queixas de Verônica, mas creia que eram enormemente parecidas com as suas e com as minhas. E ela gesticulava, e apontava o dedo indicador para baixo, representando ela na cama falando com Deus. Súbito, Mirian desanda a rir. - Vê, você está apontando para baixo, quando a gente fala com Deus, a gente aponta para cima, para o céu... Você estava falando com o capeta, não com Deus!!! E ambas riram muito. Confesso que ri também, mas intimamente discordei de Mirian. Creio que Verônica realmente falou com Deus. É que o Deus dela estava tão ausente, que ela só conseguia vê-Lo embaixo da cama mesmo. Talvez a raiva que ela sentia pela falta de respostas era tanta, que a impedia de situar Deus em um lugar digamos, mais elevado.
O que me leva, para finalizar, à ilustração de Normam Rockwell, onde há uma senhora e um garotinho rezando numa lanchonete, ilustração a meu ver das mais tocantes, principalmente para mim, que já fui protagonista de algo parecido. Foi o caso que minha tia Amélia me levou para tomar um lanche nas Lojas Americanas, no tempo em que se tomava lanche nas Lojas Americanas. A garçonete serviu a taça de sorvete, que eu já ia devorando, sôfrega, quando titia falou: - Espere, antes nós precisamos dar graças. Foi então que protagonizamos a bela estampa, titia numa linda e delicada oração, e eu morrendo de vergonha do que os outros iriam pensar, pois que naqueles tempos não era moda ser evangélico, creio que naquela época essa palavra nem existia.
Lembrar de tudo isso me traz muita comoção. E me faz constatar que, da tocante e tímida oração na lanchonete, ao surto do poste, passando por experiências iguais às do deus-diabo de minha boa amiga Verônica, tenho caminhado ao lado Dele, embora aos trancos e barrancos, acertando pouco e errando muito, em muitas vezes fazendo orações confusas e arrevezadas, nunca sabendo ao certo o que quero em minhas preces, e muito menos encurvando a cabeça para falar com Ele, pois que a maior parte de minhas orações se dá no metrô, no ônibus e principalmente no travesseiro, sendo que estas nunca terminam, o sono chega antes. Mas sigo em frente com minhas preces, espero que o Pai tenha paciência com essa filha que ainda não aprendeu a orar.