sábado, 29 de março de 2008

A oração de Rute




 “Onde quer que tu fores, ali irei eu, onde quer que pousares, ali pousarei eu; o teu povo é o meu povo, o teu Deus é o meu Deus. Onde quer que morreres, morrrerei eu e aí serei sepultada, e faça o Senhor o que bem lhe aprouver, se outra coisa que não seja a morte me separar de ti.”

Essa confissão está no contexto de uma história extremamente bonita, tanto que para contá-la, eu teria que assar um outro tipo de pão, o que pretendo fazer em breve. Por ora, vou fazer um breve resumo para poder situar os ingredientes desta massa:

Novamente, recorro aos relatos bíblicos, você já terá notado que eu gosto de relatos bíblicos não é mesmo? Nesta história, temos uma mulher chamada Noemi. Ela e seu esposo saíram de sua terra natal, Belém de Judá, em virtude da fome que havia naquele lugar, levando com eles seus dois filhos. Depois de um certo tempo, ela ficou viúva, e seus dois filhos se casaram com mulheres daquela terra estrangeira. O nome delas eram Rute e Orfa.

Porém os dois filhos de Noemi também morreram, e em meio a tanta tristeza, ela resolveu retornar à sua terra natal. A acompanharam até os limites da cidade as duas noras; ambas choraram muito na hora da despedida. Uma delas, Orfa, voltou para sua família. Rute, porém, não conseguiu se separar de sua sogra, e resolveu viajar com ela. Foi nesse contexto que ela fez a belíssima afirmação de compromisso que abre este texto.

Justamente por ser uma belíssima afirmação de compromisso, esse texto foi usado para compor um hino destinado a interpretação por coral, e que foi largamente utilizado em cerimônias de casamento na igreja protestante. Muitas moças no meu tempo conheciam sua letra até de trás para frente. Algumas também chegaram a recitar o texto, no momento da troca de alianças. Mães, avós, tias, amigas, todos choravam de emoção, era o momento culminante da cerimônia, tanto o cântico quanto a declaração de compromisso baseados no texto do Livro de Rute.

Eu, claro, como todas as outras moças, sonhava com o meu momento Rute. Perco a conta de quantas vezes idealizei minha cerimônia, mudando somente a aparência do noivo no sonho, que era sempre o afeto da vez. Idealizei tanto, mas tanto, que trago até hoje esse texto na ponta da língua, e eu não era diferente de nenhuma outra mocinha de minha igreja.

O vestido, eu sabia exatamente como seria, desde o tecido, o corte, o modelo, até os mínimos detalhes de miçangas e bordados. Igualmente as flores e o véu, tudo já estava perfeitamente desenhado em minha cabeça. Na verdade eu usaria três vestidos: um para entrar na igreja, outro para usar no buffet, e um vestido ou talvez um terninho para me despedir das amigas invejosas, partindo para a lua-de-mel. Devo ter visto isso num filme. Ou não. Não me lembro. Mas me lembro perfeitamente dos detalhes de meu figurino nupcial. Já tinha também completa a minha lista das músicas da cerimônia, tanto da entrada na nave, quanto da saída, da troca de alianças, e, é claro, Rute. Prometo colocá-las aqui.

Só que o meu casamento não aconteceu. Fui assistindo ao casamento de minhas amigas; uma a uma todas tiveram o seu momento Rute. Menos eu. Hoje não me envergonho mais de contar, mas na verdade tive apenas um único namorado, que terminou comigo dizendo que o nosso namoro atrapalhava seu relacionamento com Jesus. Tudo bem. Espero que Jesus tenha dado a ele aquilo que eu não dei.

Os outros não foram namorados. Foram sujeitos que só apareciam no meio da semana, ou nas noites de sexta, nunca nos finais de semana. Que nunca me levavam ao cinema, a um jantar, a um passeio enfim. Mas apenas ao motel. E o pior disso tudo, é que a tonta ia. Ia achando que, talvez quem sabe, ele viesse a gostar de mim, me assumir. Dava sexo para obter amor.

Por muito tempo, quando alguém me perguntava porque não me casei, eu dava respostas elaboradas, cultas, do tipo não tenho vocação para o casamento, aprecio demais minha solidão, acho que isso está até no meu orkut. Mentira. Nunca me casei porque ninguém nunca quis se casar comigo. Esses rapazes que apareciam em minha vida apenas para me usar, acabaram se casando com outras moças, não comigo.

Hoje quando vejo ao meu redor meninas enveredando pelo mesmo caminho, meu coração chora de tristeza. Sinto vontade de gritar: querida, não aceite isso em sua vida. Se um rapaz gosta de você realmente como diz que gosta, ele no mínimo deveria colocar em seu dedo um anel de noivado, assumindo publicamente, e com orgulho o seu amor por você, sua noiva. Mas deixar que rapazes acabem com a sua juventude e o que é pior, com a sua saúde, em motéis de quinta categoria, fazer amor numa cama de alta rotatividade? Diga não! Não troque os anos mais lindos de sua vida por uma nojenta cama de aluguel.

Sei o que elas diriam: se uma moça se torna difícil, os rapazes somem. Mas eu diria a elas que a evasão masculina antes de ser algo negativo, é sim um refinamento da busca. Se aquele jovem ama você, eu diria, ele irá persistir em lhe conquistar.

Uma ida ao motel é entrar na vida de alguém pela porta dos fundos. Num casamento, entramos pela porta da frente.

E ao contrário do que dizem muitas, de que um casamento é apenas um papel, desnecessário, o que importa é o amor, é o respeito, a convivência, eu afirmo e sei que mesmo essas mulheres que dizem isso concordam intimamente comigo: Um casal declarar o seu amor na presença de Deus, parentes, amigos e testemunhas, é lindo demais, por mais banalizadas que estejam as cerimônias de casamento.

Eu contaria tudo isso e terminaria dizendo a essas jovens: se um dia você tiver o seu momento Rute, e declarar seus votos de amor e fidelidade eterna ao seu amado, perante Deus, na presença de todos aqueles que você ama, mesmo que seja na mais simples cerimônia, você entenderá o que estou querendo dizer.