Papai do céu não deixa chover no natal amém.
Sim, eu sei, você que já me ouviu contar de orações semelhantes que eu fazia em minha infância, deverá achar que eu praticava uma fé de pronto socorro. E você terá razão. Minha mente atormentada por uma doença que naquela época eu desconhecia, nunca me permitiu fixar o pensamento em nada maior que uma frase. Mas relevem, apesar disso eu era pequena. Há muita gente grande que ainda pratica uma fé assim. E o meu pedido tinha um motivo muito especial, nosso bairro não tinha calçamento, se chovesse ficaria tudo enlameado, e seria complicado ir até a igreja com minha toalete toda branca.
Minha mãe que era a organizadora das festas em nossa igreja, cismava que todas as meninas usassem roupa branca completa no natal, e ela acabava convencendo todas as mães. Os meninos usavam camisas brancas. O meu vestido, claro, era sempre o mais bonito de todas as meninas porque, ora porque, porque minha mãe tinha enorme bom gosto, e fazia maravilhas com pouco dinheiro, faz até hoje.
Começávamos os ensaios da festa no início de outubro. Havia de tudo: peças, grupos de canto coral, solos, declamações de poesias e claro, as sempre tradicionais encenações da Anunciação e do nascimento de Jesus. A última apresentação era sempre uma peça mais elaborada, com os personagens usando roupas típicas do jeito que minha mãe imaginava que fossem, geralmente representado por moças e rapazes. Ficava bonito.
Tínhamos nos fundos da igreja um salão apropriado a esse tipo de festas, havia até um palco com cortinas vermelhas. Nos “bastidores”, ficava minha mãe sempre atenta, fazendo as vezes de ponto para as crianças que por acaso esquecessem suas falas. Em sua melhor roupa, ela era a apresentadora da festa, e o fazia com muita graça e descontração, qualidades que ela traz até hoje. Ela mesclava a apresentação alternando números de crianças pequenas e maiorzinhas, colocando também interpretações feitas por moças, geralmente poesias. Quando havia necessidade de algum intervalo para arrumação do palco, eram introduzidos os cânticos de natal, que eram entoados por todos os presentes, e que no nosso hinário evangélico eram os que iam dos números 1 ao 25, um mais lindo que o outro, são até hoje, felizmente a igreja metodista ainda os usa em suas liturgias natalinas.
Nunca soube o que era ganhar brinquedos no natal, meu presente era a roupa branca. Mas o meu presente maior sempre foi a festa, eu era incapaz de imaginar um natal que não fosse daquela maneira. Nunca esperei por peru, tender, guloseimas e panetones, creio que naquela época eu desconhecia essas viandas. Voltávamos para casa e íamos dormir, eu muito feliz trazendo o meu castiçalzinho dourado, cada criança ganhava um, juntamente com um saco de balas, eram os únicos presentes da noite.
Até meu pai se comportava bem nessa noite, ele inclusive auxiliava na preparação do palco, certa vez ele improvisou um poço de tijolos para uma peça chamada “As Belemitas”, que ficou lindo.
O ponto alto da festa era o cântico Noite de Paz que era entoado por toda a platéia juntamente com as crianças. Nós saíamos pelos fundos para o quintal da igreja, em meio ao mato naquela escuridão maravilhosa, e minha mãe com suas auxiliares iam colocando castiçais com velinhas acesas em nossas mãos. Os castiçais eram feitos de rolha e caixas de fósforos, encapados com papel dourado.
Entrávamos pelo centro do salão, e na frente nos dividíamos em duas fileiras, os meninos de um lado, as meninas de outra, e subíamos pelos degraus que nos levavam novamente ao palco. Apagavam-se as luzes, ficando só as luzes das velas, e a congregação se punha de pé, e juntos cantávamos o belo cântico de natal ao som do órgão desafinado, finalizando a festa. Aquele era o meu ponto alto, o momento que eu aguardava o ano inteiro. Meu coração estalava de emoção e felicidade.
Sim, eu sei, você que já me ouviu contar de orações semelhantes que eu fazia em minha infância, deverá achar que eu praticava uma fé de pronto socorro. E você terá razão. Minha mente atormentada por uma doença que naquela época eu desconhecia, nunca me permitiu fixar o pensamento em nada maior que uma frase. Mas relevem, apesar disso eu era pequena. Há muita gente grande que ainda pratica uma fé assim. E o meu pedido tinha um motivo muito especial, nosso bairro não tinha calçamento, se chovesse ficaria tudo enlameado, e seria complicado ir até a igreja com minha toalete toda branca.
Minha mãe que era a organizadora das festas em nossa igreja, cismava que todas as meninas usassem roupa branca completa no natal, e ela acabava convencendo todas as mães. Os meninos usavam camisas brancas. O meu vestido, claro, era sempre o mais bonito de todas as meninas porque, ora porque, porque minha mãe tinha enorme bom gosto, e fazia maravilhas com pouco dinheiro, faz até hoje.
Começávamos os ensaios da festa no início de outubro. Havia de tudo: peças, grupos de canto coral, solos, declamações de poesias e claro, as sempre tradicionais encenações da Anunciação e do nascimento de Jesus. A última apresentação era sempre uma peça mais elaborada, com os personagens usando roupas típicas do jeito que minha mãe imaginava que fossem, geralmente representado por moças e rapazes. Ficava bonito.
Tínhamos nos fundos da igreja um salão apropriado a esse tipo de festas, havia até um palco com cortinas vermelhas. Nos “bastidores”, ficava minha mãe sempre atenta, fazendo as vezes de ponto para as crianças que por acaso esquecessem suas falas. Em sua melhor roupa, ela era a apresentadora da festa, e o fazia com muita graça e descontração, qualidades que ela traz até hoje. Ela mesclava a apresentação alternando números de crianças pequenas e maiorzinhas, colocando também interpretações feitas por moças, geralmente poesias. Quando havia necessidade de algum intervalo para arrumação do palco, eram introduzidos os cânticos de natal, que eram entoados por todos os presentes, e que no nosso hinário evangélico eram os que iam dos números 1 ao 25, um mais lindo que o outro, são até hoje, felizmente a igreja metodista ainda os usa em suas liturgias natalinas.
Nunca soube o que era ganhar brinquedos no natal, meu presente era a roupa branca. Mas o meu presente maior sempre foi a festa, eu era incapaz de imaginar um natal que não fosse daquela maneira. Nunca esperei por peru, tender, guloseimas e panetones, creio que naquela época eu desconhecia essas viandas. Voltávamos para casa e íamos dormir, eu muito feliz trazendo o meu castiçalzinho dourado, cada criança ganhava um, juntamente com um saco de balas, eram os únicos presentes da noite.
Até meu pai se comportava bem nessa noite, ele inclusive auxiliava na preparação do palco, certa vez ele improvisou um poço de tijolos para uma peça chamada “As Belemitas”, que ficou lindo.
O ponto alto da festa era o cântico Noite de Paz que era entoado por toda a platéia juntamente com as crianças. Nós saíamos pelos fundos para o quintal da igreja, em meio ao mato naquela escuridão maravilhosa, e minha mãe com suas auxiliares iam colocando castiçais com velinhas acesas em nossas mãos. Os castiçais eram feitos de rolha e caixas de fósforos, encapados com papel dourado.
Entrávamos pelo centro do salão, e na frente nos dividíamos em duas fileiras, os meninos de um lado, as meninas de outra, e subíamos pelos degraus que nos levavam novamente ao palco. Apagavam-se as luzes, ficando só as luzes das velas, e a congregação se punha de pé, e juntos cantávamos o belo cântico de natal ao som do órgão desafinado, finalizando a festa. Aquele era o meu ponto alto, o momento que eu aguardava o ano inteiro. Meu coração estalava de emoção e felicidade.