- Mãezinha, eu estou com fome, você não?
Na verdade eu estava com fome sim, mas estava esperando: Um: que meu filho esquecesse, e Dois: usando o velho expediente aprendido com meu pai, que por sua vez aprendeu com sua avó:
- Está com fome? Faz o sinal da cruz e vai dormir, porque o sono alimenta.
Mas meu rapaz dava mostras de que não iria se conformar com esses rudes ensinamentos domésticos, o que me levou a fazer um levantamento do que a cozinha oferecia àquela hora da noite.
Pão, claro. Pão velho e seco. Na geladeira, uns ovos.
Idéia.
Faz assim: os pães você fatia com cuidado. Os ovos você bate como se fosse fazer uma omelete, bota bastante leite e açúcar, e bate bem para ficar uma mistura fofa. Coloca umas gotinhas de baunilha, tenha baunilha em casa.
Se tiver um vinho suave, e por sorte eu tinha, você os mergulha rapidamente no vinho e na sequência sobejamente na mistura de ovos.Cuidado para não desmanchar os pães.
E frita, com cuidado. Depois de colocados todos fritos na travessa, você polvilha generosamente com canela e não muito açúcar.
Quando eu conto que Elias está sempre passando por aqui multiplicando minha farinha e o meu azeite, é disso que estou falando: de um Deus que me agracia dia após dia com mãos multiplicadoras.
Porque é assim que você vai experimentar da bênção que é alegrar um filho com um prato de rabanadas literalmente arrancadas de sua cozinha, porque milagre é isso, é fazer sair alimento, leia-se solução, de onde alimento, ou solução, quase não há.
E eu tenho certeza de que todos vocês aqui entenderam que eu não estou falando só de rabanadas.